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#HallowTanto

4ª Noite

A história de hoje encerra minha comemoração do dia das bruxas.

É um relato triste, amargo e desolador, uma quase loucura extremamente real, para infelicidade da narradora.

Recebi por DM.

Por razões diversas, a pessoa pede anonimato completo.
"Faz alguns anos, vim do interior estudar na cidade grande.

Vim com grana curta, e uma das opções para economizar era dividir moradia. Por coincidência, uma amiga tinha acabado de alugar um imóvel de três quartos, para mesma finalidade, e faltava uma pessoa para fechar a conta.
Sendo alguém conhecido, achei maravilhoso, mas também pedi referência da 3ª menina, de quem não sabia nada.

Minha amiga, Dani, explicou que também não a conhecia, que tinha sido indicação de outros amigos, mas tinha simpatizado com ela.

Resolvi arriscar.
Dias depois, já estava no local, entrando numa rotina muito bacana, e não tinha o que reclamar das minhas companheiras.

Até que coisas chatas começaram a acontecer. A 3ª menina, Agda, começou a usar algumas coisas minhas sem autorização e, por vezes, dizia que eram suas.
Eras anéis e outras bijuterias, pequenos objetos e até roupas. De cara, achei que ela fosse cleptomaníaca, mas resolvi não fazer caso, pois era coisa pouca e não ia jogar fora minha morada e minha paz por isso.

Mas, por via das dúvidas, comecei a trancar meu quarto sempre.
Até que sumiu um estojo de maquiagem do qual eu morria de ciume, que me custou horas de trabalho.

Reclamei com a Dani, fizemos uma pequena reunião, mas Agda disse que não tinha sido ela. Clima chato, horrível, e o estojo acabou 'aparecendo' dias depois, misteriosamente...
...a partir daí, começou meu tormento, em que senti que minha alma estava sendo consumida, junto com corpo, num passeio bem perto da morte que me marcou para sempre...
Num feriado, fui visitar minha família.

Na volta, meu quarto continuava trancado, mas havia uma espécie de terra perto da janela. Procurei a origem daquilo, mas não havia nada. A piorar, a terra fazia uma espécie de desenho que não consegui reconhecer.
Havia também uma mala antiga, de couro, fechada com um cadeado.

Agda foi a única que ficou no apartamento naquele feriado, então fui perguntar e a ela respondeu que a terra deve ter entrado com a chuva.

Sobre a mala, devia ser minha e 'eu não estava lembrando'.
Ela ainda estava visivelmente irritada comigo, pela acusação do estojo de maquiagem, então preferi não levar aquilo adiante.

Limpei o quarto e, após me certificar que a mala não era da Dani, guardei no depósito do prédio sem nem querer saber o que havia dentro.
Nesta noite tive sonhos horrendos, como se alguém, estivesse no quarto junto comigo.

Um sono leve intercalado com despertares sufocados.

Nunca suei tanto quanto nesta noite, e já me preparava para um dia seguinte terrível quando, ao acordar, me deparei com algo estranho.
Meu quarto estava repleto de larvas de mosca, daquelas brancas e nojentas. Por todo o canto, pelo chão e pelas paredes, havia aqueles vermes se retorcendo.

Sai do quarto para buscar uma vassoura, e no caminho pisei em várias daquelas larvas. Foi um trabalho limpar tudo.
Quando voltei da aula, de noite, para meu total espanto, o quarto estava novamente repleto de larvas e, desta vez, havia muitas moscas, como se houvesse algo em decomposição lá.

A Dani, vendo o estado do quarto, me ajudou a limpar tudo, e por isso fui dormir tarde.
E novamente tive sonhos horrendos com minha morte, com presenças estranhas e malignas.

Acordei de madrugada com alguém me chamando, mas não havia ninguém no quarto. Depois disso, não consegui mais dormir, com medo que as larvas voltassem.
E elas voltaram, mas pela casa inteira, uma infestação de moscas e larvas que obrigou a diversos telefonemas meus e da Dani. Enquanto isso, Agda passou a ficar cada vez mais introspectiva e calada, quase sempre trancada no seu quarto.
Foi aí que comecei a ver coisas...

Eu estava chegando em casa de noite e peguei o elevador sozinha. Já chegando no andar, vi nitidamente uma pessoa atrás de mim e dei um grito de susto.

Falei: 'Desculpa, não vi você entrar', mas, quando virei, não tinha ninguém lá.
Entrei desesperada em casa, e me tranquei, como se isso pudesse evitar outras coisas, mas tudo ficou pior: passei a ver sombras me seguindo em diversos cômodos, nos momentos mais diferentes, e passei a andar assustada, como se a própria morte estivesse me rondando.
Nada daquilo era possível... escovando os dentes, senti alguém respirar no meu pescoço. Tomando banho, percebi vultos me observando por fora do box... vi pessoas na cozinha e, quando ia averiguar, não tinha ninguém e estava sozinha.

Isso foi me definhando.
Não sei como sobrevivi a esse período. Hoje, olhando para trás, percebo que quase sai dos trilhos. Crises de ansiedade, inexplicáveis crises de choro, medo de ir ao banheiro, de dormir... insônias horrendas. Perdi 12 quilos nesse período, passei a sentir dores de estômago...
...e fazia de tudo para ficar na rua, somente para não voltar para casa. Teve dia em que passei mais de 30 horas na rua, sem tomar banho, casada, sem rumo, só pelo temor de ter que enfrentar aquele martírio.

Dani percebia o que estava acontecendo, enquanto Agda seguia isolada.
Juro que pensei em morrer. Estive bem perto disso, inclusive, com problemas na faculdade, notas baixas, moscas, larvas, vultos, presenças estranhas, e insônia, dores, fome, solidão.

