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Brasil tem em torno de 3300 salas de cinema enquanto há 40 mil nos EUA. Escassez leva a decisões difíceis. Do ponto de vista do dono de cinema, é muito melhor ter uma programação variada para atrair o máximo de público possível. Tagarelo mais abaixo.
Mas como fazer com demandas diferenciadas? Se o filme X atrai 200 pessoas para o seu cinema e você só tem duas salas de 100 lugares, acomodar o filme Y que traz apenas 50 pessoas é perder dinheiro.
Os multiplex de shoppings em grandes cidades brasileiras costumam ter bem mais que duas salas e estas têm tamanhos e características diferentes principalmente por esse motivo: acomodar várias demandas de diferentes magnitudes.
Concentração temporária de mercado em torno de um filme pode ser vista de duas formas. A primeira é quantas salas ele domina. A segunda é quanto ele arrecada em comparação com os demais.
Se Vingadores acaba penetrando em 90% dos cinemas brasileiros, ele está obviamente dominando. Com a escassez de salas no Brasil, é fácil ver a dinâmica: Vingadores traz mais gente, então é melhor apresentá-lo no maior número possível de salas.
Um argumento a favor de fazer algo contra essa dominância vem da ideia de que a demanda é controlada pela oferta: se 90% dos cinemas oferecerem o filme, ninguém se importaria em ver outra coisa.
Esse argumento é falso. Nos EUA, onde a escassez de salas dificilmente pode ser considerada um problema (repetindo, há 40 mil salas comerciais no país), qual foi o percentual de bilheteria de Vingadores nos dois primeiros dias? 89%.
Ou seja, mesmo com inúmeras outras opções, o público americano foi em massa ver Vingadores. E isso com pelo menos outra dúzia de filmes em "wide release" (mais de 1000 lugares). É razoável supor que a demanda brasileira é similar.
A não ser que você force os cinemas a perder dinheiro (não adianta dar mil salas para o coitado do filme nacional -- se a pessoa não puder ver o que quiser ela fica em casa, cinema é bem substituível), não há forma de reduzir essa concentração.
Claro que se as distribuidoras fizerem chantagem para concentrar o filme mais do que a demanda orienta isso seria uma prática predatória. Mas não há provas de que isso esteja acontecendo. Pelo contrário: a demanda pelo filme é imensa até quando o público tem inúmeras opções.
Um ponto adicional que talvez pouca gente perceba. Públicos enormes sazonais por vezes são imprescindíveis para o faturamento geral de uma empresa. Lotar trocentas sessões de Vingadores viabiliza a exibição de filmes mais arriscados em outros momentos do ano.
Um exemplo é a Feira do Livro na USP. Um monte de editoras pequenas faz caixa para metade do ano ou até mais ali. Motivo: as milhares de pessoas que vão pensando em comprar livros de editoras grandes entram em contato com os livros das pequenas pela primeira vez.
Da mesma forma, publicar um livro que venderá muito (inclusive vendas para o governo, que também salvam muitas editoras) viabiliza publicar coisas de nicho que só darão retorno em dez, vinte anos, isso se um dia derem.
Esse raciocínio é usado o tempo todo para justificar o entusiasmo que sentem com os filmes nacionais besteiróis da Globo que caem no gosto do público. "Ajuda o cinema nacional", dizem. De fato, mas aí quem reclama são os independentes.
A espiral de reclamação nunca acaba, todo mundo reclama do peixe maior que encontra pela frente. Defender um peixe contra o outro é uma decisão de preferência política e não de eficiência econômica.
