Thread by @nelsonhbarbosa

1/ Autocrítica sobre segurança pública

A recente tragédia no Rio, com mais uma criança morta em ação policial, deveria levar todos, na esquerda e na direita, a reavaliar suas posições e colocar segurança pública no topo de nossas prioridades. Por exemplo ...

2/ A maioria de nós economistas heterodoxos trata a segurança pública como questão secundária, focando em crescimento econômico, emprego e redução de desigualdades, com base na hipótese de que isso irá atenuar a violência e reduzir criminalidade no “longo prazo”.

3/ Sim, vários estudos que demonstram que redução de desigualdade também diminui violência e criminalidade, mas ao falarmos somente isso, nós heterodoxos nos aproximamos do que tanto criticamos nos ortodoxos: que é preciso ter paciência, que a solução virá no “longo prazo”.

4/ Milhões de brasileiros simplesmente não podem esperar o “longo prazo” na segurança pública. Milhões de pessoas vivem sob risco constante de violência, seja por parte do crime, seja por parte de ações policiais mal planejadas ou executadas.

5/ Assim, a esquerda em geral, e os economistas heterodoxos em particular, devem colocar a melhora da segurança pública como item emergencial da agenda, tão importante quanto aumentar emprego, preservar meio ambiente e melhorar saúde e educação.

6/ Precisamos de alternativa imediata à atual política de “atirar primeiro e perguntar depois” de alguns governantes. Isso envolve mais recursos para segurança pública, mas também outras questões como mais inteligência e planejamento no combate ao crime organizado.

7/ E também precisamos reavaliar nossa política de enfrentamento das drogas (repressão e prisão vs legalização e tratamento), que também é ponto de debate em outras democracias ocidentais. A questão é complexa, sem solução fácil, mas merece discussão por aqui.

8/ No caso da polícia, há vários exemplos no mundo de como mudanças nos sistemas de incentivo e penalização podem melhorar a segurança pública e diminuir violência policial. Precisamos achar/desenvolver o mais adequado para nossa realidade.

9/ Nesse processo precisamos ouvir e aprender com a realidade dos policiais, que correm risco de vida no dia-a-dia, além de poderem ser forçados a participar de esquemas de violência e corrupção. Acredito que a maioria é honesta e bem intencionada, mas em um sistema disfuncional.

10/ Voltando para minha área, nós economistas falamos bastante que reformas estruturais são urgentes, na previdência, tributação, folha de pagamento, etc. Elas são realmente urgentes, mas a questão da segurança pública não pode e nem deve ficar em segundo plano.

11/ Nada do que escrevi é novo para especialistas em segurança pública, mas nós economistas devemos nos engajar mais na análise de um problema urgente que aflige milhões de pessoas. Não dá para esperar o longo prazo e "atirar primeiro e perguntar depois" não é a solução. FIM