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Dos flagelos brutais da escravidão nasceu um dos maiores humoristas da história brasileira, o lendário palhaço negro que fez do circo uma eterna fuga do destino que o racismo tentava impor à sua existência. Essa #thread traz a saga Benjamim de Oliveira, o gênio do circo-teatro
Quando veio ao mundo, a escravidão já estava quase acabando, 1870, mas quem disse que os donos de escravos estavam querendo largar seu osso? Benjamim era forro, sua mãe, Leandra de Jesus era “negra de estimação” e seu pai um Capitão-do-mato.
O preço para não ficar trancafiado na senzala era esse e mesmo recebendo o “tratamento diferenciado” viviam desumanizados pelo pensamento racista da época. O Benjamin nasceu no Pará de MG, região que até hoje perpetua o imaginário escravagista em muitas das relações
Cansado de apanhar todo dia (do próprio pai) e do trabalho árduo que exercia, aos 12 anos encontrou no Circo Sotero um refúgio para sua imaginação. Percorreu todo o sertão mineiro com a trupe, mas não conseguiu fugir dos espancamentos, afinal… seja livre ou não, ainda era preto
Parte de sua vida era fugir: fugiu do Circo Sotero e depois de Ciganos que tratavam como escravo e quase o trocaram por um cavalo. Fugiu também da estrada, cheia de gente que queria aprisioná-lo, fazia truques para provar que era artista do circo.
Quando alcançou a cidade de Mococa, era um andarilho qualquer, um mendigo. E convenceu o americano, dono de circo a remunerá-lo. Trabalhava principalmente como acrobata, até que em uma apresentação em SP o palhaço adoeceu e ele foi praticamente forçado a assumir o lugar.
Um palhaço preto era estranho demais, suas primeiras apresentações foram rejeitadas pelo público, mas nem ele esperava o que aconteceria a seguir. Persistiu passando por outros circos até que foi parar no Caçamba (RJ) e conquistou a admiração do presidente Floriano Peixoto
O circo saiu da Favela para a Praça da República e Benjamim ganhou espaço para promover uma das maiores revoluções artísticas da época: Misturou suas habilidades de cantar, dançar, interpretar com os talentos do circo, inaugurando a categoria de Circo-teatro no Brasil
No Circo Spinelli em 1896 sua genialidade foi reconhecida pelo grande público. Escreveu peças de teatro, canções e fez adaptações ousadas como a de Os Guaranis, de José de Alencar. Em 1908 ela foi gravada no picadeiro e ele se tornou o primeiro ator negro no Cinema Brasileiro
Rompeu mais limites ainda quando gravou seis discos pela Columbia Records. Se tornou o Rei dos Palhaços no país, interpretou Shakespeare e fez um dos maiores teatrólogos brasileiros vibrar de euforia com seu Othelo - usava maquiagem branca por todo o rosto.
“Quando Shakespeare fez Othelo, imaginou certamente um tipo como esse que Benjamim representa com tanta força no seu pequeno teatro” ARTHUR AZEVEDO
Construiu uma carreira de sucesso, com uma reputação fabulosa e admiradores poderosos. Você deve estar lendo isso com uma grande fervor e orgulho. Mas não esqueça que o Brasil acabou com as senzalas de madeira e barro para construir uma baseada em dinheiro, ou a falta dele.
Em 1940 Benjamim estava na miséria. Alguém ganhou o dinheiro por ele, enquanto ele passou a viver na sarjeta de uma sociedade que discriminava as pessoas pela cor. Um grupo de jornalistas se mobilizou com um deputado para conseguir uma aposentadoria para o palhaço.
Ele faleceu em 1954 na cidade do Rio de Janeiro, bem no dia 03 de Maio aos 84 anos. Sua memória passou a ser resgatada só depois dos anos 90. Benjamim de Oliveira, segundo Brício de Abreu, o primeiro palhaço negro do mundo.
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