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Agora que o Brasileirão terá um clube cujo nome faz referência explícita a uma empresa "de fora" do futebol, é uma boa oportunidade para recordar alguns clubes sul-americanos que fizeram barulho e também traçam a origem de seus nomes em instituições originalmente alheias ao jogo.
Claro: essa é uma história diversa. Muitos dos times que trazem nomes de empresas foram fundados pelos próprios empregados da companhia, lá no início do século 20 - era uma relação diferente da que costuma ocorrer hoje, com empresas chegando e se adonando de clubes já existentes.
Há, também, os casos de clubes que surgiram em instituições de ensino, muito comuns em países como o Chile e o Peru, repletos de "universidades" disso e daquilo.

Vamos dar uma viajada por clubes sudacas cujos nomes remetem a alguma CORPORAÇÃO, ESCOLA ou afins.
🇦🇷 Começando por um dos mais antigos: o ENGLISH HIGH SCHOOL, de Buenos Aires, fundado em 1898 por estudantes da própria, dominou o futebol argentino no início do século 20. Após ganhar seu 1º título com esse nome, em 1900, passou a se chamar Alumni Athletic Club.
O Alumni emendaria outros nove troféus entre 1901 e 1911, antes de desaparecer em 1913. Com 10 títulos, ainda é o 6º maior campeão argentino da história, quando incluída a era amadora, à frente de gente como Estudiantes de La Plata, Newell's ou Rosario Central.
🇦🇷 Há muitíssimos clubes originados de empresas ferroviárias. Um dos que seguem vigentes na Argentina é o Ferro Carril Oeste, nascido em 1904 pelas mãos de trabalhadores da... isso mesmo: companhia ferroviária Ferrocarril Oeste de Buenos Aires.
Campeão argentino nos anos 80, o Ferro Carril Oeste não vive seus melhores dias. Hoje, um clube cujo nome remete às ferrovias e vem bem é o Central Córdoba de Santiago del Estero, vice da última Copa Argentina. Central Córdoba também era uma linha de trens.
🇧🇴 Na Bolívia, trabalhadores da estatal local do petróleo, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), estão por trás da origem de algumas equipes que marcaram época no futebol de lá. O mais forte, até hoje, é o Oriente Petrolero, de Santa Cruz de la Sierra, de 1955.
Mas há outros clubes também fundados por funcionários da YPFB. Outro que conseguiu ser campeão boliviano foi o CHACO PETROLERO, de La Paz, campeão em 1970 e presente nas Libertadores de 71 e 72, hoje longe de qualquer glória ou brilho, perdido nas divisões inferiores.
🇨🇱 Fazer referência implícita ao NEGÓCIO que originou o clube, como os bolivianos do petróleo, também acontece com os chilenos do cobre. Nenhum leva 100% o nome da companhia que ajudou a mantê-los no início (e que empregava seus torcedores/jogadores), mas a conexão é óbvia.
Falamos, é claro, do Cobreloa e do Cobresal, de Calama (província de El Loa) e El Salvador, respectivamente. O Cobreloa é mais bem-sucedido, o clube mais campeão do Chile de fora de Santiago, mas o Cobresal também fez estrago, sendo campeão chileno em 2015.
O logo dos times MINEIROS do Chile traz uma referência óbvia ao símbolo do cobre, mas não só: é uma lembrança à Corporación Nacional del Cobre (Codelco), por trás da empreitada no subsolo e nos gramados. Os dois surgiram no fim da década de 70, de equipes amadoras pré-existentes.
Uma ligação muito mais óbvia é a dos gigantes universitários: tanto a Universidad de Chile quanto a U. Católica surgiram no interior das instituições de ensino cujo nome carregam ainda hoje, mas o futebol profissional foi inteiramente separado do resto entre os anos 70 e 80.
Quem também faz uma conexão explícita à instituição de onde nasceu é o Huachipato, embora não pareça à primeira vista: Huachipato é o nome da siderúrgica pertencente à Companhia de Aço do Pacífico (CAP), da cidade de Talcahuano, onde o clube se originou em 1947.
Huachipato, dizem, significa "armadilha para caçar aves" na língua dos mapuche. O clube faz várias referências à indústria do aço: ainda joga no Estádio CAP, e seu escudo traz o logo adaptado da U.S. STEEL, popularizado no esporte pelo Pittsburgh Steelers, do futebol americano.
🇨🇴 Na Colômbia, o caso mais explícito dos últimos anos é o La Equidad, da seguradora de mesmo nome, fundado em 2008. Ainda não ganharam nada, mas têm sido presença constante nas Sul-Americanas do mundo.
