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@ProfZi @AbrahamWeint @jairbolsonaro @CarlosBolsonaro

O ingresso do Brasil ao Primeiro Mundo não pode se cingir a um exercício de retórica. Deve ser algo muito mais consistente, que passa pelos cuidados com a educação, a ciência e a tecnologia.
Se investirmos apenas 0,5% do Produto Interno Bruto em Ciência aí está o sintoma claro de que nos distanciamos de nações mais desenvolvidas, como é o caso da Coreia do Sul, que hoje coloca 2% do seu PIB em pesquisa científica e tecnológica.
Com um pormenor notável: 70% desses recursos são oriundos da iniciativa privada, que acredita nesse investimento, o que infelizmente não ocorre entre nós.
A quase totalidade dos nossos fracos investimentos na área são devidos a recursos federais, colocados à disposição das universidades.
Não se deve desconsiderar o valor dos recursos hoje aplicados no Brasil aos setores de desenvolvimento científico e tecnológico. São 2,4 bilhões de dólares, resultado das muitas campanhas realizadas e da aquisição de uma consciência generalizada a respeito da sua importância.
Mas é também claro que estamos muito longe dos recursos ideais.
Veja o caso dos EUA: as universidades americanas disporão este ano um orçamento de 158 bilhões de dólares, mais da metade para projetos de pesquisa básica.
Quando se coloca a questão da inserção do Brasil no clube do Primeiro Mundo, gostaria de deixar claro o meu ponto de vista: entrar no Primeiro Mundo não significa vencer a corrida tecnológica, mas acompanhá-la.
Um país pertence ao Primeiro Mundo quando contribui para o desenvolvimento da humanidade como um todo. O Brasil poderia estar dedicando maior atenção ao desenvolvimento de vacinas contra a meningite do tipo B e o dengue.
No primeiro caso, temos importado vacinas de Cuba, gastando milhões de dólares, quando isso poderia estar sendo feito em nossos próprios laboratórios, com economia e eficiência.
O mesmo pode ser dito em relação à genética. O nosso país tinha resultados apreciáveis, em nível mundial, nas décadas de 50 e 60, mas por falta de apoio a nossa presença foi definhando, tornando-se hoje secundária.
A escola quer formar os cidadãos médios, mas é preciso valorizar os bons alunos, aqueles que irão compor as elites científica e intelectual, de onde são extraídos os elementos capazes de sustentar a liderança em setores determinados do conhecimento ou do pensamento.
Há exemplos internacionais do que deve ser feito, como é o caso da Bronx School of Science (NY), que trabalha com alunos superdotados para o ensino de Ciências.
Eles são estimulados, por mestres competentes, em laboratórios devidamente apetrechados, para que se ampliem as suas possibilidades de acesso a outros patamares da ciência moderna.
As nações desenvolvidas agem dessa forma. Não temos outra saída senão seguir os seus passos.
Não custa, pois, acentuar alguns aspectos que poderiam ter merecido melhores definições, como é o caso da educação especial, tratada de modo superficial.
É muito grande, no Brasil, o número de deficientes visuais, auditivos, motores e psicológicos, todos merecendo na escola os cuidados que são dispensados, com tanto carinho, nas nações mais desenvolvidas.
Por outro lado, no caso da educação infantil ( de 0 a 6 anos de idade) não basta a simples referência que se faz no instrumento legal.
Não temos tradição no trato dessa faixa etária, de resto entregue à iniciativa privada, portanto inacessível, dado os seus custos, às camadas mais pobres da população.
Quando na LDBEN/9394/96 – se fala em superdotados há apenas uma referência no artigo 58
Sabe-se que o Brasil tem cerca de 4 milhões deles, o que configura uma imensa potencialidade entregue à própria sorte. Se Israel pôde criar um Instituto para Superdotados, em que se faz uma apropriada educação complementar, por que não se pode pensar o mesmo entre nós?
Outro fato a merecer destaque: o grande número de alunos da rede pública que se encontram prejudicados pela distorção idade-série (mais de 80% do efetivo existente).
Isso causa enormes prejuízos ao aprendizado e precisa ser considerado quando se vai partir para inovações pedagógicas.
Houve momentos, no decorrer do século passado, em que a filosofia se recusou a falar do mental sob o pretexto de que não podia vê-lo. Hoje em dia, com as ciências cognitivas, as questões do conhecimento – o que quer dizer conhecer, perceber, aprender? – tornaram-se centrais.
Os progressos da ciência permitem tocar naquilo que antigamente era invisível, o que obriga a Semiótica questionar: como é que a linguagem estrutura a percepção que temos das coisas?
No caso da educação especial, a semiótica tem a oferecer o entendimento de que não há uma única temporalidade correta para o aprendizado, assim como não há conteúdo determinado ou caminho privilegiado.
A criança especial é uma mente que interage com objetos (outras mentes, brinquedos, suas próprias fantasias...).

