Alex estava quase sempre feliz e risonho, apesar da miséria, da deficiência e das drogas.
Muitas vezes o encontrei destronado, jogado na calçada com lixo e bichos.
Outras vezes não era ele, a droga afundando sentidos e Alex no fundo, incapaz de submergir.
Um dia foi-se e não voltou. Na rua, pode significar tudo, inclusive morte.
Pedi desculpa e, quando vi, havia o rosto que me sorria de ponta à ponta, numa felicidade incrível.
- Bicho, como você some assim sem avisar...?
Mas ele estava bem. Aceitou convite de sua tia e foi morar com a mulher que deu banho e cuidou das feridas, e suportou a barra da abstinência.
Foram muitos picos da pedra que a tia suportou com firmeza. Agora ele respira por si, gordinho, bem diferente do corpo seco tal qual galho de árvore morta que conheci.
Trocamos contatos e tenho que visitá-lo. Quer me apresentar à tia salvadora.
Quer que os amigos de antes conheçam a vida de agora. Me chamou de amigo e tem orgulho de si.
Quando se despediu, disse que tinha encontrado Deus, que agora sabia que sua tia é Deus.
E num mundo tão cruel, quem sou eu para duvidar da divindade particular do risonho homem que antes era lixo, e agora renasceu?
Espero encontrá-lo com mais frequência agora, pois, sem dúvida, foi motivo de enorme alegria.
Fim.