[THREAD] 1. Vou usar essa notícia para dar uma dimensão da nossa defasagem financeira e estrutural, e vou aproveitar para explicar por que penso ser São Januário a solução, e não o problema, para o nosso atual gargalo em geração de receitas.

Leiam tudo.

globoesporte.globo.com/google/amp/fut…
2. Como vocês puderam observar no balanço, o Vasco hoje possui um gargalo financeiro muito evidente: capacidade de geração de receitas.

Vou usar esse mesmo balanço para lastrear meu argumento e pautar dados numéricos. Arredondamentos acompanharão termos como "cerca" ou "quase".
3. Primeiro registro que precisa ser feito é o contraste financeiro dessa gestão: de um lado, finanças e controladoria têm feito um bom trabalho na redução geral de custos e despesas correntes; do outro, a gestão tem mostrado uma evidente dificuldade em "fazer dinheiro".
4. E essa limitação na geração de receitas tem nome e sobrenome: bilheteria e sócios.

E embora não constituam fontes únicas de receita, são particularmente importantes pois dialogam frontalmente com o engajamento da torcida, ainda que o façam de formas distintas.
5. E o problema do engajamento é mais difícil de resolver do que parece, pois sinaliza um distanciamento emocional da torcida com o Clube.

Isso explica por que, na minha opinião, o Vasco não aumentaria média de público se baixasse preço de ingresso. Ou a baixa adesão dos sócios.
6. Não vou me estender muito sobre o programa de ST, mas penso que ele peca mais pela total ausência de apelo emocional, do que por razões de incentivo comercial. E isso vai além do programa em si.

Vai muito além da Comunicação ou do Meu, mas é papo pra outra hora.
7. Bilheteria, por outro lado, merece uma atenção mais efetiva e imediata dessa gestão, ainda que as soluções talvez envolvam investimentos mais robustos em estrutura física e imobiliária.

A questão aqui, embora passe pelo emocional, deságua numa questão técnica.
8. De acordo com a notícia que eu usei para ilustrar o primeiro tweet do thread, o Vasco celebrou um contrato de R$500 mil por jogo na Arena da Amazônia, tendo fechado por 2 jogos.

A questão aqui talvez não se resuma a quanto o Vasco levou para jogar lá, mas por que jogar lá?
9. Em termos puramente financeiros, o valor assume uma dupla perspectiva: em comparação ao rendimento observado em São Januário, a quantia é indiscutivelmente benéfica (ainda que se possa debater em que grau); já em comparação aos rivais do Rio, Minas, Sul e São Paulo, não.
10. Em casa, o Vasco costuma fazer cerca de R$150 mil em jogos com público de 8 mil torcedores.

Quando "lotamos" a arquibancada de São Januário, quer dizer que 15 mil torcedores foram ao jogo, e o Vasco embolsou cerca de R$300 mil.

E isso parece ser bom.. mas só parece.
11. Pelo balanço publicado na semana passada, o Vasco fez em 2018 pouco mais de R$14,5 milhões com bilheteria.

Um avanço tímido em relação a 2017, mas que revela a importância da participação em torneios internacionais. Ganhamos mais porque jogamos mais, e com mais apelo.
12. O problema é que enquanto nós rendemos R$150/R$200 mil por jogo, rivais com melhor estrutura (mas mesma torcida) estão fazendo R$1.9 milhão/jogo (renda do Palmeiras ontem).

Ou seja, ontem teve Clube com a torcida do tamanho da nossa fazendo 10 VEZES MAIS RECEITA que a gente.
13. Eu disse DEZ. Sabe o que isso significa?

Significa que o Vasco precisa fazer 10 jogos de casa meio cheia para dar 1 jogo de casa quase cheia do Palmeiras (porque eles só colocaram 31 mil torcedores em um estádio que abriga 40).

O Palmeiras faria mais jogando só o paulistão
14. Para mitigar esse efeito, precisa fazer de SJ uma impressora de dinheiro, OU vender mandos de campo. Eis a importância FINANCEIRA desses jogos.

É um compromisso dessa gestão gerar mais receita com bilheteria, e essa missão ainda enfrenta a resistência do resultado esportivo.
15. Como responder a esse impasse se SJ não gera o que precisamos?

Só para dar uma noção, a receita com bilheteria do Palmeiras foi de quase R$80 milhões em 2018, contra R$14,5 milhões do Vasco.

Em 1 ano, o Palmeiras fez só com bilheteria o que o Vasco demoraria seis.
16. Você pode alegar que o momento esportivo deles é outro, o que justificaria essa diferença, mas eu vou mostrar como a estrutura ajudou a mudar o Palmeiras, e como Clubes significativamente menores que o Vasco, vivendo momentos esportivos piores, fazem mais dinheiro que a gente
17. Esse abismo de bilheteria entre Palmeiras e Vasco ficou escancarado justamente com a construção do novo Palestra.

Fizeram R$77 milhões em 2015, ano de sua inauguração, 9° colocado no Brasileiro.

