, 26 tweets, 12 min read
Todo mundo conhece Scorsese, Spielberg, Coppola, Lucas etc como os nomes que ajudaram a salvar a Hollywood dos anos 70. Mas pouca gente ouviu falar de @the_robertevans, produtor que morreu hoje e mudou o cinema – e cuja vida daria um filme espetacular.
No final dos anos 60, Hollywood estava mal das pernas. O país vivia a Guerra do Vietnã, revolução sexual, luta pelos direitos civis... E Hollywood fazendo musicais e dramas como se estivesse nos anos 40. O cinema não conversava mais com o povão.
Quem manja de cinema sabe que isso só começou a mudar no fim dos anos 60, quando os velhos executivos (muitos deles mandando nos estúdios desde os anos 30) deu espaço, nos anos 70, para a geração de Coppola, Scorsese, Spielberg, Lucas.
Mas Robert Evans precisa ser incluído nessa lista. Ele havia tentado a carreira de ator, aparecendo em O Homem das Mil Faces e E Agora Vive o Sol. Sem decolar, começou a trabalhar como executivo da Paramount e em 67 se tornou chefe de produção.
Tinha apenas 33 anos e, na época, era impensável que uma pessoa tão jovem recebesse tanto poder dentro de um estúdio grande. Mesmo um estúdio que estava à beira da falência, como a Paramount.
Logo em seu primeiro ano, lançou sucessos enormes, como Um Estranho Casal, com os veteranos Walter Matthau e Jack Lemmon; e Descalços no Parque, com os então jovens Robert Redford e Jane Foda.
Mas seu primeiro grande acerto foi em 1968, com O Bebê de Rosemary, que se tornou o primeiro grande sucesso americano de Roman Polanski e praticamente inaugurou o cinema de terror moderno (na foto, ele, Mia Farrow e Polanski no set).
Aí Evans não parou mais. Deu o único Oscar da carreira para John Wayne (Bravura Indômita), criou a história de amor definitiva do começo dos anos 70 (Love Story) e ousou até não poder mais com o estranho (e hoje cult) Ensina-me a Viver – te dedico, @anasavini.
Evans errou? Claro. Ele recusou projetos monstruosos, como Aeroporto (que foi um sucesso gigante da Universal), Tubarão (também da Universal e filme que criou o conceito de blockbuster), Operação França (que deu o Oscar de Melhor Filme para a Fox).
Mas seus acertos ganham de lavada. Em 1972, chegou aos cinemas o mais famoso deles: a adaptação de um best seller sobre a máfia, comandado por um diretor sem muita experiência e estrelado por um ator veterano, decadente e famoso por causas problemas. Sim, esse filme da foto.
Depois disso, ainda lançou Serpico (um dos muitos filmes que deveria ter dado um Oscar a Pacino nos anos 70) e a Conversação (a famosa pequena obra-prima que Coppola fez entre Chefão e Chefão II).
Cansado de criar um sucesso atrás do outro e não ver sua conta bancária engordar na mesma proporção, Evans decidiu se tornar produtor independente - seu prestígio era tanto que ele continuou chefe da produção, acumulando as duas funções por um tempo.
Seu primeiro filme como produtor? Nada menos que o espetacular Chinatown (que marca a volta de Polanski a Hollywood depois da morte de Sharon Tate), que é estrelado por Jack Nicholson e considerado um dos maiores filmes policiais da história.
Foi só depois disso que mandou a Paramount à merda, e resolveu produzir seus próprios filmes, como Maratona da Morte e Cowboy do Asfalto. Depois diminuiu o ritmo de produção e assinou bombas como Popeye e O Fantasma.
Agora, não dá para pensar num moleque com tanto poder na Hollywood nos anos 70 sem putaria. Foi casado 9 vezes e nenhum dos casamentos durou três anos. Desde os tempos de ator, teria dormido com Ava Gardner, Grace Kelly, Lana Turner.... A lista seria imensa.
Aliás, seu casamento mais famoso com Ali McGraw, a atriz de Love Story. Mas ela o traiu com Steve McQueen, seu colega em Os Implacáves, (McQueen tinha o hábito de dormir com todas as atrizes que contracenava), terminando seu casamento para ficar com o ator.
Mas o grande inimigo de Evans foi a cocaína. Ele tinha o hábito de esfregar o dedo na gengiva o tempo inteiro durante reuniões. Não era gengivite, era cocaína. Ele enfia a mão na cocaína do bolso e esfregava na gengiva, ficando doidão o dia todo.
Isso quase acabou o colocou na cadeia duas vezes. A primeira foi sua condenação por tráfico de cocaína em 1980, mas ele passou o resto da vida jurando que era inocente e apenas usuário.
Mas a grande encrenca da vida de Evans foi mais bombástica: o notório assassinato do Cotton Club: a morte do empresário Roy Radin, que seria parceiro de Evans na produção do filme Cotton Club, dirigido por Coppola e estrelado por Richard Gere.
Radin – que Evans havia conhecido graças a uma traficante – foi morto a tiros quando o filme estava atrás de financiadores. O crime foi um “espetáculo” – quatro pessoas fizeram os disparos e ainda usaram dinamite para dificultar o reconhecimento do corpo.
Isso teria ajudado o filme a ganhar notoriedade e atrair investimento. Intimado a depor, Evans seguiu o conselho de seu advogado Robert Shapiro (que depois iria defender OJ Simpson – na foto) apelou para a 5ª Emenda (quando a pessoa se recusa a depor para não se incriminar).
(Vários relatórios da polícia dizem que pelo menos duas testemunhas foram claras ao dizer que Evans estava envolvido com o crime).
Hoje, com a morte de Evans, um ciclo importante de Hollywood vai se aproximando do fim. Não é um ciclo de pessoas corretas e bem comportadas – Scorsese, Spielberg, Lucas, Coppola, Altman... Todos têm seus pecados, maiores e menores, dessa época.
Mas é um ciclo importantíssimo. Afinal, como diz um livro famoso: “a geração sexo, drogas e rock’n’roll salvou Hollywood”. E Evans, mesmo desconhecido hoje do grande público, foi parte importante disso. Sem Evans, o cinema americano seria bem diferente – e pior – hoje.
Como dica, assistam o documentário O Show não Pode Parar, que é um documentário feito em cima da sua autobiografia e é espetacular, além de uma aula sobre a Hollywood dos anos 70 - aqui, o trailer: vimeo.com/70749983
(e sim, eu adoraria ganhar dinheiro para contar essas histórias, porque né? não custa tentar) :)
Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh.

Enjoying this thread?

Keep Current with Rob Gordon

Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

Twitter may remove this content at anytime, convert it as a PDF, save and print for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video

1) Follow Thread Reader App on Twitter so you can easily mention us!

2) Go to a Twitter thread (series of Tweets by the same owner) and mention us with a keyword "unroll" @threadreaderapp unroll

You can practice here first or read more on our help page!

Follow Us on Twitter!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just three indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3.00/month or $30.00/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!