Sobre a nova imagem do Twitter. Ela é uma "sankofa", uma palavra/sinal gráfico dos povos Akan, de Gana. Como palavra, ela remete ao "twi", dialeto regional do país que significa "retornar e pegar". 
Nos séculos XVIII e XIX, a realeza dos povos "akan" criou o "adinkra", uma espécie de sinal gráfico que remete a provérbios. "Sankofa" foi uma das palavras que recebeu esse sinal, expresso nessa imagem.
Quando criado, contudo, ele não remetia à palavra, mas sim ao provérbio "Se wo were fi na wosankofa a yenkyi" (ou "Não é errado voltar para buscar aquilo que esquecemos").
O símbolo remete a um sinal estilizado de uma ave colocando um ovo em suas costas.
O símbolo remete a um sinal estilizado de uma ave colocando um ovo em suas costas.
Como os muitos povos akan estavam localizados na Costa do Ouro, outros símbolos de distinção surgiram, como essa miniatura de ouro maciço feito por descendentes dos akan e que se encontra no Museu do Brooklyn.
(aqui sem o ovo, que é uma outra representação usual)
(aqui sem o ovo, que é uma outra representação usual)
A história das sankofa no Ocidente remete a uma reapropriação da cultura afro-estadunidense a partir da descoberta de um antigo cemitério negro em Manhattan, em 1991. E o fato de terem encontrado um antigo túmulo com "sankofas" de ouro mudou tudo.
nypap.org/preservation-h…
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Alguns grupos pan-africanistas retomaram o símbolo da sankofa como identificação com suas raízes africanas. Essa imagem que está aqui é inclusive de um "Sankofa Day", em Londres do ano passado, para lembrar dos horrores da escravidão.
slaveryremembrance.org/event/slavery-…
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De minha parte, o mais interessante na Sankofa é que ela é profundamente dialética. O pássaro que olha para trás e, ao mesmo tempo, resgata o filho. Carrega consigo a capacidade de fundir passado e futuro no mesmo símbolo.
É, em certo sentido, muito próximo do que Walter Benjamin falava sobre o "Anjo da história". Mas o que há de melancólico em Benjamin ganha tons mais esperançosos na "sankofa" dos akan. Ela é o resgate do passado e o cuidar do futuro. Uma dialética a ser lembrada nesses tempos.
Não penso no uso da imagem como qualquer reapropriação, mas sim como homenagem. Acho que há uma beleza única na ideia de que lembrar do passado é a forma de lutarmos no futuro. Mesmo não sendo akan, a "sankofa" me cativa pela potência revolucionária do símbolo.
Mas mais além, ela é também uma forma de celebrar o retorno do meu bebê a nossa casa. Estou exausto, mas feliz. Voltando atrás para poder cuidar do que vem pela frente.
"Se wo were fi na wosankofa a yenkyi".
"Se wo were fi na wosankofa a yenkyi".
