Thread by @Alliatti

Os jogadores com cobertores na foto são do TAJIQUISTÃO, um país pertinho da Rússia onde, de fato, faz um frio danado.

Mas há um detalhe: nessa foto, tirada na terça, eles estavam mesmo era em OSASCO.

Segue o fio sobre a aleatoriedade de Audax x Tajiquistão, o jogo do ano.

Buenas, comecemos pelo começo: esse jogo só existiu porque o Tajiquistão alcançou uma enorme façanha para quem é apenas o 115º no ranking da Fifa: classificar para o Mundial Sub-17 do Peru.

OK, mas e OSASCO com isso?

Acontece que a Fifa, em fevereiro, viu que o Peru não conseguiria organizar o torneio. E transformou o Brasil em nova sede. Lá veio, portanto, o Tajiquistão, e acompanhado de Matheus Carvalho, um ex-jogador brasileiro que fala russo porque jogou no CAZAQUISTÃO.

Matheus é irmão de Vitor, que trabalha com futebol e conhece bem a diretoria do Audax. E foi assim que esses dois mundos maravilhosos se encontraram no glorioso estádio José Liberatti, o ROCHDALÃO.

Mas, meus amigos, o inusitado estava apenas começando.

Vamos ao jogo. Rola a bola, o Audax começa melhor, e logo abre 2 a 0. O primeiro gol é um frangaço desse rapaz cabisbaixo na foto: Shohrukh, o goleiro do Tajiquistão.

Na imagem, ele chora. E não só pelo frango: também por ter sido cruelmente substituído AINDA NO PRIMEIRO TEMPO.

Sem ele, substituído por Mukhriddin, herói da classificação ao Mundial por pegar dois pênaltis contra a Coreia do Norte, o Tajiquistão melhorou em campo e chegou ao empate ainda no primeiro tempo. Sob o olhar desolado de Shohrukh.

No intervalo, visto que era uma noite especial, faltou luz. Mas os refletores logo voltaram. E iluminaram a redenção de Shohrukh.

Porque, meus amigos, Mukhriddin se machucou. E quem foi chamado para voltar? Sim, ele.

E quem DEFENDEU UM PÊNALTI para garantir o empate? SHOHRUKH!

Mas a glória do nosso herói foi apenas um elemento daquela noite mágica em Osasco. É hora de falar sobre este homem: Musashi Mizushima, um japonês que trabalha com o Tajiquistão.
E morou no Brasil.
E jogou no São Paulo.
E virou DESENHO ANIMADO. Que PASSAVA NA MANCHETE.

Mizushima, hoje um simpático senhor, veio ao Brasil nos anos 80, com 11 anos, e foi jogar na base do São Paulo. Olha aí a ficha dele na Federação Paulista. Também passou por São Bento, Portuguesa e Santos.

Ser um jogador de futebol no Brasil transformou Mizushima em uma celebridade no Japão. Ele virou garoto-propaganda de fabricantes de computadores e inspirou a criação do personagem Oliver Tsubasa, o Capitão Tsubasa. Lembram? O desenho passou na Manchete como "Super Campeões".

Hoje ele trabalha para a Federação Japonesa de Futebol e faz intercâmbio em outros países. Treinou na base da Mongólia e agora é auxiliar no Tajiquistão, o que permitiu seu retorno ao Brasil.

Outro ponto interessante do jogo: a presença de um bando de maluco que dedica parte da vida a caçar jogos tipo esse Audax x Tajiquistão: jogos absolutamente aleatórios. Eles viraram amigos de tanto se encontrar em partidas assim. São geniais. (Um abraço pra ti, @jogosperdidos)

Sobre o Tajiquistão: tem o mesmo presidente desde 1992, tempos de uma guerra civil posterior ao fim da URSS. A ONU alerta para vários sinais de pouco apreço à democracia no país - tipo prisões arbitrárias de jornalistas.

Na foto, o presidente com o elenco sub-17 que está aqui.

É isso. Nossos queridos tajaquis estreiam no Mundial segunda-feira, em Cariacica-ES, contra Camarões. O grupo também tem Argentina e Espanha.

Toda essa história, claro, está publicada por mim e pelo querido @diogoventurelli no @globoesportecom. Ei-la: globoesporte.globo.com/sp/futebol/not…

@diogoventurelli @globoesportecom Gente, três adendos:

- O Globo Esporte de SP conta essa história logo mais.

- Entrarei no Seleção SporTV, no bloco final do programa, para falar sobre esse jogo maravilhoso.

- Ташаккур барои паёмҳо (que, segundo o google tradutor, é "obrigado pelas mensagens" em tajique). S2

(Uma correção aqui: ele veio para o Brasil ainda nos anos 70, na verdade. Nos 80, deixou o São Paulo)