Outro clube que esbanjou nome empresarial, mas sempre por patrocínio, foi o Once Caldas: na época de vacas magras, foi Cristal Caldas (aguardente), Varta Caldas (baterias), Once Philips (dispensa apresentações) e Once Caldas Leona (cerveja).
🇪🇨 Dentre os clubes com nomes originados fora do futebol, um dos maiores entre os NÃO-EDUCACIONAIS é o Emelec. Um dos maiores campeões do Equador e figurinha carimbada na Libertadores, deriva seu nome da EMpresa ELéctrica del ECuador, onde seus fundadores trabalhavam.
A Emelec, a empresa, quebrou em 2009 e deu lugar à "Eléctrica de Guayaquil", mas o clube segue firme e forte.
Outro clube equatoriano com um nome descaradamente empresarial foi o FILANBANCO, fundado em 1979 pelo banco de mesmo nome. Chegou a ser vice nacional em 87 e jogou a Libertadores seguinte. Fechou em 91. Tinha até uma filial, com nome de cartão de crédito: o FILANCARD F.C.
🇵🇪 O gigante Sporting Cristal, que deriva seu nome de uma cerveja peruana, é outro com uma história 100% empresarial: até o clube do qual ele nasceu já era ligado ao comércio de alguma coisa - chamava-se SPORTING TABACO.
O clube surgiu em 1955, um ano após a Cervejaria Backus y Johnston ser vendida pelos donos ingleses a empresários peruanos. No ano seguinte, começaram conversas para juntar o investimento dos cervejeiros com a torcida/sócios/futebol do Sporting Tabaco, que passava dificuldades.
O Tabaco, fundado em 1929 por trabalhadores do Estanco de Tabaco del Perú, uma estatal que monopolizava o fumo no país, foi dissolvido. De suas cinzas surgiu o Sporting Cristal Backus (depois o Backus caiu fora), referência à cerveja mais vendida.
O Peru também é pródigo em equipes ligadas de alguma forma a instituições de ensino, geralmente carregando o nome por razões de patrocínio (e não por terem se originado como departamentos esportivos das instituições, como os gigantes chilenos).
É o caso, por exemplo, do Colegio San Agustín, fundado em 1970 e que adotou este nome em 1983, após parceria com uma escola de Lima. Foi campeão peruano em 1986.

No século 21, Universidad San Martín de Porres e Universidad César Vallejo andaram fazendo estragos por lá.
🇻🇪 Dois clubes do estado de Bolívar surgiram nos anos 80 com referências diretas à mineração que dava tanto dinheiro à região (e investimento na bola). O Mineros de Guayana segue até hoje, o Minerven (cujo nome remete à Compañía General de Minería de Venezuela) é saudoso.
No Brasil, não faltaram clubes com referência a empresas ou negócios externos à bola, mas em geral o nome se originava de times criados por trabalhadores. Casos, por exemplo, da Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce (ES) ou do Valeriodoce (MG), ligados, na origem, à Vale.
Ou o Siderúrgica, de Sabará (MG), fundado por operários da Usina Siderúrgica Belgo-Mineira.
Um caso simbólico para o passado e presente, no Brasil, é o Paulista: seu nome histórico (e utilizado atualmente) vem da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, onde seus fundadores trabalhavam. Mas, entre 1998 e 2002, por razões de patrocínio, o clube foi nomeado ETTI JUNDIAÍ.
Enfim, há muitos outros. São só alguns exemplos. A história é mais ou menos assim: no início do século 20, se há uma relação com empresa, normalmente é porque os fundadores trabalhavam lá. Desde os anos 80, quase sempre são clubes que se chamam assim por conta de patrocínios.
Se vocês querem APELAR, dá para pegar o Campeonato do Distrito Federal na era amadora: como Brasília surgiu do zero já com meio século 20 andado, os primeiros clubes de futebol de lá eram literalmente TIMES DE REPARTIÇÃO e equipes de operários que ergueram a cidade.
Entre os primeiros campeões brasilienses, aparecem clubes como Defelê (Departamento de Força e Luz), Rabello (da Construtora Rabello), e até a Associação Atlética SERVIÇO GRÁFICO, campeã em 1972, de funcionários da gráfica do Senado.
Que maravilha. O Armour, de Livramento (RS), cujo nome vem de um FRIGORÍFICO.
Um dos muito citados foi o glorioso PEPEGANGA MARGARITA, da Venezuela. Pepeganga era o nome de uma popular loja de departamentos no país nos anos 80. O clube jogou a Libertadores de 1990 e chegou às oitavas-de-final, quando levou um agregado de 9x0 do Independiente de Avellaneda.
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