Thread by @apyus

O que Jair Bolsonaro e seus milicianos digitais fazem com a palavra “articulação” é coisa de canalha.

Ele sabe muito bem o significado da palavra, pois, para se eleger, articulou-se com evangélicos, forças policiais, mídia alternativa, agropecuária, mercado financeiro, etc.

Há coisa de um ano, eu lembro de apontar o caminho para uma articulação política. Bolsonaro nunca teve ideias econômicas, poderia ter deixado isso com o NOVO, nascendo uma coligação. Mas eles preferiam xingar Amoêdo de esquerdista.

Bolsonaro também tem zero ideias para a saúde. Poderia ter deixado isso com o PSDB, que tinha uma passagem histórica pelo Ministério da Saúde, mas preferiu xingar qualquer tucano de corrupto e socialista fabiano.

Ele tanto sabe o que é articulação que desde cedo se acompanhou de Onyx Lorenzoni. E não se furtou a entregar cargos ao DEM e até ao PMDB.

Quando a pauta é impopular, como uma reforma da previdência, cabe a um gestor oferecer alguma contrapartida a quem não está seguro sobre ela. E isso inclui mil formas, inclusive as honestas.

Parlamentares que se pautam pela educação terão interesse em atuar nas pastas ligadas à educação. E isso vale para todos os temas: segurança pública, saúde, economia, agropecuária, direitos humanos, etc.

Outra forma é “amaciar” temas sensíveis. Lembro de quando votaram uma redução da maioridade penal. Havia varios recortes, dos 10 aos 17 anos. O limite mais baixo a formar uma maioria era 16 anos. Foi o escolhido.

Mas não bastava o limite. Era preciso definir os crimes atingidos pelo recorte. Alguém percebeu que o consumo/porte de entorpecentes poderia levar muito garoto da periferia para a cadeia desnecessariamente, pois nada garantia alguma relação direta com o tráfico...

No que excluíram aquele trecho, o texto finalmente formou maioria e foi aprovado.

Durante toda a campanha, imprensa e eleitores perguntaram como um deputado federal que aprovou apenas dois projetos minúsculos em 28 anos conseguiria aprovar tudo o que um presidente precisava aprovar. E Bolsonaro escapou pela tangente SEMPRE.

Sabe por que? Porque Jair Bolsonaro é EXTREMA-direita. Isso significa que ele jamais cederá em alguma das suas ideias, nem mesmo no tom. Porque ele é radical. Ele não acredita no diálogo, na negociação, nem na divergência, nem maioria.

Como o político de extrema-direita que ele é, ele precisa impor a vontade dele pela força. Para isso, ele precisa destruir todas as forças que, numa democracia, servem de freio a políticos autoritários. E por isso Bolsonaro ataca a imprensa, Congresso, Suprema Corte, etc.

O que está se iniciando no Brasil é um projeto de ditadura. O que Jair Bolsonaro e Filipe Martins tentam fazer é um golpe de Estado ao estilo Hugo Chávez: passam anos corroendo todas as instituições até que elas não mais tenham força para contê-los.

Os críticos começaram a alertar que Hugo Chávez iria transformar a Venezuela numa ditadura ainda na eleição dele, no final dos anos 1990. O país só se consolidou como uma ditadura em 2017, dezoito anos após o chavismo chegar ao poder.

Bolsonaro não consegue disfarçar que deseja o mesmo. Para ele, não há problema em a Venezuela ser uma ditadura, o problema é ela ter sido de esquerda. Tanto que aplaude ditadores de direita no Paraguai, Chile, Europa, etc.

Isso também vale para esses milicianos digitais que alguns de vocês reverberam. Sabe qual foi minha primeira briga com eles? O documento da CIA que atestava 104 mortes de opositores no governo Geisel...

Eu tratei aquilo como o absurdo que é. Primeiro, disseram ser “fake news”. Quando provei a veracidade do documento, disseram que Geisel matou pouco, se tivesse matado mais, Dilma jamais teria sido presidente.

Então fica o recado: é com isso que vocês estão lidando. Minha dica é que essa “janela quebrada” tenha logo o vidro trocado. Sob pena de, diante da nossa preguiça, destruírem o prédio inteiro.

Confiram as garantias que Hugo Chávez dava na véspera de chegar ao poder na Venezuela.