Thread by @_GabrielCorrea

O Barcelona de Ernesto Valverde

Uma thread sobre as duas temporadas do Txingurri no comando do Barcelona. Uma contextualização de acertos, erros, títulos e as decepções na Liga dos Campeões; além do futuro do Barcelona.

Segue o fio.

1. Modelo de jogo

Ernesto Valverde assumiu o Barcelona após as doloridas derrotas para Atlético de Madrid e Juventus na UCL, ainda no período de Luís Enrique. Além disso, perdeu o 3º melhor jogador do mundo - naquele momento - e teve Dembélé e Paulinho como grandes contratações.

O francês atuou pouco numa temporada onde ficou grande parte lesionado. Paulinho conseguiu entregar gols em jogos importantes da Liga. Além do mais, o elenco já começava a ficar envelhecido em comparação ao triplete de 2015. A espinha dorsal já estava na faixa dos 29/30 anos.

Foi assim que conquistou uma Liga sem muitos percalços e praticamente invicta. Uma Copa do Rey sem muitas dificuldades. A noite em Roma acabou por derrubar - veríamos isso na temporada seguinte - não apenas o time aquela noite, mas a confiança na UCL parecia desmoronar.

Uma das maiores reclamações sempre foi quanto as rotações da equipe. Bom, não sou fisiologista para dizer que fez certo ou errado, mas a impressão que deu foi a falta de jogadores mais intensos no duelo em Roma. Atletas que antes eram dominantes neste quesito, pareciam sentir.

Piqué, Busquets, Rakitic, Iniesta, Messi e Suárez não eram mais os caras de 26/27 anos - exceção, para mais, de Andrés -. A dúvida de pressionar alto ou esperar deixa a equipe sem confiança. Não por acaso, Valverde trabalhou numa linha mais baixa, algo pouco usual no BCN.

Ou seja, seu pragmatismo se fez necessário em diversos momentos. A equipe desacelera o ritmo da partida para “descansar” e pode competir durante os 90 minutos.

Na sua segunda temporada, também com um provável doblete, Valverde testou um 433 com Coutinho e Dembélé, mas logo percebeu como a equipe estava desprotegida. Começou a usar os dois de acordo com a necessidade do jogo. O problema é que perdeu o francês, de novo, na reta final.

Por fim, nesta parte tática, as rotações. Pouco se fala que Pique e Messi não atuaram por suas seleções em grande parte do tempo, isso já os descansa. Errou na primeira temporada e corrigiu na segunda.

2. Atletas

Roberto x Semedo: pra mim, Semedo é melhor lateral, mas Sergi entende melhor o modelo. Os números defensivos são melhores ao espanhol que sofreu contra pontas de elite. Já o português, se aproveita do físico para chegar ao fundo, mas ainda não é o melhor passador.

Jordi Alba: teve a melhor temporada em 18/19. Foram 13 assistências (8 Liga + 5 UCL), além dos 3 gols. Até então, seu melhor período havia sido em 15/16 com 7 assistências (6 Liga + 1 UCL). Foi também importante com a bola nos pés, a média de passes aumentou consideravelmente.

Sérgio Busquets: o melhor 5 da última década vive seu declínio físico. Apesar de não ser um grande marcador, Busi sempre se destacou por ler muito bem o jogo, mas os seus números vem caindo bastante seja em aspectos defensivos ou ofensivos.

Rakitic: foi que mais evoluiu com a bola em 17/18, deixando de ser agressivo e artilheiro como 14/15 no triplete com Luís Enrique. Apesar disso, também me dá impressão a viver seu declínio físico. Um ponto de sustentação ao lado de Busi, mas que não tem rendido nas duas áreas.

Dembélé: em 2017/18 foram 20 jogos, sendo 6 como reserva, além de 4 gols e 6 assistências. Na atual temporada, 2018/19 foram 37 jogos, sendo 12 como reserva, além de 12 gols e 6 assistências. É necessário buscar entender o motivo das lesões, tem potencial.

Coutinho: “a contratação mais cara da história do BCN”. Assim é, e provavelmente, sempre será lembrado o camisa 7. Seu jogo é muito relacionado ao gol, por isso não o vejo como interior. Precisa se entender melhor como atacante pelo lado. Além das poucas vitórias no 1x1.

Suárez: falei sobre o tema algumas vezes. Não é que ache Suárez um centroavante ruim, está entre o cinco melhores do mundo na posição. O problema é a falta de domínio na Europa. Nos últimos 20 jogos de UCL, são apenas 2 gols.

https://twitter.com/_gabrielcorrea/status/1094730350201319424?s=21

3. As lideranças

As chamadas “vacas sagradas” também são ponto importante. Todos querem atuar, ao mesmo tempo que também são atletas com média de 30 anos e já vencedores pelo clube. Pelas informações que temos, Valverde se saiu bem em todos momentos ruins e blindou o vestiário.

Pra mim, o debate é outro nesta questão. Como fazer uma reformulação se a liderança máxima (Messi) também quer atuar com seus companheiros? Não é algo simples retirar a Suárez, seu melhor amigo, ou Busquets, com quem conquistou tudo.

Por isso, me parece bastante claro que as questões de hierarquia - que são naturais - devem vir da diretiva, não apenas do comando técnico. De qualquer forma, sei que é mais fácil utilizar um “bode expiatório”, mesmo que ele tenha conseguido de certa forma domá-los.

Outra questão que me chama atenção e, eu realmente espero estar errado: a passividade dos jogadores vencedores em Anfield e Roma. Muito se fala sobre tática e técnica, mas a postura nesta duas eliminações são emblemáticas.

4. O futuro do Barcelona

Dito isso, não creio em mudanças muito grandes no Barcelona para o futuro. É muito difícil mexer nas “vacas sagradas” apesar da diretiva estar mesmo é focada numa reeleição.

Ernesto Valverde não seria meu técnico para o futuro. Não pela maneira como trabalhou nestas temporadas - creio que era o possível -, mas o clima após as duas eliminações, da maneira como foram, me parece que torna insustentável, em que pese os jogadores gostarem dele.

A renovação será gradual. Vejo as chegadas de Frenkie De Jong (confirmado), De Ligt e Griezmann (ambas em andamento) como um início, mas que não resolvem os problemas de imediato.

Quem chegou até o fim, estou pronto para debater qualquer ideia sobre o Barcelona. Não sou o dono da verdade absoluta, apenas acredito que há pouca contextualização da realidade.

O mais importante? Que o clube retome as bases que o fizeram vencedor.

¡Visca!