- "João..." – eu, falando com meu priminho de seis anos.
- "Ã?"
- "É verdade que você tem uma coleguinha de 65 anos na sala de aula?"
- "Sim" – ele está no 1º ano do ensino fundamental.
- "Ah, é?"
- "É a dona Nena."
- Velha.
- Humm... e o que ela fica fazendo na sala?
- Escrevendo o que a professora põe no quadro.
- E por que será que ela faz isso, João?
- Ela quer saber ler.
Quando uma história dessas chega ao meu ouvido soa como provocação. Fui conhecer a dona Nena.
Dona Nena está sentada na última carteira. Ao redor dela 22 alunos com idades entre seis e sete anos. Ela: 65.
- Claro, minha filha!
Negra, lenço colorido na cabeça, sorriso a cada meio minuto...
- Por que a senhora está vindo pra escola?
- Comecei a estudar no Mobral, escondido dele,” ela contou. “Um dia ele foi fuçar na minha bolsa e viu meu caderno e meu lápis.
Aos 65 anos, dona Nena (separada há 20 anos) tem dois filhos. Um formado.
Veio deles o apoio.
Rose ficou surpresa. Achou que dona Nena não iria aguentar estudar de dia com as crianças.
- Ela disse que se eu quisesse vir, podia vir, mas ela não acreditou que eu viria mesmo...
Quando dona Nena apareceu no portão, pronta pra estudar, foi um choro só!
O Conselho Escolar – formado por pais, alunos, professores e funcionários – aprovou.
- A diferença – explica a professora – é que pra criança você fala uma vez e ela aprende.
- Eu falo as letras que ela vai escrever. Ela aprende quase fácil, porque às vezes ela erra um pouco a letra.
E “ai” da dona Nena se ela falta.
- As crianças vão lá em casa me buscar! - E completa: