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Uma Rosa para a Imperatriz.

Um fio sobre os 18 carnavais de união entre a professora e a Rainha de Ramos, uma dos casamentos mais felizes e frutíferos da história da folia.
1992 - Não existe pecado abaixo do Equador (3º lugar)

Em comemoração aos 500 anos das Américas, uma leitura lúdica da visão de paraíso perdido dos colonizadores se inspirando em registros literários.

Choques culturais, diásporas, misturas, barcos: puro suco de melhor de Rosa.
Para história, uma ala recriava um grande oceano com um tecido bem pintado. Uma solução simples e genial, que depois virou lugar comum no carnaval. Guardava ainda uma inspiração na obra da neoconcreta Lygia Pape, que rendeu uma polêmica e um processo da artista da obra original.
1993 - Marquês que é marquês do sassarico é freguês! (Vice-campeã)

O bicentenário do Marquês de Sapucaí rendeu um enredo onde Rosa reinterpretava a história do carnaval através de seus três grandes criadores: Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães.
Rosa contou com o auxílio de Viriato Ferreira, carnavalesco da verde e branco em 91, que enfrentava problemas de saúde. Com a sua passagem durante o processo, a última alegoria trazia "No saçarico do Marquês tem mais um freguês", uma homenagem a esse enorme figurinista.
1994 - Catarina de Médicis na corte dos Tupinambôs e Tabajères (Campeã)

Histórias que só Rosa Magalhães pode e sabe contar - parte 1: uma festa de índios brasileiros para uma corte francesa. O encontro exótico entre duas "civilizações" tão diferentes: o índio é um forte!
Depois de anos procurando referências para esse enredo que tinha em mente, foi dividindo um táxi que Rosa conseguiu as informações que faltavam. O felizardo era diretor do Arquivo da Cidade e sabia de documento em português narrando a festa francesa.
Para a história: A parceria de Rosa Magalhães com o coreógrafo Fábio de Mello revolucionou o quesito Comissão de Frente, criando danças bem coreografadas e amarradas em elementos simples mas de impacto: a beleza dos leques dourados e verdes.
1995 - Mais vale um jegue que me carregue que um camelo que me derrube, lá no Ceará... (Campeã)

Histórias que só Rosa Magalhães pode e sabe contar - parte 2: a expedição científica que exportou camelos para o sertão brasileiro. Uma ode a brasilidade e ao jegue
"Mas vale a simplicidade, a criar mil novidades e gerar complicações. Esquecendo o bom e útil renegar o que é nosso, gera insatisfação..."

A narrativa terminou por se transformar numa narrativa que valorização do autêntico produto nacional em detrimento do exportado.
Como fazer um patrocínio: o enredo foi rebatizado após uma parceria comercial com o governo do Ceará, o título já extenso ganhou o plus "lá no Ceará" para reforçar onde se passava a história. No desfile, famosos do estado, como Renato Aragão e Fagner desfilaram.
1996 - Imperatriz Leopoldinense Honrosamente Apresenta: Leopoldina, a Imperatriz do Brasil (Vice-campeã)

Patrocinado pelo governo Austríaco, um dos grandes enredos de Rosa na Imperatriz foi o que contava a história da monarca que dá nome a escola de Ramos.
Além da sua genialidade ao narrar, Rosa sempre esteve bem amparada por uma ala de compositores das mais capacitadas que sabiam reproduzir as histórias da professora com maestria. Os versos descritivos de 96 são um dos exemplos mais claros. Valeu o Estandarte de Ouro em samba.
1997 - Eu sou da lira, não posso negar… (6º lugar)

E vamos de mais uma homenagem e também feminista: a história da pioneira Chiquinha Gonzaga. Mais uma aula de brasilidade e folia.
A alcunha de certinha e técnica da Imperatriz foi para o buraco esse ano: o belo desfile teve problemas sérios de evolução, com vários clarões abertos na pista e a segunda alegoria que também deu problema, complicando a passagem da agremiação. Foi um sexto lugar amargo.
1998 - Quase Ano 2000… (3º lugar)

Rosa high-tech? Brincando com a alcunha do seu grande rival Renato Lage naquela década, a professora surpreendeu a todos com um enredo sobre as visões de futuro produzidas pela humanidade em livros, filmes e na cultura pop em geral.
Mostrando outra face além das narrativas acadêmicas, Rosa mergulhou numa estética futurista e pop, com Superman e robôs do filme Metrópolis. Terminando num grito a favor da preservação do planeta.

