, 18 tweets, 4 min read
My Authors
Read all threads
E lá fui eu experimentar esse tal de CrossFit... porque é pertinho de casa, porque tem hora para começar e para acabar, e porque estava curioso mesmo.

Primeiro dia de aula, tudo mais tranquilo e calmo porque sou iniciante...
E teve preparação personalizada com instrutor especialmente designado, bem separadinho da turma master que fazia 200 séries de 100 com peso no 400.

Mesmo no nível iniciante, assumo que foi complicado: começou com um tal de corre, pula, gira; carrega, se pendura e finge de morto.
Assuno que me senti como um cachorro, desses de campeonato internacional, mas sem o prêmio e o glamour, só o osso duro de roer.

E quando terminou, olhei ao redor e vi todo mundo cansado, e também me senti cansado, mas não imaginei que pudesse estar além disso...
Achei a aula tranquila, até que veio o dia seguinte...

Ah, o dia seguinte...

Os sinais de desespero surgiram quando precisei subir as escadas da entrada do Shopping Boulevard e simplesmente minhas pernas não obedeceram.... travei.
Fiquei lá, encarando a escada, a escada me encarando, a musculatura totalmente paralisada e incapaz do movimento mais simples. Demorou pouco chegou um segurança e me perguntou se estava tudo bem, aí expliquei e ele riu e sugeriu subir pela rampa, o que fiz arrastando pé ante pé.
Cara... eu simplesmente descobri a absoluta impossibilidade de dobrar as pernas e a dor extrema de todos os músculos da perna, e até arrastando o pés eu sentia dor e pensava em morrer e voltar para casa.
Já na praça de alimentação, depois de muito esforço, consegui dobrar as pernas só para chegar uma amiga e me fazer passar vergonha. Acontece que a perna, depois de dobrada, não desdobrava mais.

Travei na posição lord inglês e pronto, ala a vergonha.
Para me levantar eu bati na mesa, quase cai e não tive força para me colocar de pé. Cai sentado na cadeira e minha pobre amiga me olhava assustada tentando entender o que se passava.

Talvez ela achasse que estava sofrendo um AVC, algo do gênero, pois me olhos preocupada.
Até que expliquei e fui alvo de risadas, e nem podia me mexer para rir junto, pois o simples respirar já me doía todo o tórax, abdômen, pernas braços cabeça e órgãos internos.

Tive que aceitar o escárnio.
Mas o pior - o pior mesmo - aconteceu no final do dia, quando estava voltando para casa, andando que nem um robô com hérnia de disco nos joelhos, igual ao Robocop Gay, e fui atravessar a O de Almeida...

Ah, a rua O de Almeida...
rua pequena;

todo dia atravesso;

já sei a exata velocidade - impulso - força motriz - necessária pra percorrer seus poucos metros;

Tudo certinho, vi um carro mais lento e distante e me preparei para cumprir o intento de cruzar a rua.
Por que o Tanto atravessou a rua?

Exatamente, para morrer atropelado, pois quem disse que consegui?

Firmei o pé esquerdo, preparei o pé direito para o salto e, no ato do pulo, me vi travado no meio da rua, o carro que vinha jogando luz e buzinando, e uma velhinha gritando AAAAA
BENZA DEUS...

...já vi minha mãezinha pedindo a Nossa Senhora por meu pronto restabelecimento...

...já vi as crianças chorando no meu velório e minha vida passou diante de mim como um filme noir, mistura de tristeza com Rocky V, aquele em que ele apanha pacas.
Tirando o drama, o cara freou e me xingou, mas deve ter rido depois ao me ver saindo da rua arrastando as pernas em posição de pliê...

Não devem ter entendido porra nenhuma e não devo explicações a ninguém, mas tratei de andar mais rápido para não precisar encarar ninguém rindo.
Cheguei em casa com muito esforço, demorei quase 20 minutos para tirar a roupa (especialmente a cueca), e me joguei no sofá, pois se me jogasse no chão só levantaria depois que alguém chegasse para me socorrer.
E os dias passaram a dor não melhorou.

Pensei até que o CrossFit tivesse escangalhado bem na minha vez, me deixando quebrado, e as crianças pulando nas minhas pernas bem doloridas e rindo da minha cara de sofrimento achando que era palhaçada.
“Hahahahaha olha esse grito engraçado que o papai faz quando a gente pega na mão dele”

“Hihihihi, agora o papai chora quando a gente pega na orelha dele”

Sofrimento de pai que não pode parar, mesmo estando enfermo.
No domingo ainda não conseguia tomar banho direito. Defecar se tornou um enorme problema.

Apesar disso, me atrevi e fui novamente à aula, só para ver qualé.

Amanhã, se meus braços funcionaram, aviso das consequências.

Fim.
Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh.

Enjoying this thread?

Keep Current with TANTO

Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

Twitter may remove this content at anytime, convert it as a PDF, save and print for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video

1) Follow Thread Reader App on Twitter so you can easily mention us!

2) Go to a Twitter thread (series of Tweets by the same owner) and mention us with a keyword "unroll" @threadreaderapp unroll

You can practice here first or read more on our help page!

Follow Us on Twitter!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just three indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3.00/month or $30.00/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!