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Ontem o gado bolsolavista começou a dizer que os militares são de esquerda e que o Soros manda no Burger King. Até outro dia os militares eram a última defesa do cidadão de bem contra o comunismo e o Burger King era um rubi na coroa das maravilhas do capitalismo global.
A mentira e a ficção são constantes na construção da ideologia do bolsolavismo, incluindo essas guinadas absolutamente malucas. O que me surpreende é como tanta gente aceita tudo isso sem questionar, subindo hashtag atrás de hashtag, engajado num clima vexatório de adulação.
Eu ainda penso que tudo isso pode ser algum estratagema a la Vladislav Surkov (propagandista do Putin). Ser criticado pelo guru caquético agrega valor aos militares. Comprar briga com general, depois de anos servindo ao clube militar, dá mais poder ao guru e ao presidente.
Por outro lado pode se tratar de um esforço genuíno para insuflar um tenentismo bolsolavista, a tentativa de formar uma nova elite militar dócil e servil aos interesses do grupinho e da familícia. E talvez o pivô disso seja o impasse em relação à Venezuela.
Os militares, por outro lado, passaram toda a eleição sendo chamados de pivôs de instabilidade política (como sempre o foram na nossa História) mas conseguiram projetar uma imagem poderosa de "adultos na sala". Miragem ou ilusão, ela está aí, inclusive fora do Brasil.
Se o governo é sua própria oposição, a oposição (real e ampla), tende a ter sua imagem e sua relevância reduzidas. Bolsonaro foi apenas o veículo da coalizão de direita que venceu as eleições, não foi seu líder. Talvez a explicação esteja aí.
Engraçado é que fica a sensação de é como se o bolsolavismo estivesse, nesse momento, jogando a própria "estratégia das tesouras" (dominar os dois lados do jogo político com uma oposição artificial) que tanto acusaram a esquerda de promover.
Nesse exato momento o presidente (ou seu filho Carlos), suas celebridades de bolso e a mesma turba estão pedindo a cabeça de um general por causa de uma linha numa entrevista. O general agora é chamado de "globalista", "servo da Onu" e até mesmo de petralha.
O que é interessante nessa brincadeira é que a questão não são as credenciais ideológicas do militares que importam: devem ser completamente submissos ao bolsolavismo ou sofrer as consequências.
