Thread by @goescarlos

Hoje o Plano Real faz 25 anos. estabilização macroeconômica brasileira foi, de fato, uma Revolução. Ela modificou completamente as possibilidades das pessoas. Para entender, segue fio. 🧵👇🏽

Ao fim do regime militar, com as pessoas acostumadas com uma inflação alta e reajustes anuais, a economia plenamente indexada e uma revolta acumulada pelo arrocho salarial, a bomba-relógio estava prestes a explodir. E assim ocorreu.

Tentou-se todo tipo de feitiçaria macroeconômica (como o congelamento de preços do Plano Cruzado e o confisco da poupança do Plano Collor) para se tentar combater uma inflação que chegou a 2.700% em 1993.

Esse ambiente tornava impossível que as pessoas se planejassem, poupassem e investissem. Ao invés de comprar caminhões para fazer entregas, donos de supermercado estavam comprando caminhões para se proteger da inflação. Ninguém conseguia fazer planos de longo prazo.

As pessoas investiam no “overnight”, um mercado de empréstimos diários que em países com economia normal tem margens tão pequenas que só interessa a bancos – nunca a pessoas físicas. A economia estava em colapso.

A Revolução de 1994 tornou possível que empresários e consumidores fizessem planos e investimentos e que governantes pudessem engendrar políticas públicas de uma forma mais ordinária e transparente. Para entender o tamanho dessa Revolução, dê uma olhada no gráfico abaixo.

Os pobres, como sempre, eram os mais afetados por toda essa confusão macroeconômica. A maioria n tinha conta no banco, o que significava q eles tinham de correr para o supermercado assim que recebessem seu dinheiro e que n podiam poupar. Preços eram remarcados mtas vezes ao dia.

Em dois anos, o Plano Real tirou cerca de 9 milhões de pessoas da miséria. Na década seguinte, uma combinação de crescimento econômico, mudanças demográficas favoráveis e políticas sociais direcionadas aos mais pobres retiraria mais 20 milhões de pessoas da miséria.

Inflação e desequilíbrios macroeconômicos são armas de destruição em massa. São armas que condenam pessoas à miséria, à fome e, consequentemente, à própria morte. N se deve minimizar o impacto do Real — ele foi condição necessária para nos tornarmos um país de renda média alta.

Cinco leituras que eu recomendo para esse período.

1) Notícias do Planalto de Mário Sérgio Conti conta os bastidores do governo Collor, suas crises e sua relação com a imprensa.
2) Saga Brasileira, de @MiriamLeitaoCom, é um ótimo relato do caos econômico pré-real.

3) A Arte da Política, autobiografia do @FHC, traz importantes relatos para o período - inclusive como ele se tornou protagonista político do Real, ofuscando o então presidente Itamar Franco.

4) O paper “A ESTABILIZAÇÃO HETERODOXA NO BRASIL: idéias e redes políticas”, de @carlosrpio, publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, resume sua tese de PhD e relata o papel dos economistas: Arida, Lara Resende, Malan, Bacha, Lopes, Franco, Modiano, Zé Márcio.

5) Um dos melhores livros-texto de história econômica brasileira contemporânea tem um belo relato desse período.