Thread by @FernandoHortaOf

Um fio para dizer porque, afinal, vai dar muita merda o ato impensado dos EUA ao matar o número dois do exército iraniano.
E serve também para o Brasil pensar na mão de quem está a sua diplomacia ...

Clausewitz colocou em palavras o que desde os gregos se sabia: a guerra é a política por outros meios. Isto significa que os agentes, na imensa maioria das vezes, agem como um ator racional, ou seja, fazendo um cálculo de custo-benefício para agir.

As Relações Internacionais afirmam que o "meio internacional", o espaço de ação dos agentes não contido por leis nacionais é "caótico". Não há, portanto, a submissão de um agente (estado) a uma lei superior. Além disto, as RI's afirmam que os Estados buscam sempre sobrevivência.

Colocando as duas coisas juntas, temos que os Estados agem racionalmente (adequando meios a fins) em busca de sua sobrevivência.
Daí que a linha de pensamento chamado de "realismo" afirma que se estas duas premissas estiverem juntas, Estados fracos se associam para se defender.

Daí surge o princípio da "balança de poder".
Segundo esta ideia, no meio internacional (anárquico) estados militar, economicamente ou em posição desfavorável vão formar coalizões contra o Estado forte para buscarem proteção. No fim das contas para não serem exterminados.

Os EUA até o início de 2018 detinham a superioridade econômica e militar sobre os outros países, exercendo seu poder e sua influência sem restrição pelo mundo todo.
Este cenário mudou, a China hoje ameaça se tornar a principal economia do mundo e a Rússia tem vantagem militar.

Se você somar o PIB da China e seus aliados (Rússia, Índia, Coréia, Irã e etc.) já dá mais de 125% o PIB dos EUA ...
Além disto, a China está mais adiantada no desenvolvimento de inteligência artificial e a Rússia detém, sozinha hoje, os temidos mísseis supersônicos.

Os EUA ainda possuem algumas cartas visto terem sido a nação que gastou mais em meios militares durante todo o século XX e ainda hoje gasta cinco vezes mais do que o resto do mundo todo somado.

Aqui introduzimos um outro conceito, o chamado "complexo de segurança".
Um "complexo de segurança" é uma associação de países que procura controlar uma região e defende-la em caso de ataques externos. O complexo de segurança precisa essencialmente de 3 coisas:

1) ser auto-suficiente (ou quase) nos meios necessários à guerra. Isto significa população, água, energia, ferro, carvão e mais recentemente em tecnologia digital.

2) um "complexo de segurança" precisa agir como um único país, mobilizando (ou tendo estratégia de mobilização conjunta) de todos os recursos necessários a uma guerra de defesa. Incluindo aí apoio inconteste de suas populações.

3) Um complexo de segurança precisa ter reforçadas as suas lealdades e o compromisso de que o ataque a um é um ataque a todos. Esta "lealdade" é a única coisa que permite o complexo "sobreviver". É aumentando os custos de um ataque a qualquer membro pela resposta de todos.

Rússia, China, Coréia do Norte e Irã fazem um "complexo de segurança" no oriente. A população destes países somadas supera e muito qualquer outro país, o controle de fontes abundantes de petróleo, tecnologias de guerra e a proximidade geográfica os transformam em aliados.

Além disto, todos partilham da experiência de terem sido atacados ou ameaçados pelos norte-americanos em algum momento da sua história. A Rússia durante toda a Guerra Fria, a coréia do norte teve mais de 70% da sua população masculina dizimada em 1953 e o Irã é alvo sempre.

Assim, por uma questão da segurança de todos, o cálculo racional da reação de defesa à ação norte-americana se torna imperativo pela reação. Ao "hegemon" (os EUA) interessa atacara cada país em separado visando diminuir a capacidade de defesa de todos.

Acontece que a TODOS os outros países do complexo de segurança, a queda de um significa a queda de todos, mesmo o mesmo mais fraco e periférico. Foi por isto que eles todos realizam (e realizaram recentemente) "exercícios militares conjuntos", para exibirem sua aliança.

Há, ainda, países que geograficamente estão no meio do conflito. Países como Coréia do Sul, Índia, Israel, Vietnã, Japão, poderão ser dragados para o conflito mesmo sem querer. E eles vão se aliar ao lado que lhes garantir MENOR DESTRUIÇÃO.

Durante a Guerra Fria, por exemplo, mesmo a Europa sendo aliada ideológica dos EUA, a todo tempo os europeus deixaram clara a sua posição de aceitarem inclusive a suposta invasão de exércitos soviéticos, mas não aceitariam um bombardeio nuclear "defensivo" dos americanos.

Isto significa dizer que é mais provável que estes países se declarem neutros ou pesem na balança "contra" os EUA. Isto porque em caso de vitória do país mais forte contra a coalizão o que garante que este não se volte contra antigos aliados? O equilíbrio do mundo está em jogo.

E para piorar este cenário, Trump fez isto em meio a um momento de fraqueza política (o processo do impeachment), de início curva descendente da economia (previsa há mais de dois anos) e com a oposição crescendo em momento eleitoral. Ou seja, os EUA não estão internamente prontos

Nem a opinião pública norte-americana, nem o Congresso foram consultados ou se mostram propensos a aceitar o conflito. Com déficits internos crescentes e o risco de perderem a primazia econômica e militar, este é o PIOR momento da história dos EUA para uma guerra desta proporção.

E, em vias de encurtar muito o seu tempo de soberania sobre o mundo, os EUA cometem o enorme erro (que a Inglaterra, por exemplo, não cometeu) de se jogarem num conflito impossível de vencer.
E o Brasil, de forma completamente ignorante a errada se alia a uma potência em declínio

A política externa de bolsonaro destrói o Brasil e agora corremos o risco de sermos colocados numa aliança em favor dos EUA.
A única coisa "boa" é que talvez os militares que vivem fanfarroneando brados de guerra sem nunca terem enfrentado QUALQUER conflito tenham que ir a guerra

vai ser bom ver a covardia verde-oliva que, quando se trata de espancar o cidadão que paga os salários deles vão nos meios de comunicação gritar "aço!", "selva" e outras idiotas.
Agora vamos ver as calças amareladas ...