O auge ocorreu em uma noite de setembro...
Estava dormindo o sono de sempre, cheio de pesadelos, quando acordei com um homem de preto, misturados às sombras da noite, me encarando no quarto.

Eu quis gritar, mas, antes disso, ele pulou em mim e me engasgou com tanta força que apaguei.
Apaguei, ou acho que dormi, ou não sei...

Só sei que acordei com centenas de vozes e gritos no quarto, gritos e urros terríveis, vindo não sei de onde - e estava sozinha em casa, era quase meio dia e tinha perdido mais uma vez o horário.

Sentei na cama e chorei.
Uma outra amiga me ofereceu ajuda. Sempre contei a ela sobra meu sofrimento, então, belo dia, ela me levou em uma senhora que me benzeria e tiraria cartas, para tentar resolver aquilo.

Aceitei de bom grado e, nem bem a mulher tirou as 1ªs cartas, ficou com uma cara grave.
A 1ª coisa que ela disse foi:

- Você precisa se mudar, ou se afastar de alguém.

E depois, desandou a falar de uma presença próxima com forte ligação com o outro mundo, com almas das profundezas, uma pessoa poderosa que desejava o meu fim.
- Ela não vai descansar enquanto você não acabar de viver, filha...

Quantas mais cartas ela ia tirando, mais assustada eu ficava com as revelações terríveis que ela fazia.

Até que ela perguntou:

- Ela te deu alguma coisa? Qualquer coisa grande, tipo uma caixa ou mala?
Imediatamente lembrei da mala que tinha achado em meu quarto, que não era de ninguém, e que estava guardada no depósito do prédio. Talvez ainda estivesse lá e, encerrada a consulta, sai correndo para casa.

Chamei a Dani e levei minha amiga junta. Entramos no breu do depósito...
E a mala estava lá, da forma que deixei, trancadinha.

Dani já começava a acreditar em mim, porque teve algumas provas das coisas estranhas que vinham acontecendo - somado às atitudes malucas da Agda. Ela também queria resolver aquilo, tanto quanto eu.

E a mala, bem...
Arrombado o cadeado, na mala encontramos uma série de coisas estranhas... pequenos ossos, pequenos símbolos e sacos de tecido cheios de terra. Os ossos, acho que eram de gato ou cão, e também havia machas, acho que sangue seco.

E muitos objetos meus, e fotos minhas.
Por orientação da senhora, levamos tudo aquilo em um centro espírita que ela indicou. Fizeram uma espécie de ritual por cima das coisas e, por fim, queimamos tudo em uma fogueira.

Já naquele momento eu senti um alívio que, faz tempo, não havia.
E voltamos para casa com sal grosso e um banho de arruda. Joguei o sal por todos os cantos, principalmente em portas e janelas. Lavamos tudo que deu com o banho de arruda, depois nos banhamos, as três, com aquilo.

Agda seguiu trancada, como se nada acontecesse.
Nesse noite, ainda tive um último pesadelo.

No meio da noite, vi diversas 'pessoas' no meu quarto, me olhando em silêncio, mas não senti medo. Ela, uma a uma, foram saindo e partindo, caladas.

No final, vi meu pai, já falecido, que chegou perto de mim e me abraçou.
Eu a Dani decidimos dar um ultimato para Agda. Ou ela saia de casa, ou nos sairíamos - e sabíamos que ela não poderia bancar sozinha com o aluguel.

Mas nem foi preciso conversa. Agda passou três dias sumida e, quando voltou, foi para pegar suas coisas e dizer que estava mudando.
Aquela noite, sem Agda em casa, foi minha redenção. Eu cozinhei, dancei nua pela casa festejando, e mesma a Dani, que de início não acreditou nas ocorrências, parecia mais feliz e leve.

Pela primeira vez, em mesas, consegui dormir uma noite inteira.
Semanas depois, já tinha conseguido recuperar notas, já tinha ganhado peso e estava feliz. Inclusive, comecei a namorar meu atual namorado - o que também foi previsto pela benzedeira - e posso dizer que estou enormemente feliz.

Eu, que pensei que a morte me rondava, sou só vida.
Mas o desfecho não foi de todo tranquilo...

Apesar de cidade grande, continuamos tendo amigos em comum. Para alguns a gente avisa, para outros, nem adianta, pois parecem enfeitiçados...

Até por isso peço sigilo, porque essa mulher ainda está aí e, de verdade, tenho medo.
E teria deixado essa história esquecida, morta igual o espírito ruim, se não fosse um fato novo...

Semana passada fui procurado por uma conhecida, amiga de uma amiga de uma moça que mora atualmente com a Agda.

E adivinhem? Ela está passando pelas mesmíssimas coisas.
Segundo o relato, a moça está definhando, já perdeu peso, está anêmica e quase desfalecida... Ninguém sabe a razão, mas ela relatou coisas estranhas, fantasmagóricas, então vieram falar com as antigas companheiras de apartamento para tentar descobrir algo, pois desconfiam...
Contei...

Contei tudo, e vou fazer de tudo para impedir que essa moça se vá, como quase aconteceu comigo - pois tenho a exata noção da dor e desespero que ela está passando.

Fim
E chegamos ao fim da nossa 4ª noite de #HallowTanto. Com ela, chegamos também ao fim de nosso curto, mas profundo, evento.

Espero que vocês tenham gostado, pois fiz tudo com bastante carinho para que ninguém dormisse.

Lembrem: o mal existe e durmam de luz acesa.
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