Thread by @lftofoli

Sei que a chance de alguma coisa mudar é risível, mas a horrível história do assediador que foi expulso ontem do #BBB200 precisa levantar uma discussão sobre o papel das bebidas alcoólicas na cultura brasileira e dentro do programa da @RedeGlobo.

Segue o cordel curto aí.

PAUSA 1

ATENÇÃO: Aproveitar-se de alguém por estar embriagado não é desculpa e nem atenuante. NÃO ESTOU CULPANDO AS VÍTIMAS.

Essa discussão sobre o álcool não cancela o debate necessário sobre machismo na nossa sociedade. Ao contrário, álcool e machismo se conectam.

Diferente do que aconteceu com o tabaco, a regulação da outra droga de uso social que é legalizada, o álcool, deixa muito a desejar.

No caso do tabaco, uma série de políticas, incluindo, na prática, proibição da propaganda foi capaz de causar uma redução exemplar no consumo.

Há anos que se tenta tomar medidas da mesma natureza no caso do álcool, mas o lobby da indústria de bebida - principalmente os fabricantes de cerveja - no Congresso Nacional é fortíssimo e tem evitado, por exemplo, uma medida esperada há muito tempo: a proibição da propaganda.

Beber - e em certos nichos, beber muito - faz parte da cultura brasileira. Não faltam músicas dos estilos mais consumidos que endeusam o consumo de álcool em níveis que vão bem além do que a moderação sugere. Tenho certeza que você conhece várias canções de bebedeira.

O consumo inapropriado do álcool está associado a uma série de mazelas: violência doméstica, acidentes de trânsito, estupros, dependência, doenças físicas. Não há droga que comprovadamente esteja ligada a tantos impactos negativos sociais e à saúde.

Mas o álcool relaxa uma série de inibições, e o faz 'desligando', por assim dizer, certas áreas do cérebro que nos fazem tomar decisões arriscadas.

Quando os Brothers bebem, o voyeurismo de quem assiste ao BBB fica aguçado, pois coisas muito mais 'animadas' acontecem.

PAUSA 2

Em algum outro momento é o caso de discutirmos o que é esse voyeurismo patológico que consagra programas desse tipo, mas esse é um assunto bem mais elaborado e aqui eu confesso, muito contaminado pelo fato de que eu acho esse tipo de programa muitooo CHATOOO.

Mas enfim, as TVs disponibilizam, frequentemente com o patrocínio de marcas de bebidas, doses fartas de álcool para que as coisas sejam facilitadas na casa: tretas, romances, pés-na-jaca.

Porém também já houve brigas, assédios e mesmo casos suspeitos de estupro.

Do ponto de vista de uma indústria do entretenimento, a empresa cumpre irresponsavelmente o seu papel. É tudo muito naturalizado: todo mundo bebe, todo mundo já passou por situações desse tipo na vida real. São pessoas como nós mesmos. Mas não estaria na hora de mudar isso?

Neste momento tramita um projeto de lei no congresso nacional que pretende proibir a propaganda de bebida alcoólica.

Eu sinceramente penso que seria o caso de considerar o controle da exibição de cenas de consumo de álcool em reality shows também.

www12.senado.leg.br/noticias/mater…

A antiga pesquisa de Bruce Alexander (a 'Ratolândia') indica que em situação de estresse e confinamento roedores consomem mais drogas.

É ético oferecer deliberadamente a seres humanos confinados uma droga - ainda que legalizada? Eu acho que não. E você?

stuartmcmillen.com/pt/comic/ratol…

PS: Eita, errei a hashtag, só vi agora. Meti um zero a mais ou um dois a menos, hahaha.

Bora corrigir: #BBB20 #bbb2020

Tinha um erro também no fim do cordel e eu tive que apagar e repostar os dois últimos.

Correção: eu quis dizer *eliminado* e não ~expulso~. Não me dei conta de que no Big Brother são duas coisas diferentes. Eu estava me referindo à eliminação por votação feita pelo público.

Grato a quem avisou.