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Outro dia tava lendo matéria sobre crianças e paranormalidade.

Eram histórias sobre crianças que diziam ver espíritos, que ouviam vozes e, na maior parte das vezes, eram extremamente convincentes.

Aí lembrei de uma coisa...
Minha filha mais velha sempre teve umas coisas estranhas, uns sentimentos e umas falas que nunca consegui explicar.

Por exemplo, ela sempre teve, quando criança, um sentimento preciso sobre os meus sentimentos.
Aconteceram vários casos dela me ligar logo depois de uma discussão, de uma briga ou chateação.

Como ela não morava comigo, a gente sempre se falou muito por telefone.

Então era batata: alguma coisa me acontecia, dava uns cinco minutos alguém ligava e era ela, querendo falar.
- Papai, tá tudo bem?

Mas ela já sabia que nada estava bem, ela sempre sabia, e até nem parece tão assustador, mas aí a coisa começou a complicar...
Antes da Maria nascer, minha esposa perdeu um bebê. Ela tava grávida, tava tudo muito bem, aí fomos viajar.

Não contamos nada pra ninguém, era segredo nosso, ao menos até voltarmos, mas, na volta, já não havia bebê.

A gravidez desandou, sei lá, assim sem explicar.
Quando fomos ao hospital, fomos só eu, ela e minha sogra, e não houve necessidade de falar a mais ninguém.

Aí nasceu a Maria.

Bela noite, ela tinha uns 3 anos, fomos visitar uns amigos. No meio da brincadeira ela me abraçou do nada e pediu para dar uma volta.
Botei ela no colo e fomos na rua ver o céu, e ela começou com um papo filosófico questionador, me perguntando o que tinha depois da morte.

Eu disse a ela que existiam muitas ideias do que acontecia depois da morte, e que cada pessoa tinha sua própria teoria.
- E no que você acredita, pai?
- Eu acredito que a gente vira natureza, filha...
- Mas a minha irmã disse que não, que a gente continua crianças

Eu ➡️😳😳

- que irmã, filha?
- aquela que morreu antes deu nascer...
Quase jogo a criança no meio do mato e saio correndo, um medo desgraçado de ver aquela criancinha falando aqui, mas me limitei a me benzer e seguir no papo.

- filha, quem te falou isso?
- ela, minha irmã. Ela sempre vem me ver.
Obviamente fizemos uma grande investigação pra saber quem tinha contado aquilo pra Maria e, mais estranho, todo mundo jurava que não tinha falado. As poucas pessoas que sabiam disseram que jamais teriam aquela conversa com a criança, muito menos inventariam a história da visita.
A seguiram acontecendo pequenas coisas, pequenos medos sem explicação, pequenas sensações, até que a pior história aconteceu...

P.s.: nesse ponto, realmente pensamos em dar a Maria pra adoção.

Pois bem:
Sempre estivemos muito junto, eu e ela, não importavam as condições da vida. Da mesma forma, meus pais e meus irmãos sempre tiveram convivência muito forte com ela.

Um dia, Maria estava com meus pais e minha irmã, voltando de algum lugar, acho que da UFPA.
Um dos caminhos de volta da UFPA passa na frente do cemitério de Santa Izabel, o principal campo santo de Belém.

Cemitério enorme, uns dois quarteirões inteiros com vista total da rua. Da grade, se consegue ver todos os túmulos, muitos deles verdadeiras obras de arte.
E aí, de noite, passando de carro na frente do cemitério de Santa Izabel, Maria se vira para minha mãe e diz:

- Vovó, eu conheço esse lugar.

Ela devia ter uns 4 anos na época, se muito, e bastou essa frase pra todo mundo se pelar de medo.
- É, minha filha... e conhece como?

- Me trouxeram aqui, vovó.

- Não, Maria. Ninguém trouxe você aqui, você é muito nova pra vir aqui.

- Trouxeram sim, vovó. Me trouxeram pra ca numa caixinha, depois que eu cai do carro.
Minha mãe conta que foi a maior gritaria no carro.

Meu pai quase bateu, do mini infarto que teve, minha mãe deu um grito e minha irmã se benzeu.

- Maria, que história é essa!? Quem te falou isso?

- Ninguém me falou. Aconteceu, eu ficava aí.
Novamente fizemos um conselho familiar para tentar entender a situação, e a única conclusão que chegamos foi “há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”

Não tinha explicação, e assim permaneceu.
Virou história de família. Até hoje a gente lembra dessa parada e se entreolha nas festas familiares. A gente meio que tira sarro da Maria, brinca com ela, mas também respeita pacas a situação.
Maria cresceu, as coisas estranhas meio que pararam, deram um tempo. Hoje ela tá com 18 anos, faz arquitetura, tem até Twitter (oi, @ntupiassu, to falando de ti), e virou uma mulher hiper responsável e de bom coração e alma, inteligente, meu maior orgulho.

Mas...
...vez por outra, no meio da noite, ela ainda vem bater aqui no meu quarto e me pergunta:

- Que foi, papai?

- Que foi o que, Maria?

- Você tava batendo na porta do meu quarto!

- Não estava.

- Tava sim, até me chamou.

- Não fui, filha. Juro. E nem te chamei.
Aí ela me olha com aquela cara de cumplicidade, mistura de medo e entendimento, e se limita a dizer...

- Égua, papai... eu jurava que... deixa, deixa pra lá.
Sai fora, Maria!!! Ainda posso te mandar pra adoção.
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