Thread by @lucasmafaldo

Um negócio difícil de entender é que às vezes nossos estados interiores são causados por fatores totalmente objetivos. Quando ficamos sem energia ou ansiosos é muito tentador fica examinando nossos pensamentos para entender a causa interior disso, mas...

... mas às vezes não tem nada a ver com fatores subjetivos. Pode ser só falta de sono, por exemplo.

Acho que é o Chesterton que dizia que era difícil saber quanto tínhamos feito uma boa ação por bondade mesmo ou apenas porque nossa digestão estava funcionando bem.

Estou falando - como sempre, aliás - da minha própria experiência. Fui escrevendo cada vez menos nos últimos anos e fiquei me perguntando porque eu estava sem disciplina ou motivação.

Na verdade, a coisa era muito mais simples: eu só estava com alergia demais e sono de menos.

Eu tenho alergias respiratórias crônicas desde sempre. Elas só diminuíram quando adotei uma dieta de baixo carboidrato e com muitos vegetais. Ainda não sei exatamente o que deu certo (fiz o teste e não sou celíaco), mas acho que foi porque baixou o nível geral de inflamação.

(Esse papo de "inflamação crônica" me parecia meio pseudocientífico, mas estou achando que faz sentido -- até porque o sono também supostamente abaixa a inflamação geral, o que tem acontecido comigo... mas aí entra no outro capítulo da história.)

O problema maior é que o excesso de alergia combinado com estreiteza dos canais respiratórias tinham me deixado com um nível altíssimo de apnéia do sono. Eu basicamente não tive quase nada de "sono profundo" ou "sono REM" nos últimos anos, o que estava destruindo minha saúde.

Além de aumentar a inflamação (e, portanto, as alergias), isso foi me deixando progressivamente debilitado. Porém, como a debilitação foi progressiva, eu não sabia mais o que era ter um nível de energia normal. Eu pensava que todo mundo tinha o mesmo energia que eu -- quase nada.

Passei os quatro último meses tomando anti-alérgicos e usando o CPAP. Minha impressão -- sem exagero nenhum -- é que que minha capacidade de atenção e energia de cinco meses atrás era uns 20% do que é hoje. Quem faz esse tratamento fala justamente em um "efeito super-homem".

Eu alterno entre ficar empolgado em ter finalmente resolvido esse problema e ficar puto por ter passado mais de QUINZE ANOS pulando de médico em médico sem ninguém perceber isso. Essa é a parte foda de nascer em região de baixa produtividade: os serviços não funcionam.

Mas estou tentando me concentrar no lado positivo: venci um ambiente de negligência total, onde uma doença gravíssima que estava literalmente me retirando anos (tanto reduzindo minha expectativa de vida quanto me impedindo de aproveitar o presente) não era vista como nada demais.

Aos poucos, estou aceitando que não adianta chorar pelo leite e pela saúde derramados. Ficam algumas lições. Sabem aquela coisa de não julgar os outros porque a gente não sabe o que eles estão pensando? Eu fiz o erro contrário: eu não sabia o que eu mesmo estava passando!

A lição que deve ficar para vocês: sigam a segunda regra do Peterson. Cuidar de si mesmo não é luxo -- é proteger a nossa capacidade futura de agir e, portanto, de servir aos outros.

Mas eis a boa notícia para quem gosta do que eu escrevo: embora eu ainda esteja meio baleado, estou finalmente com energia para retomar uns projetos prometidos há anos.

Devo continuar ausente nas redes sociais, mas por um bom motivo: vou juntar as ideias que tenho soltado...

... por aqui em ensaios mais longos e lançar ao menos dois livros nos próximos anos.

Na medida em que eu for avançando, vou dando notícias por aqui.