Uma voz negra se levantou durante a ditadura, clamando o Orgulho que assombrava os militares. Com sua estética artística e suas letras com mensagens poderosas ele se tornou um dos maiores nomes no nosso panteão de heróis pretos. Acompanha na thread a história de Tony Tornado 
Antônio Viana Gomes nasceu praticamente na pós abolição, 1930. Época que o desamparo lançava negros às ruas e o governo acreditava na imigração para branquear a população brasileira, o garoto se lançou com 11 anos para o RJ e trabalhou basicamente engraxando sapatos
Se alistou no exército que se mostrou a única porta para a ascensão na sociedade brasileira - vários oficiais do exército estavam comprometidos a promover uma educação que suprimisse a consciência étnica no país.
Nos anos 60 ele acabou saindo do exército e começou sua carreira musical, ganhou o apelido Toni Checker, imitando o Chubby Checker no programa “Hoje é dia de Rock”, também ficou conhecido pela imitação do Little Richard
Toni foi escolhido pelos dentes em um teste para viajar o mundo com o grupo “Brasiliana”, viveu alguns anos na Europa fazendo shows, mas quando o contrato acabou resolveu ir com a cara e a coragem para os EUA, lá, as coisas ficaram feias.
Viveu no Harlem bem na época que os pretos estavam queimando com o bairro. Lutou contra a pobreza e também contra a imigração, para sobreviver trabalhou com traficantes armados e até se tornou cafetão, protegendo mulheres que trabalhavam nas noites.
Toni ganhou grana, mas também estava se alimentando da musicalidade negra na raiz, o Soul Music de James Brown e o empoderamento estético do movimento Black Power foram absorvidos pelo cantor que fingia trabalhar em um lava carros para despistar a polícia.
Não demorou muito para que seu sucesso no Harlem chamasse a atenção. Foi preso e deportado para o Brasil. Adotou o nome Johnny Bradfort e, aqui, encontrou muitos negros ainda reproduzindo estereótipos que a sociedade impunha e alisando o cabelo.
Em 1970, disputou com Gonzaguinha e Ivan Lins no Festival Internacional da Canção e saiu vitorioso com a música BR3 ao lado do Trio Ternura. Já com nome Tony Tornado, seu visual extravagante parecia ser uma afronta, logo inventaram que sua música era uma apologia às drogas.
Junto com o Movimento Black Rio, Tony Tornado, Gérson King Combo, Tim Maia, Cassiano e uma galera deram o ritmo da época conhecida como a “Primavera Black”. Impactando o imaginário e alimentando o Orgulho Negro brasileiro através da dança e das letras. Todos pagaram seu preço.
Em um episódio dramático, um ano depois de vencer o Festival Internacional da Canção, Tony volta sobe ao lado de Elis Regina e ergue seu punho (como os Panteras Negras Americanos) durante a música “Black is beautiful”.
40 mil pessoas vaiaram quando o cantor saiu algemado. Outros nomes do movimento foram considerados subversivos por levantar a “Bandeira negra”. Os relatórios da comissão da verdade mostram que os Militares acusaram os Djs e músicos de promover “segregação”
Tony entrou para TV, fez dezenas de filmes e participações sem fim. Quando pensar nos heróis do povo negro, não devemos apenas celebrar os grandes nomes americanos, alguns dos nossos “Panteras”, Malcom, Garvey… sobreviveram em uma luta contra o próprio governo.
Obrigado, Tony Tornado, você libertou o orgulho em muitos de nós✊🏾
