Sempre que mencionam o filme Matrix, inclusive indiretamente (red pill e tal), eu me pergunto: será que também leram o livro Neuromancer (1984), do William Gibson? Quem o leu sabe que o filme poderia ter ido muito, muito mais longe. Foi Gibson que criou o conceito da "matriz".
No filme, a Matrix é, por assim dizer, geocêntrica absoluta. Não leva em conta outros planetas. No livro, quando indagada se ela é Deus, se é fonte de tudo, responde que não, que está entrando em contato com suas semelhantes, espalhadas pelo universo.
Curiosamente, no livro, Zion não é um refúgio subterrâneo, mas uma estação espacial na qual os astronautas, desinteressados do mundo, cultivam maconha hidropônica e passam o tempo a viajar na maionese. Como nunca voltam à Terra, são raquíticos, enfermiços.
Em Neuromancer, a Matrix/Matriz comenta: as mensagens de outras matrizes já haviam sido detectadas nos anos 1970, mas os astrônomos não as reconheceram como transmissões artificiais, inteligentes. E finaliza afirmando que, agora, estão se conectando umas às outras...
Então, imagine: mais do que a conspiração local de uma única inteligência artificial apresentada no filme, o livro Neuromancer, em seu capítulo final, deixa em aberto a possibilidade de se viajar para outras matrizes, para outros mundos virtuais espalhados pelo cosmos.
E é por isso que, ao assistir às continuações, me decepcionei tanto. (Li o livro em 2000, um ano após ter visto o filme pela primeira vez.)
