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Neste 31 de março, completam-se 55 anos do Golpe Militar de 1964. O presidente Jair Bolsonaro instruiu os quarteis a comemorar a data junto com a população. Aproveitando o ensejo, segue essa thread com “realizações” da ditadura militar
1 - O estopim do golpe foi a deposição de João Goulart, que estava longe de ser um comunista. Segundo a UDN, o Brasil viraria uma nova Cuba. Seu governo era uma social democracia clássica bit.ly/2TMtmSi
2 - A burguesia se revoltou contra as chamadas reformas de base: agrária, política, fiscal e tributária. Com medo de perder privilégios, sacaram Jango com apoio dos EUA bit.ly/2FF0eYa
3 - As reformas de base idealizadas por Jango, instrumento para modernizar o país e introduzir o Brasil num capitalismo moderno e democrático eram apoiadas por 59% da população bit.ly/2U5bzLm
4 - Os militares que disseram NÃO e foram CONTRA a ditadura militar bit.ly/2U92tNo
5 - Recentemente, jornalistas e historiadores descrevem o golpe de 1964 de modo mais complexo, com extensa participação de setores da sociedade civil no processo de construção e legitimação da tomada de poder pelos militares
6 - Entre os civis de tradição liberal, a ideia da intervenção militar foi sendo reforçada por meio de um imaginário anticomunista - construído desde a primeira metade do século XX. O anticomunismo expressava o medo de ideologias críticas ao capitalismo
7 - No governo Goulart, foi promovida uma campanha de deslegitimação de suas iniciativas de participação sindical e popular. Isso era associado com a degeneração moral da sociedade, com a quebra de hierarquias da sociedade “cristã e ocidental”, e com o fim da propriedade privada
8 - O elo da FIESP com os porões da ditadura bit.ly/2CO8AMq
9 - Como o presidente da Ultragás, Henning Boilesen, ajudou a financiar a Operação Bandeirante bit.ly/2OD6rYW
10 - Lei de imprensa, criada em 1967 para cercear jornalistas, só foi revogada em 2009 bit.ly/2WkaQlY
11 - Há exatos 55 anos iniciava-se o maior período ditatorial da história brasileira. Uma ditadura que matou 434 pessoas e exilou de 5 a 10 mil brasileiros, segundo o Memorial da Democracia bit.ly/2FL0mXh
12 - Para eliminar adversários, a ditadura usou de vários artifícios, mesmo contra pessoas sem atividade política alguma. A maioria foi morta em fuzilamentos (no caso da guerrilha rural) e torturas (no caso da guerrilha urbana. Entre as principais formas de tortura, estavam:
13 - Pau-de-arara: a vítima era presa a uma barra de ferro abraçando os pés e os joelhos com as mãos amarradas e, então, pendurado entre dois cavaletes, ficando nessa dolorosa posição enquanto era queimado com cigarros, recebia choques elétricos ou era espancado
14 - Cadeira do dragão: a tortura consistia em sentar os presos nus em uma cadeira elétrica de zinco enquanto estes recebiam descargas elétricas que percorriam todo o corpo e, muitas vezes, suportavam as sessões com um balde de metal sobre a cabeça
15 - Balé no pedregulho: o torturado ficava nu e descalço em um ambiente gelado, com o chão coberto por pedregulhos que feriam os pés enquanto era molhado com água gelada. O método tem esse nome por que as vítimas “dançavam” sobre as pedras para aliviar a dor na sola dos pés
16 - Telefone: aqui os torturadores aplicavam violentos golpes com as mãos em posição côncava sobre os ouvidos das vítimas causando o rompimento dos tímpanos e, também, a perda da audição;
17 - Soro da verdade: o soro da verdade consistia em uma dose de pentotal sódico, uma substância de efeito duvidoso que supostamente era capaz de reduzir as inibições dos torturados além de provocar sonolência.
18 - Rato no ânus/vagina: nos homens, um rato faminto era colocado no ânus dos homens; se o preso era uma mulher, o animal era introduzido na vagina (Dilma foi torturada assim)
19 - Os corpos eram jogados no mar ou enterrados em cemitérios clandestinos. O mais famoso deles ficava em Perus, na zona norte de São Paulo. Lá foram encontrados restos mortais de 1049 pessoas bit.ly/2Ug29Ml
20 - Um dos casos mais simbólicos de tortura foi do estudante de Economia Edgar Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel. Ele foi arrastado por um carro com a boca no escapamento do automóvel e morreu asfixiado.
