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Todo dia alguém me pergunta o que aconteceu. Todo dia eu dou uma resposta diferente.
Mas venho me acostumando a responder que, em 2008, Barack Obama se elegeu alegadamente com a força das redes sociais. Não deve ter sido só isso, mas a narrativa deve ter disparado algum alerta no PT, que veio com um monte de "blog progressista" em 2010.
Como Lula se despediu com quase 90% de aprovação, o alerta deve ter ressoado na oposição, que de 2011 em diante passou a oferecer na web algumas narrativas distintas do mesmo noticiário.
Entre 2011 e 2013, essas "leituras alternativas" começaram a formar público. Havia o site antipetista, o liberal, o monarquista, o cristão, o militarista e o politicamente incorreto. E, no meio dessa pluralidade, havia também os olavistas, que desde cedo soavam os mais radicais.
Entendo junho de 2013 como uma rasteira que a extrema-esquerda (Movimento Passe Livre) passou na esquerda (PT). Mas essa briga resultou num tiro pela culatra. E aquele grito de "vem pra rua contra o aumento" resultou, em 2014, no "Vem Pra Rua" pelo impeachment de Dilma.
A reeleição de Dilma talvez seja o melhor exemplo de "vitória de Pirro" de nossa história. Os gráficos sobre as pedaladas fiscais mostram bem que o desarranjo durou do junho de 2013 à derrota de Aécio no ano seguinte. Era o PT se desesperando com a queda da própria popularidade.
Venceu. Mas a um custo tão alto que, um ano e cinco meses depois, seria afastada do cargo.
O impeachment era uma aposta segura porque, previamente, sabemos quem sentará na cadeira no momento seguinte. E o "Ponte para o Futuro" ofereceu um "plano de governo" a quem apostasse no afastamento de Dilma.
Contudo, o governo Temer se provou um fiasco na comunicação. Não tinha popularidade, não tinha a capacidade de oferecer um sucessor. O prazo acabaria em 2018. Quem sentaria na cadeira depois?
João Santana e Steve Bannon já tinham mostrado o caminho. Quando você não tem um candidato bom nas suas mãos, você alimenta a rejeição para fazer com que qualquer adversário soe pior. Pois bem...
Desde cedo, os olavetes tinham um nome em mente: Jair Bolsonaro. Mais do que isso, tinham disposição para encampar seguidos linchamentos virtuais de qualquer adversário interno aventado no noticiário.
De 2016 a 2018, essas milícias virtuais assassinaram a reputação de cada alternativa mais à direita do PT: João Doria, Joaquim Barbosa, Luciano Huck, Flávio Rocha, João Amoêdo, Ronaldo Caiado, Geraldo Alckmin, João Amoêdo, Marina Silva, Ana Amélia, ninguém escapou sem arranhão.
Ficou muito evidente também como, no primeiro turno, pouparam o PT nos ataques. Preferiram mirar Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin e João Amoêdo. Diziam não acreditar nas pesquisas, mas viam nelas que Fernando Haddad seria o adversário menos difícil.
Era ainda um plano incerto. Mas Adélio Bispo veio com um atentado fracassado que serviu de impulso a um bloco de indecisos. E Sérgio Moro liberou a delação de Palocci no instante em que as pesquisas passaram a dar uma vitória de Haddad no segundo turno.
Por fim, o apoio de Edir Macedo e do próprio governo Temer – não duvidem disso – selou a vitória para Jair Bolsonaro.
A verdade é que, ao menos desde 2006, mas também com um caso de sucesso em 1989, temos um sistema eleitoral disposto a premiar as campanhas mais inescrupulosas. Quem percebeu e apostou nisso se deu bem.
Quando essa crise passar – se é que algum dia passará – precisaremos rever isso. Ou voltaremos a ela na eleição seguinte.
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