Participar de suas formulações sígnicas é desafio do educador, entendendo que cada criança está em semiose.
Talvez seja adequado postular que muitas vezes não conseguimos perceber o aprendizado, e não que ele não ocorra. Onde há vida, há signo, pois é fundamental para a vida comunicar, sem comunicação entre as células, entre os indivíduos, entre seres e meio, a vida não é possível.
Outro caminho potencial de diálogo entre semiótica educação: entender de uma vez que estamos sempre aprendendo algo nos faz alertas com os conteúdos dos meios de comunicação.
Eles estão constante e insistentemente disponíveis, são objetos pulsantes e sedutores, a procura de mentes que por eles se afetem para produzir significados.
Assim o é com a música, com a publicidade, com o desenho das ruas, com os sonhos.
Aqui a lógica semiótica tem muito a contribuir para que possamos compreender o sucesso comunicativo da grande mídia e refletir sobre sua ética.
Ao propor o entendimento do funcionamento dos signos da forma mais geral possível, a semiótica é forma de pensamento adequada para propor interpretações dos mais diferentes tipos de signo: verbais, imagéticos ou alucinados.
Também na sala de aula convencional, as premissas da semiótica têm muito a contribuir. Não se trata de alguém que ensina e de alguém que aprende.
Não se trata de conteúdos prontos nos textos que devem ser implantados nos cérebros dos alunos.
O aluno precisa estar disposto a se afetar pelo aprendizado, precisa disponibilizar sua mente, assim como sua atenção, seus sentidos, procurando interagir com o mundo a sua volta.
O professor deve entender que os alunos vão aprender necessariamente de acordo com os conteúdos prévios que têm. Então, cabe ao professor avaliar quanto à frente pode jogar uma situação de aprendizado.
Se utilizar vocabulário inacessível ou textos em desacordo com o capital sígnico do aluno, o resultado será tangencial, não atingirá a meta.
Se utilizar vocabulário do mesmo nível dos alunos ou textos que já poderiam ter lido, estará perdendo oportunidade de disponibilizar-lhes outras possibilidades.
O equilíbrio necessário é um dos grandes desafios do professor, que têm turmas numerosas compostas por indivíduos diferenciados.
Caso o conjunto de alunos não entenda os textos, mesmo assim estarão aprendendo algo, por exemplo: que textos científicos são difíceis, inacessíveis, o professor sabe muito, afinal, ele parece dominá-los.
É um sofrimento estar aqui e ver o tamanho de minha ignorância... Sempre aprendemos alguma coisa, mesmo que não seja o almejado.
O professor deve ainda procurar afetar os alunos ao conhecimento.

Muito mais fácil de falar do que de fazer.
Por ora, sobre isso, tenho apenas uma hipótese: professor que gosta do conhecimento tem esse sentimento pulsando em suas atitudes, produz signos comunicativos que podem encontrar correspondência nos alunos, comunicando assim o prazer do conhecer,da busca,a aventura da descoberta.
Professor que entende que ler é sacrifício e pesquisa é mera obrigação, que seu trabalho é um fardo, também pulsará signos correspondentes.
O professor tem grande responsabilidade na condução do processo comunicativo/cognitivo, porém o aluno também é agente, é sujeito.
O aluno não é passivo, não deve ficar a espera de um conhecimento pronto.
O professor atua como um signo intermedeia os objetos do mundo ao aluno, ambos produzindo conhecimento nesse processo semiótico.
Os três aspectos: mundo, aluno e professor estão envolvidos no processo, em uma trilha de conhecimento.
Um grande desafio contemporâneo a quem trabalha com educação é o formato multimeios da comunicação.
O código hegemônico não é apenas verbal, tampouco apenas imagem. É sim o cruzamento, a junção de diversas linguagens.
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