21 - Outro caso famoso é do deputado Rubens Paiva: Torturado e assassinado quartel militar entre 20 e 22 de janeiro de 1971, seu corpo foi enterrado e desenterrado várias vezes até ter seus restos jogados ao mar, em 1973, dois anos após sua morte
22 - Sequestros de bebês: uma das maiores atrocidades da ditadura bit.ly/2HOYYoU
23 - Os soldados brasileiros torturados durante a ditadura militar bit.ly/2FBK9CH
24 - Ditadura idealizou modelo atual das milícias bit.ly/2HSYYDz
25 - Em 1950, metade dos brasileiros era analfabeto – os índices eram maiores entre os mais pobres, na zona rural (onde vivia 60% da população) e no Norte e Nordeste. A evasão escolar também era alta: apenas 15% dos matriculados na 1ª série conseguiam concluir o curso primário
26 - A escola secundária servia aos interesses das elites, com difíceis exames de seleção. A Lei Orgânica do Ensino Secundário (de 1942) tinha currículo voltado para a formação moral, domínio da linguagem e eloquência. Uma escolarização focada nos grupos sociais privilegiados
27 - A seleção era elitista: vagas eram obtidas num exame de admissão, realizado ao final de cada ciclo: “ginasial” (atual ensino fundamental II) e “colegial” (atual ensino médio). Cursar ensino técnico não permitia ingresso no colegial, única porta de entrada ao ensino superior
28 - Analfabetismo era de 28% na ditadura – hoje é de 6% bit.ly/2TAJPJs
29 - Investimento em educação era de 3% do PIB – hoje é de 6% bit.ly/2TAJPJs
30 - Maurício de Souza: Ditadura queria que eu parasse com a revista do Chico Bento por causa do sotaque caipira dele bit.ly/2HXx49y
31 - Como a ditadura tentou suprimir o movimento negro brasileiro bit.ly/2TZIBMG
32 - A repressão focava “subversivos” e “comunistas”. Mas havia controle moral contra comportamentos sexuais “desviantes”. Homossexuais, travestis e prostitutas eram tidos como “perversos”, ou “anormais”, sendo alvo de perseguição, prisões, expurgos de cargos públicos e censura
33 - Apesar de o discurso da liberação sexual ter repercutido no país, a intensa repressão aos movimentos sociais que contestavam o regime ditatorial, especialmente após o AI-5 em 1968, freou as possibilidades de organização das pessoas LGBTs
34 - A discriminação estendeu-se ao trabalho. Em 1969, a “Comissão de Investigação Sumária”, foi instalada no Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). Seu objetivo era a repressão a homossexuais, alcoólatras e a pessoas consideradas emocionalmente instáveis, dentro do MRE.
35 - Em 1969, após o AI-5, o MRE formulou uma lista que culminou com a cassação de 44 funcionários, a maior da história do Itamaraty, sob a acusação de afrontarem os valores do regime em suas condutas na vida privada.
36 - Dentre 15 pedidos de exoneração, 7 tinham como justificativa a “prática de homossexualismo” e a “incontinência pública escandalosa”. Outros 10 diplomatas suspeitos deveriam passar por exames médicos e psiquiátricos e, se comprovadas as acusações, eles também seriam afastados
37 - Após o golpe de 1964, um novo período econômico intensificou-se com construções de grandes obras em todas as regiões do país, e no caminho desses projetos inúmeros povos com suas terras, reconhecidas ou não, passaram a ser tratados como obstáculos para o desenvolvimento.
38 - Embora o discurso e os objetivos continuassem voltados para o protecionismo e a assistência aos índios, na prática, a política indigenista foi militarizada e tratada como questão de segurança nacional nos inúmeros conflitos que se acirraram pelo país.
