Thread by @FelipeAugMac

Respeito muito o @pfnery, mas vou discordar da coluna de hoje

Não vejo o modelo neozelandês como um caso de sucesso, e menos ainda para o Brasil

A trajetória da Nova Zelândia precisa ser devidamente contextualizada para que possamos entender melhor o seu desempenho (1/14)

https://twitter.com/pfnery/status/1227160827242962944

Maddison considera a Nova Zelândia como um dos chamados “Western offshoots”, junto com Canadá, EUA e Austrália. São países cujas instituições e cultura derivaram em grande medida da Grã-Bretanha, em um período em que ela despontava como potência hegemônica mundial

Consequentemente, as condições iniciais destes países foram muito distintas daquelas de outros países como o Brasil

O ponto de partida foi muito mais rico e igualitário e essas nações não sofreram com o imperialismo da mesma forma que nações como as latino-americanas

Em 1870, por exemplo, segundo dados do próprio Maddison, a Nova Zelândia era a 2ª nação mais rica do mundo, pouco abaixo da sua irmã Austrália

Porém, apesar das condições iniciais favoráveis, a tendência de longo prazo é de declínio do desempenho neozelandês

Tradicional indicador de desenvolvimento, a comparação da sua renda per capita com a dos EUA mostra que ela realmente está ficando para trás

Em 1870 era 115% da renda dos EUA. Foi ultrapassada no entreguerras e a distância só aumentou. As reformas não alteraram a tendência

Outros dados confirmam o declínio. Os do Banco Mundial, por exemplo, mostram que a Nova Zelândia começou a ficar mais distante dos seus colegas “offshoots” no início dos anos 1970. A distância só aumentaria, mesmo com as reformas das décadas seguintes

Nos anos 70, o país perdeu acesso privilegiado ao mercado britânico (que representava mais de 40% das exportações), por causa da entrada da GB na Comunidade Europeia

Dependente de bens como laticínios e carnes, viu seus termos de troca se deteriorarem com a crise do petróleo

Esse era o melhor modelo de desenvolvimento para a Nova Zelândia? Dificilmente. Uma comparação com a Dinamarca pode ser útil

Trata-se de um país com história econômica similar, já que, no passado, também cresceu com base na demanda britânica por seus laticínios e carnes

Ademais, a Dinamarca possui população equivalente (5,6 milhões a 4,8 milhões)

Recuperada da II Guerra, a Dinamarca passou a crescer muito mais rapidamente do que a Nova Zelândia. À esta altura, contudo, ela já não dependia mais de produtos primários

Ela exporta majoritariamente bens complexos como medicamentos, aparelhos médicos, veículos e suas partes e peças e maquinários industriais e elétricos

Sua complexidade econômica, já nos anos 1960, era muito superior à da Nova Zelândia, e a distância se manteve desde então

Comparar o crescimento da Nova Zelândia com o da Itália, cuja economia está estagnada há décadas, ou com o desastre da Venezuela, não me parece apropriado

Assim, as reformas não reverteram o declínio relativo do país

Buscaram, por exemplo, aumentar a produtividade, sem sucesso. Em 2011 foi criada uma Comissão de Produtividade para encontrar soluções

Por fim, não é justo comparar a desigualdade neozelandesa com a de latino-americanos como o Chile

Como falado, as condições iniciais foram incomparavelmente mais favoráveis à Nova Zelândia

Mesmo assim, esse tema, que nunca foi um problema, passou a tirar o sono dos neozelandeses

Conhecido como um "paraíso igualitário", o país viu a desigualdade aumentar muito após as reformas

Aliás, mais do que em qualquer outro país da OCDE (fim)
theguardian.com/commentisfree/…