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#60Jogos60Copas: a história de 60 partidas marcantes da Libertadores no ano em que ela chega a 60 edições. No episódio de hoje, um jogo que tem fortes argumentos para ser O MELHOR DA HISTÓRIA da competição: Boca Juniors 5x3 Olimpia (6x7 nos pênaltis) em 1989.
O #60Jogos60Copas, você já sabe, corre ao longo de 2019 recordando - em threads como esta - a história de 60 partidas QUE NÃO FORAM FINAIS. Em parceria com o @punterobr, alguns jogos viram também textos que vão além da thread. É o caso de hoje. Leiam: medium.com/puntero-izquie…
A partida recordada hoje aconteceu pouco tempo depois da grande marmelada vivida pelo Olimpia contra o Sol de América, que recordamos na semana passada. Passada aquela vergonha, a campanha olimpista se encheu de épicos - a começar pela jornada da Bombonera
Se o Olimpia vinha de uma fase de grupos ruim que, além da marmelada, incluiu uma classificação em 3º lugar com mais derrotas que vitórias, a situação do Boca era oposta: líder do seu grupo, chegava aos mata-matas da Libertadores vivendo uma espécie de RESSURGIMENTO continental.
O Boca nunca havia passado tanto tempo sem sair dos grupos - e nunca mais voltaria a viver jejum semelhante. Sua última classificação datava de 79 (quando foi vice do próprio Olimpia). Nas participações seguintes, sempre caíra na 1ª fase. Em 1989, finalmente voltou a superá-la.
A própria forma como o Boca chegou à Libertadores era curiosa: nem ele nem o outro argentino (o Racing) eram campeões de seu país. Com a Argentina fazendo a transição para o calendário europeu, os times de 89 foram os melhores na PRIMEIRA METADE da temporada 88/89 - eles dois.
A incongruência das tabelas levaria a Argentina a desmembrar o campeonato em Apertura e Clausura como torneios independentes, fórmula que vigorou de 1991 até 2014. Em 88/89, porém, entraram os melhores da metade jogada em 88 - sem o título, que acabaria nas mãos do Independiente.
Seja como for, o fato é que o Boca estava na Copa 89, venceu seu grupo, e logo nas oitavas acabou colocado em um confronto TITÂNICO porque o Olimpia havia passado mal. E ser líder pouco adiantou aos argentinos: no Paraguai, o Olimpia aplicou 2x0 na ida e ficou em boa vantagem.
Mas a distância tirada pelos paraguaios no 1º jogo era apenas um PRELÚDIO do que acabaria acontecendo na Bombonera, na noite de 12 de abril de 1989, quando a Argentina estava mergulhada em mais uma das suas crises e às vésperas de uma eleição que definiria sua década seguinte.
Tinha até propaganda eleitoral na Bombonera naquela noite (leia mais sobre tudo isso no texto do @punterobr). O presidente do Boca Juniors apoiava Angeloz, o candidato da situação - que acabaria derrotado por Menem.
No jogo propriamente dito, a coisa começou maravilhosa para o Olimpia: com 16 minutos, Mendoza meteu de cabeça para fazer 1x0 naquela noite e 3x0 para os paraguaios no agregado.
(em todas as threads, vale a velha recomendação: sempre estará linkado o mesmo vídeo, mas em cada tweet ele já estará marcado no tempo correto do lance que está sendo citado)
Apenas DOIS MINUTOS mais tarde, aos 18, o próprio Mendoza veio fazendo fila desde o meio-campo e atravessou a bola para Amarilla repetir o placar da ida: o Olimpia fazia 2x0 na Bombonera e "irrecuperáveis" 4x0 no agregado.
Perdendo por 4x0 na soma dos jogos.

Foi aí que o Boca Juniors, depois de uma década fracassada que apagou suas velhas glórias na Libertadores, começou a lembrar um pouco do que diabos sua mística era feita.

E começou a construir uma remontada para todos os tempos.
Aos 22 minutos, Walter Perazzo aproveitou uma sequência de falhas defensivas do Olimpia para descontar, batendo entre as pernas do lendário Ever Hugo Almeida.
Cinco minutos mais tarde, aos 27, o Olimpia ficou em inferioridade numérica ao perder seu destaque na noite: Mendoza, que já tinha amarelo, recebeu outro e foi expulso. Cedo no jogo, abria-se o caminho para a sonhada virada que fazia a Bombonera vibrar.
Ou não, porque na prática as coisas nunca são tão simples como se gostaria, e o Boca não conseguiu sequer empatar antes do intervalo.

No ENTRETIEMPO, o Olimpia seguia vencendo por 2x1 em Buenos Aires, 4x1 quando se somava o placar de Assunção.
Na volta dos vestiários, uma nova ESTOCADA. Logo aos 3 minutos, Perazzo (sempre!) insiste, chuta na zaga, bate de novo, acerta a trave, e a bola finalmente volta para Villarreal marcar o 2x2.
Parecia que as coisas finalmente estavam se encaminhando, mas viradas épicas não são são dignas desse adjetivo sem que o sofrimento SE PROLONGUE - e lá foi lá o Olimpia e fez 3x2 após rebote de NAVARRO MONTOYA. Amarilla, de novo, queria sentenciar o jogo.
Navarro Montoya, ainda no início de seus longos dias em La Boca, eventualmente viria a vestir esse famoso uniforme.
Pois bem. O Boca chegou até os 25 do 2º tempo, os 70 de jogo, levando 3x2 em casa.

