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Será que a palavra ‘pássaro’ vem de ‘passar’ ?

É melhor pensar duas vezes antes de responder, pois nem sempre a origem das palavras é assim tão fácil.

É com você @bibliofernando
Ao verbo sapere, sabemos que ele passou a significar em latim também “saber”, por um curioso caminho: “ter sabor” é o mesmo que “ter gosto”, daí, figurativamente, “ter bom gosto”, donde “saber das coisas boas” e simplesmente “saber”.
Dr. @MarcosMairton e @ProfZi
De qualquer forma, esse verbo, no particípio ativo presente, gerou sapiens “que sabe” (donde o nome científico do ser humano, dado por Lineu em 1758, Homo sapiens).
Com a regra da apofonia e com o mesmo prefixo negativo in-, gera-se insipiens “que não sabe”, ou seja, “insipiente”, ...
...palavra muito destacada pelos gramáticos de cursos pré-vestibular, que alertam para sua grafia com s, distinta da de seu parônimo “incipiente”, que significa “que está começando”, que tem outra raiz, como se verá adiante.
No caso de passer, observamos que a palavra significava “pardal” e passou a significar simplesmente “pássaro”, de modo que, quando dizemos hoje que o sabiá é um pássaro não se afirma que o sabiá seja um pardal.
DOCENTE
O vocábulo docente veio do latim docens,­ docentis que era o particípio presente do verbo latino docere que significa ‘ensinar’.
Este verbo veio da raiz indo-européia dek,­ dak,­ de que dimanam, através de transformações materiais e semânticas, os verbos gregos dékomai,­ didásko,­ dókeo, com inúmeros derivados.
Docente seria aquele que ensina, instrui e informa. Sua datação, na Língua Portuguesa, seria de 1877.
DISCENTE
Uma pesquisa etimológica dá o vocábulo discente como originário do latim discens,­ discentis. Teria vindo do particípio presente de dísco,­ is,­ didìci/discìtum,­ èr,­ cuja acepção era ‘aprender, saber, estudar, tomar conhecimento’.
Segundo alguns estudiosos da ciência etimológica, é um frequentativo de dico: dico,­ dicsco significando começo a dizer, aprendo. Muito provavelmente tem uma ligação com docere, ensinar. Sua primeira ocorrência, talvez, tenha sido em 1899.
PEDAGOGO
Este vocábulo teve origem na língua grega: paidagógós,­ ou significando ‘escravo encarregado de conduzir as crianças à escola; preceptor de crianças, pedagogo’.
Da língua de Homero, o vocábulo vai para o latim em que é encontrado como paedagogus,­i com a acepção de ‘o que dirige meninos, aio,­ pedagogo, preceptor, mestre, diretor’.
Segundo alguns etimologistas, o vocábulo teria entrado na língua em 1589.
ESCOLA
Este vocábulo já era usado pelos gregos.
Na língua dos helenos, o vocábulo skholê,­ ês significava ‘descanso, repouso, lazer, tempo livre; estudo; ocupação de um homem com ócio, livre do trabalho servil, que exerce profissão liberal, ou seja, ocupação voluntária de quem, por ser livre, não é obrigado a; ...
...escola, lugar de estudo’; para comentários do ponto de vista semântico.
Passou para a língua latina onde era encontrado como schòla,­ scholae significando ‘lugar nos banhos onde cada um espera a sua vez; ocupação literária, assunto, matéria; escola, colégio, aula; divertimento, recreio’.
UNIVERSIDADE
Assinalam os estudiosos que o vocábulo veio do latim universìtas,­ universitátis significando ‘universalidade, totalidade; companhia, corporação, colégio, associação’; Historicamente o vocábulo seria do século XIV.
LENTE
Este vocábulo está em desuso. Significava professor de nível secundário e no espanhol o de nível superior. Foi encontrado no século XV e teria vindo do latim legens,­ legentis, significando o que lê. @bibliofernando
CATEDRáTICO
Este vocábulo foi largamente empregado, no passado, para significar o professor titular de uma determinada disciplina. Houaiss dá como originário de cátedra (cadeira) + -t- + –iço.
A palavra cadeira teria vindo do grego kathédra,­as com o significado de ‘que serve para sentar, assento, banco, fundamento’.
Entrou pelo latim como cathèdra,­ cathedrae ‘cadeira, assento, cadeira de professor, cadeira e funções episcopais’ com deslocamento do acento tônico, por via popular. Catedrático teria a datação de 1543.
INSTRUÇÃO
Já o vocábulo instrução se prende ao verbo instruir. Veio, como a maioria dos verbos portugueses, da língua latina.
Nela, tínhamos o verbo instrúere que se formou do prefixo in­ e do verbo strúere, no itálico vinculado ao tema STREU, alargamento de grau zero da raiz indo-europeia STER- cuja acepção era a de “estender, espalhar”.
Na língua de Cícero, strúere era entendido semanticamente como “amontoar materiais, ajuntar”.
L.A.R.APIUS, por exemplo, era como assinava um juiz ladrão as sentenças que vendia na Antiga Roma. Foi al-Kharizm o matemático que inventou os algarismos. E al-Faráb o persa que guardava antigos manuscritos.
O generalCrasso cometeu o primeiro erro crasso. Charles Boycott inventou o boicote.
O alemão Ferdinand von Zeppelin deixou seu nome no zepelim. Um militar chamado Filipe ensejou a palavra filipeta.
Tripalium designava instrumento de tortura, de três paus.
Alumnus, aluno, ealere, alimentar, são palavras do mesmo étimo.
Salário veio de salarium, pagamento feito em sal. Alvará veio do árabe al-baraat, e quer dizer quitação.
Tragédia procede de trágos, bode, em grego, porque nos rituais a deuses pagãos sacrificavam-se bodes.
O verbo pellere em latim significava “lançar, atirar”. O particípio passado era pulsus. Temos novamente a raiz pel- e o radical puls- com o mesmo sentido.
Com o prefixo ex-, que, como vimos, significava “para fora”, forma-se o verbo tardio expulsare “lançar para fora”, ou seja, “expulsar”.
O ato de lançar para fora era formado pelo acréscimo do mesmo sufixo –io, donde expulsio, que gerou a palavra “expulsão”, com s, porque vem de –sio, e não com ç, porque não vem de –tio.
Observe que com a raiz pel- também há o verbo expellere “lançar para fora”, ou seja, “expelir”.
Da raiz pel-, associada ao prefixo re- “para trás”, forma-se a palavra repellere “jogar para trás”, ou seja, “repelir”, que também poderia ter um particípio presente repellens “que repele”, “repelente”.
Com o mesmo prefixo, com o radical expandido e com um outro sufixo surgem palavras como repulsivo e assim por diante.
Parece estranho que antes dessas noções não fosse óbvio que expulsão, expelir e repelente tivessem algo em comum, mas o insight do conhecimento etimológico se constrói a partir de dados como esses.
Outro exemplo: capere significa “pegar” e tem raiz cap-. O particípio passado desse verbo era captus “pegado”. A partir do particípio surge um novo radical, capt-, donde se formou o verbo captare, inicialmente “ir pegando”, mas depois também “pegar”.
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