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Para além da crítica óbvia, há um aspecto que eu gostaria que meis colegas não deixassem de ver e sobre o qual não deixassem de pensar. Thread.
Se é verdade que a suspeita sobre as humanidades tem certa origem numa mentalidade que ultrapassa a situação específica do Brasil e o anti-intelectualismo da nossa nova elite política, só isso não explica todo o fenômeno.
Durante os últimos 30 ou 40 anos, mesmo os professores e pesquisadores de excelência nas humanidades brasileiras - e há muitos - não fizeram o mínimo esforço para denunciar e se afastar daquelea colegas que eram ineptos e militantes políticos.
Isso porque estes últimos serviam, ainda que difusamente e não obstante fossem academicamente fracos, ao "bom combate" da esquerda universitária com o qual os bons obviamente concordavam, ainda que não perdessem tempo de estudo militando.
Os realmente bons em suas respectivas áreas, embora não respeitassem intelectualmente os militantes, suportavam e, por vezes, até apoiavam a militância que estes faziam por aqueles.
Pois bem, o resultado é que agora ninguém dessa nova elite política tem a menor disposição de olhar criticamente para a universidade, e sobretudo para as humanidades, a fim de separar o que é gente academicamente boa dos meros agitadores políticos.
Dito de outro modo, os bons - que, novamente, são muitos - agora gostariam de contar com o olhar crítico e suprapolítico da nova elite política. Justamente o que, por certo interesse, não sustentaram eles mesmos nas últimas décadas.
Não espanta, portanto, que Bolsonaro e sua trupe não tenha a menor simpatia e o menor discernimento ao olhar para a universidade. Eles a vêem como uma massa homogênea e os professores daquelas gerações têm boa parcela de responsabilidade nisso.
Fica uma previsão: se a "nova-direita", em nome da pretensa ajuda que os estúpidos dão à causa, não fizerem o que aqueles bons não fizeram, no futuro próximo será ela a vítima do mesmo julgamento em bloco.