5x2 a favor do Olimpia no agregado.

Aí, sim, foi a hora de fazer história.
O primeiro gol foi um pênalti, que Comas converteu, deixando o Boca a dois de forçar uma definição também por penais - na época, não havia gol qualificado, e era preciso igualar o agregado. Que, naquela altura, era Boca 3x5 Olimpia.
Com um a menos, o regulamento embaixo do braço e uma Bombonera rugindo ao seu redor, o Olimpia apostou na retranca. E o Boca virou TODO ATAQUE. Tanto que o gol dos 4x3 (4x5 no agregado), aos 41 do 2º tempo, foi de um zagueiro que subiu: o uruguaio Tavares.
Sem saber que era impossível, o Boca foi lá e fez: o time que levava 5x2 no agregado a 20 minutos do fim do mata-mata chegou ao 5x5 aos 43 do 2º tempo, por obra de (adivinha quem?) Walter Perazzo. Era Boca 5x3 Olimpia na noite, empate na soma. Uma loucura.
Repare que o gol de Perazzo que iguala as coisas e produz um terremoto na Bombonera nasce de um ESCANTEIO CURTO, provavelmente o único registro conhecido de um escanteio curto que efetivamente funcionou em um jogo importante de Libertadores.
Cenas inacreditáveis se produzem na Bombonera.

Velhos olham para os céus e dizem que podem morrer em paz.

Pais olham para os filhos e finalmente têm argumento para dizer que torcer para o Boca não era um erro.

Até Maradona, em Nápoles, deve ter derramado uma lágrima.
Não houve tempo para mais. O Boca Juniors produzia uma das viradas mais ICÔNICAS da Libertadores, fazia 5x5 no agregado após sair levando 0x4, e forçava pênaltis.

Que não acabariam tão bem, é verdade, mas jamais apagaram o feito daquela noite.
Nos pênaltis, a história seria outra, e quem brilharia seria Ever Hugo Almeida - o homem que mais partidas de Libertadores disputou na história (113), e que naquela mesma Copa ainda acabaria com os sonhos do Inter, cobrando e defendendo penais, como fez na Bombonera naquela noite
Os pênaltis teriam suas próprias reviravoltas. Na segunda série, quando o Olimpia vencia por 2x1 (Almeida já havia convertido o seu), o arqueiro paraguaio mostrou que os heróis do tempo normal não vivem muito - e parou o chute de Perazzo.
Os gols seguiram saindo. Até que, na quinta cobrança, a que deveria selar a classificação do Olimpia, Navarro Montoya DEFENDE COM UMA MÃO SÓ o chute de Miño e mantém o Boca no jogo - na cobrança seguinte, Tapia faz 4x4 e força as alternadas.
TUDO PARECE VIRAR a favor do Boca quando, na primeira cobrança alternada, Portela isola . O êxtase na Bombonera é tão grande que fotógrafos e gandulas invadem o campo como se tudo já estivesse terminado. Navarro Montoya quase os EXPULSA A PAULADAS (ns)
Só que o Boca ainda não havia vencido: estava 4x4, faltava bater a sua para confirmar a classificação.

E, então, outro dos autores de gol do tempo normal se vê incapaz de converter nos pênaltis: Villarreal é vítima da segunda defesa de Almeida.
Os pênaltis avançam até a NONA cobrança de cada lado. Jorge Guasch assinala 7x6 para o Olimpia... e mais um dos heróis do Boca no tempo normal acaba impedido de celebrar novamente: Tavares perde a última de todas, na TERCEIRA defesa do gigante Almeida.
O 7x6 manteve o Olimpia na Libertadores e prolongou sua condição de BESTIA NEGRA do Boca Juniors: como havia feito na final de 1979 e voltaria a fazer nas quartas de 2002, também em 1989 os paraguaios levaram a melhor sobre o clube da Bombonera.
O Olimpia seguiria naquela Libertadores com outros jogos agônicos, inclusive a final que acabaria perdendo: seria o primeiro clube a acabar vice-campeão após fazer 2x0 na ida, caindo pelo mesmo placar na volta contra o Atlético Nacional e sendo superado (agora sim) nos penais.
Para o Boca, aquela foi uma Libertadores encerrada nas oitavas. Mas, graças aos 5x3, à virada impossível, foi também muito mais do que isso. Foi uma espécie de renascimento após uma década de irrelevância no continente. O reinício da mística.
Em novembro daquele mesmo 1989, o Boca se tornaria o primeiro clube a derrotar o Independiente em uma final sul-americana: e levaria para casa a Supercopa da Libertadores, que reunia os velhos campeões da América.
Isso, claro, toda uma outra história. Esse capítulo de #60Jogos60Copas se encerra por aqui, não sem antes convidar outra vez o leitor a comparecer no @punterobr e ler mais sobre esse jogo improvável que fez 30 anos neste mês: medium.com/puntero-izquie…
Marcha do placar na arte de @caixeta_28

(o segundo gol de Amarilla foi aos 12 do 2º, faltou dizer aqui na thread)
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