Era 2008, eu estava recém separado e buscando apartamento para alugar. Depois de muito procurar e só achar bomba, meu pai lembrou de um apartamento pequenino que ele tinha, bem localizado, num prédio bonitinho, mas tinha um problema...
Comecei a correr atrás, fui falar com o juiz, expliquei a situação e ele despachou autorizando entrar no imóvel com um oficial de justiça, tomar posse do bem e, se tivesse bens, fazer inventário.
E nenhum sinal de mãe e filha.
Diferente do que ouvi falar, todos os pertences ainda estavam lá: roupas, bolsas, sapatos, jóias, fotografias e brinquedos.
- Daqui, pouco se aproveita...
Eletrodomésticos quebrados; louças e panelas carcomidas de vermes; roupas cheias de carunchos. Ele fez constar isso na certidão, destacando que nada se aproveitava, mas ainda havia os móveis...
Feito o levantamento, o oficial lavrou a certidão falando sobre os bens podres e fiquei com as chaves novas, mas ainda tinha um problema...
- eu sei dela...
Decidi dar um passo além e ir um pouco mais fundo na história.
Aquelas duas opções, na minha cabeça, eram as únicas que faziam sentido diante do apartamento destroçado.
O porteiro anunciou que uma mulher estava na portaria e queria falar com a moradora do 601, mas o nome não batia com o meu, claro. Era o nome da antiga moradora.
Quem anda por aí procurando um velho conhecido e pergunta pelas coisas desse velho conhecido?
A mulher engasgou quando me ouviu e tive um pressentimento estranho, que me alegrou.
Não demorei nem cinco minutos, mas quando cheguei lá não havia mais ninguém.
É isso, ou não é isso, e creio que jamais terei a resposta.