Antes disso, a renda anual com bilheteria deles era muito semelhante à nossa.
18. Em 2013, o Palmeiras acumulou 17 milhões de reais em bilheteria. É o que fazemos hoje

O Flamengo, aquele clube sem estádio, fez em 2018 quase R$40 milhões com exploração de bilheteria, ativo oriundo de um patrimônio que eles sequer possuem.

Então qual é o problema do Vasco?
19. Por que temos a torcida do tamanho da do Palmeiras, rivalizamos com um Clube como o Flamengo, mas faturamos feito o Bahia ou a Chape? Por que Clubes nas séries B e C colocam mais torcedores em seus estádios?

Por que não conseguimos fazer 40 ou R$40 milhões com bilheteria?
20. Bom, aqui eu penso que os "culpados" sejam muitos, mas justamente por isso a solução pode vir de muitos lugares.

A premissa básica é que, na minha opinião, São Januário e adjacências, no atual estado, não parecem corresponder mais às exigências FINANCEIRAS que o Vasco requer
21. E isso é reflexo de uma série de fatores, e felizmente nenhum deles exige a mudança de local do estádio ou do perfil dos moradores de seu entorno. Ao contrário, São Cristóvão e a barreira são ativos e identidades do Vasco. Só precisamos explorar isso.
22. Os fatores, a meu ver, exprimem problemas: da Diretoria, que monta elencos esportivamente broxantes; de São Cristóvão, que espreme São Januário entre ruelas; ...
23. ... da Prefeitura, que não coloca à disposição um transporte público que leve a torcida do Rio até o estádio (quem mora na Zona Oeste, Barra, Jacarepaguá, Recreio ou Campo Grande sabe da dificuldade bizarra que é chegar ao estádio e, pior, sair dele de volta pra casa); ...
24. ... e, finalmente, de São Januário, que não tem a estrutura logística de um Allianz Parque para receber torcedores, carros, transporte público, sedes, atrações etc.

A boa notícia é que tudo isso tem jeito. A má é que não dá pra culpar o torcedor.
25. Alguns torcedores tem o (péssimo) hábito de lançar mão do discurso fácil de jogar os problemas do Vasco no colo da torcida, mas se esquecem que ninguém é obrigado a passar pelo perrengue que é chegar a SJ, quando não se tem meios seguros e viáveis para ir e voltar de lá.
26. É fácil dizer que SJ está perto quando se mora na Zona Norte ou na Zona Sul. Agora experimenta conversar com quem mora na Zona Oeste e tem o desejo de ir a jogos frequentemente

É fácil dizer que os subs não amam de verdade, mas já experimentou morar na outra ponta da cidade?
27. A oferta de transporte público é muito ruim; falta um bom estacionamento no entorno do complexo; as entradas e saídas de São Cristóvão dão um nó em dia de jogo; as ruas que alimentam o estádio são estupidamente estreitas para um estádio de futebol; ...
28. ...fora outras questões que envolvem atratividade e segurança pública... Enfim, o cardápio de fatores é longo.

E é complicado demais assimilar o argumento de que "torcedor de verdade tem que ir e não reclamar, porque isso é Vasco!" e outros quejandos.
29. Curiosamente, esse mesmo torcedor que exige da torcida e do ST uma presença mais efetiva, vai ser aquele que negará ao segundo o direito a voto dizendo que torcida e ST são "só" consumidores, como tive que ler hoje cedo.
29. Ainda, esse raciocínio parte de quem pensa que ir 5 vezes no ano a São Januário é muito, ou por quem mora em regiões próximas de São Cristóvão e não conseguem desenvolver empatia suficiente por quem não mora.
30. O perfil do entretenimento mudou, e o perfil dos próprios espectadores é outro. Mais do que assistir a um jogo, ir ao estádio precisa se tornar um evento social cotidiano. Mas para isso é preciso que alguma estrutura mínima seja colocada à disposição da torcida.
31. E eu honestamente acredito que São Januário não tenha isso... ainda.

E aqui eu dirijo mais minhas críticas ao entorno, ao Poder Público, à capacidade de acomodação e logística, e aos acessos, do que ao estádio propriamente dito, embora ele também precise de ajustes.
32. É um trabalho que vai exigir um esforço conjunto do Vasco, da comunidade, do Poder Público e dos vascaínos, mas tem como ser feito.

Um planejamento estrutural de longo prazo que dê conta das novas dinâmicas comerciais é o único caminho. Não há outro.
33. E isso, aliado à reformulação do entorno, ao momento esportivo e ao engajamento da torcida, são os elementos que precisam ser endereçados caso o Vasco pretenda realmente dar um salto de bilheteria.

A questão é: temos que dar esse salto LOGO, pois 2019 já está aí.
34/FIM. Não há como atingir as metas de geração de receitas desse ano sem aumento de bilheteria.

É isso, ou teremos que conviver eternamente com o debate da venda de mando e desempenho esportivo, porque São Januário como conhecemos não faz mais o dinheiro que precisamos.
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