Para história: a bateria de Robô com balões em uma fantasia memorável.
1999 - Brasil mostra a sua cara em… Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae (Campeã)

Histórias que só ela pode contar - parte 3: O Teatro com as coisas naturais do Brasil, um livro achado após anos perdido, produzido por holandeses em Pernambuco catalogando nossa fauna e flora.
E vamos de aula de brasilidade e tropicalismo: mais uma marca de Rosa, uma história complexa e pouco conhecida é contada de maneira simples. Nas alas, surge a fauna e flora brasileira em signos tropicais explorando uma cromática impecável.
Uma das páginas mais felizes da parceria entre Rosa-Imperatriz foi as vezes que a artista criou, ao lado de seu figurinista Mauro Leite, alas de baianas memoráveis. Seja pela sua riqueza estética e delicadeza, as borboletas de 99 são uma das mais belas e singelas.
2000 - Quem descobriu o Brasil, foi seu Cabral, no dia 22 de abril, dois meses depois do carnaval (Campeã)

Nos 500 anos da chegada dos portugueses, mais um mergulho na história brasileira, dessa vez sem tanta invetividade, apostando numa visão mais linear e clássica.
Apesar disso, o lado festivo e jocoso da artista apareceu ao nomear o enredo inspirado numa marchinha de Lamartine Babo, enredo campeão da agremiação em 81, que apareceu homenageado na última alegoria da escola ao lado de um enorme Rei Momo.
2001 - Cana-caiana, cana roxa, cana fita, cana preta, amarela, Pernambuco… Quero vê descê o suco, na pancada do ganzá (Campeã)

Aula de Brasil e Narrativa 8: como transformar um enredo que tinha tudo para ser burocrático e histórico, num delicioso passeio multi-cultural.
Para encerrar: mais uma festa na valorização do nacional.

As escolhas de Rosa Magalhães podem até ser simples em algumas ocasiões, mas nunca óbvias. No enredo sobre a cana e cachaça, o último setor se vestia de verde e rosa para homenagear Carlos Cachaça.
2002 - Goitacazes… Tupi or not Tupi in a South American Way (3º lugar)

Campos: vai um dinheiro aí para falar da minha história?

*Rosa revira vários livros tentando desenvolver esse enredo*
Rosa encontra ata da cidade se tem que ter ou não Goitazaces no nome : "goitazaces eram índios canibais"... Canibais? Antropofagia... Carlos Gomes... Modernismo... Tropicalismo... Carmem Miranda! Tá pronto!

Campos: Essa enredo não é sobre a gente! Devolve o meu dinheiro aqui.
Uma aula de enredo e cultura brasileira. Tantas histórias e análises sobre esse carnaval que já rendeu até pesquisa de mestrado. Recomendo A antropofagia de Rosa Magalhães, do Leonardo Bora, que eu editei para o Carnavalize.
2003 - "Nem todo pirata tem a perna de pau, o olho de vidro e a cara de mau…" (4º lugar)

Rosa pensou no enredo após ter seu cartão de crédito clonado, rendeu uma narrativa menos inspirada mas muito interessante sobre a pirataria através do tempo.
Aula de artes: uma das alegorias mais bonita do desfile seria uma caveira repleta de diamantes. Feita primeiro por Rosa Magalhães, a mesma ideia seria refeita pela polêmico artista britânico Damien Hisrt e se tornaria uma obra contemporânea famosa no circuito artístico.
2004 - Breazail (5º lugar)

Ah, tá todo mundo fazendo nome de enredo gigantesco só por minha culpa? Então, o meu título só vai ter outro letras.

