4ª Noite
A história de hoje encerra minha comemoração do dia das bruxas.
É um relato triste, amargo e desolador, uma quase loucura extremamente real, para infelicidade da narradora.
Recebi por DM.
Por razões diversas, a pessoa pede anonimato completo.
Vim com grana curta, e uma das opções para economizar era dividir moradia. Por coincidência, uma amiga tinha acabado de alugar um imóvel de três quartos, para mesma finalidade, e faltava uma pessoa para fechar a conta.
Minha amiga, Dani, explicou que também não a conhecia, que tinha sido indicação de outros amigos, mas tinha simpatizado com ela.
Resolvi arriscar.
Até que coisas chatas começaram a acontecer. A 3ª menina, Agda, começou a usar algumas coisas minhas sem autorização e, por vezes, dizia que eram suas.
Mas, por via das dúvidas, comecei a trancar meu quarto sempre.
Reclamei com a Dani, fizemos uma pequena reunião, mas Agda disse que não tinha sido ela. Clima chato, horrível, e o estojo acabou 'aparecendo' dias depois, misteriosamente...
Na volta, meu quarto continuava trancado, mas havia uma espécie de terra perto da janela. Procurei a origem daquilo, mas não havia nada. A piorar, a terra fazia uma espécie de desenho que não consegui reconhecer.
Agda foi a única que ficou no apartamento naquele feriado, então fui perguntar e a ela respondeu que a terra deve ter entrado com a chuva.
Sobre a mala, devia ser minha e 'eu não estava lembrando'.
Limpei o quarto e, após me certificar que a mala não era da Dani, guardei no depósito do prédio sem nem querer saber o que havia dentro.
Um sono leve intercalado com despertares sufocados.
Nunca suei tanto quanto nesta noite, e já me preparava para um dia seguinte terrível quando, ao acordar, me deparei com algo estranho.
Sai do quarto para buscar uma vassoura, e no caminho pisei em várias daquelas larvas. Foi um trabalho limpar tudo.
A Dani, vendo o estado do quarto, me ajudou a limpar tudo, e por isso fui dormir tarde.
Eu estava chegando em casa de noite e peguei o elevador sozinha. Já chegando no andar, vi nitidamente uma pessoa atrás de mim e dei um grito de susto.
Falei: 'Desculpa, não vi você entrar', mas, quando virei, não tinha ninguém lá.
Isso foi me definhando.
Dani percebia o que estava acontecendo, enquanto Agda seguia isolada.
O auge ocorreu em uma noite de setembro...
Só sei que acordei com centenas de vozes e gritos no quarto, gritos e urros terríveis, vindo não sei de onde - e estava sozinha em casa, era quase meio dia e tinha perdido mais uma vez o horário.
Sentei na cama e chorei.
Aceitei de bom grado e, nem bem a mulher tirou as 1ªs cartas, ficou com uma cara grave.
- Você precisa se mudar, ou se afastar de alguém.
E depois, desandou a falar de uma presença próxima com forte ligação com o outro mundo, com almas das profundezas, uma pessoa poderosa que desejava o meu fim.
Quantas mais cartas ela ia tirando, mais assustada eu ficava com as revelações terríveis que ela fazia.
Até que ela perguntou:
- Ela te deu alguma coisa? Qualquer coisa grande, tipo uma caixa ou mala?
Chamei a Dani e levei minha amiga junta. Entramos no breu do depósito...
Dani já começava a acreditar em mim, porque teve algumas provas das coisas estranhas que vinham acontecendo - somado às atitudes malucas da Agda. Ela também queria resolver aquilo, tanto quanto eu.
E a mala, bem...
E muitos objetos meus, e fotos minhas.
Já naquele momento eu senti um alívio que, faz tempo, não havia.
Agda seguiu trancada, como se nada acontecesse.
No meio da noite, vi diversas 'pessoas' no meu quarto, me olhando em silêncio, mas não senti medo. Ela, uma a uma, foram saindo e partindo, caladas.
No final, vi meu pai, já falecido, que chegou perto de mim e me abraçou.
Mas nem foi preciso conversa. Agda passou três dias sumida e, quando voltou, foi para pegar suas coisas e dizer que estava mudando.
Eu, que pensei que a morte me rondava, sou só vida.
Semana passada fui procurado por uma conhecida, amiga de uma amiga de uma moça que mora atualmente com a Agda.
E adivinhem? Ela está passando pelas mesmíssimas coisas.
Contei tudo, e vou fazer de tudo para impedir que essa moça se vá, como quase aconteceu comigo - pois tenho a exata noção da dor e desespero que ela está passando.
Fim
Espero que vocês tenham gostado, pois fiz tudo com bastante carinho para que ninguém dormisse.
Lembrem: o mal existe e durmam de luz acesa.