39 - A questão indígena em 1976, por exemplo, era caso a ser tratado diretamente na Presidência da República, momento em que o cacique Ajuricaba e o povo Waimiri-Atroari lutava contra a construção da BR-174 e os projetos do governo em suas terras na Amazônia
40 - A abertura da rodovia Transamazônica BR-230, planejada para cortar o Brasil transversalmente, da fronteira com o Peru até João Pessoa na Paraíba, afetou de maneira trágica 29 grupos indígenas, dentre eles, 11 etnias que viviam completamente isoladas.
41 - Projetos como a construção das hidrelétricas de Itaipu e de Tucuruí, no Rio Tocantins, e a criação do maior latifúndio do mundo no norte do Mato Grosso, em terra indígena Xavante, expulsaram centenas de comunidades e provocaram milhares de mortes nas aldeias.
42 - Documentos e relatos colhidos pela Comissão Nacional da Verdade apontam mortos em conflitos e em remoções forçadas, crises de abastecimento, epidemias inoculadas propositalmente. Esse foi o caso no sul da Bahia – citado no Relatório Figueiredo.
43 - O próprio diretor do SPI estava envolvido no massacre dos Pataxós para a tomada de suas terras, produzido pela inoculação de varíola em seus membros, ou também trazidas pelos trabalhadores contratados para a construção das rodovias acima mencionadas
44 - Nostálgicos da ditadura dizem que “no tempo dos militares não havia corrupção”. Por conta da censura, muitos escândalos sequer chegavam aos jornais. Mas alguns foram publicados por jornais longe de serem “subversivos” ou “comunistas”. Alguns deles até tinham apoiado o golpe
45 - O Ato Institucional Nº 5 prometia dureza contra os corruptos. Mais de 1.100 processos foram instaurados pela Comissão Geral de Investigações, ligada ao Ministério da Justiça, mas desse montante apenas 99 casos chegaram a algum termo, como confisco de bens dos envolvidos
46 - No início do governo Geisel, explodiu “escândalo Lutfalla”: empréstimo de dinheiro público para uma empresa em situação de falência. A empresa era de propriedade do sogro de Paulo Maluf, influente nos meios militares, sobretudo com o grupo em torno de Costa e Silva e Médici
47 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) negou o empréstimo, mas foi obrigado a fazê-lo por “ordens superiores”. Divulgado em 1977, o caso foi investigado em 1980, mas a CPI do caso foi arquivada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
48 - Já no governo Figueiredo, em 1983, a quebra do grupo Coroa-Brastel fez surgir denúncias de que os ministros Delfim Neto (Planejamento) e Ernani Galveas (Fazenda) teriam desviado empréstimos concedidos pela Caixa Econômica Federal.
49 - O caso foi aberto na justiça em 1985 e julgado 9 anos depois. O ex-ministro Galveas teve a denúncia rejeitada e Delfim Neto, deputado federal à época, gozou de imunidade parlamentar e não foi a julgamento. Ao falir, o grupo deixou 34 mil investidores financeiros sem receber
50 - Os dois ministros, além de Mário Andreazza (ministro do Interior), também foram envolvidos no “caso Delfin”. A Delfin operava investimento popular ligado ao mercado imobiliário, tinha negócios com o Banco Nacional de Habitação (BNH), criado para viabilizar moradias populares
51 - As relações entre a Delfin e o BNH envolveram uma negociata com terrenos superfaturados, no qual o banco quitava uma dívida da empresa, determinando um preço cerca de seis vezes superior ao do mercado para os terrenos entregues
52 - O montante envolvido no escândalo não era pequeno: 200 milhões de dólares. O caso foi denunciado por funcionários do BNH à Folha de S. Paulo. Ao envolver nomes poderosos do regime, abalou o já frágil quadro político do governo Figueiredo
53 - Mais uma vez a fórmula se repetia: diretores do BNH e funcionários técnicos de carreira eram contra a operação superfaturada e lesiva aos cofres públicos, mas tinham que obedecer a “ordens superiores”. Do ponto de vista legal, nada avançou, apesar dos processos
54 - Conheça 10 casos de corrupção ocorridos durante a ditadura militar bit.ly/2UqHWTQ
55 - Diplomata foi morto antes de denunciar superfaturamento na construção de Itaipu glo.bo/2HJqOTB
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