e vamos de mais um olé de patrocínio: Cabo Frio > Pau-brasil > brasa > vermelho.
E mais uma narrativa rebuscada que falava de utopias, imaginários viajantes e diásporas: Rosa trazia nesse carnaval referências a artistas como Bosch e Gaudí, numa viagem nada óbvia pela história através da junção de fragmentos. Narrativas fragmentadas são mais uma marca.
2005 - Uma delirante confusão fabulística (4º lugar)

Uma simples biografia aos bicentenário de Hans Christian Andersen? Nada disso! Uma delirante história juntando as histórias do dinamarquês com as brasileiríssimas narrativas de Monteiro Lobato.
Nada de gigantismo! Os caixotinhos de Rosa são uma aula na necessidade desmedida de gigantismos. Neste ano, Rosa criou brilhantes cenários que mostravam sua maestria criativa em detalhes singelos e encantadores. O carro da porcelana chinesa é um dos meus favoritos.
2006 - Um por todos e todos por um (9º lugar)

Aula de literatura? Também temos! Filha de acadêmicos, Rosa sempre primou por referências literárias em seus desfiles. Para contar a história de Giuseppe e Anitta Garibaldi uniu as histórias de cavaleiros de Alexandre Dumas no balaio
Em seus carnavais, Rosa foi uma das artistas que mais levou embarcações em seus desfiles. Símbolo da utopia, o barco pode ser um objeto de interessante análise dessa artista que sempre fala de deslocamento e diásporas. Em 2006, um recorde pessoal: foram três tipos de barcos
2007 - Teresinhaaa, uhuhuuuu!! Vocês querem bacalhau? (9º lugar)

Um enredo espinhoso ganhou ares jocosos ao misturar Chacrinha, mitologia nórdica e blocos de carnavais nas mãos da professora. Controverso em muitos difíceis, a salada de bacalhau tinha sabores interessantes.
Foi o último ano da parceria entre Rosa Magalhães e o coreógrafo Fábio de Mello, após quatorze anos. De legado, ficaram sombrinhas, leques, violinos, bruxas, bichos papões e imagens que revolucionário o quesito de abertura com simplicidade, genialidade e bom-gosto.
2008 - João e Marias (6º lugar)

Histórias óbvias que ganham contornos divertidos: a comemoração do bicentenário da chegada da família real portuguesa rendeu um enredo focado em figuras femininas e que revistou a história brasileira com um final celebratório típico.
Depois de orçamentos milionários, Rosa mostrou que sabia trabalhar com números mais reduzidos. Das alegorias de embarcações propostas por ela, foi nesse ano uma das mais interessantes: um solitário D. João navega numa baleia escamada inspirada numa gravura medieval.
Outro grande destaque foram as invetivas perucas feitas de EVA pela peruqueira Divina Luján, a artista que dá expediente no Teatro Municipal há décadas, tem uma parceria longa com Rosa e introduziu com maestria o uso de emborrachada num trabalho maravilhoso.
2009 - Imperatriz… só quer mostrar que faz samba também! (7º lugar)

Foi como uma homenagem a Imperatriz e ao bairro de Ramos que terminou de modo melancólico o vitorioso casamento. Sem tanta inspiração, a imagem do desfile se destacou negativamente em uma alegoria mal-embalada.
Rosa Magalhães é das maiores artistas brasileiras em tempo. Premiada, multi-facetada, acadêmica e popular. Celebrou brasis, misturou densos caldeirões com uma alquimia única. Juntou povos pela diáspora, tingiu de ondas e mares a pista da Avenida.
Reuniu em torno de si profissionais incríveis, como o talentoso figurinista Mauro Leite que há mais de três décadas atua com a professora. Além de projetistas, arquitetos, cenógrafos, aderecistas, maquiadores, peruqueiras. Nomes que reforçam o caráter coletivo da festa.
Que Rosa e Imperatriz reencontrem os dias de festa na corte, com banquete de frutas tropicais, histórias e causos inesquecíveis, a alegria de índios e nobres se misturando entre leques e sombrinhas. Uma utopia de um caldeirão festeiro que só festejando pode se tornar grande!
Amém Rosa!

A maioria das fotos do fio são do maravilhoso fotógrafo Wigder Frota.
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