Thread by @fernandoulrich

"Os austríacos são como relógios quebrados que acertam as horas duas vezes por dia..."

"Estão sempre prevendo crise, aí quando ela chega, eles dizem 'viu, eu avisei!'..."

Qua qua qua.

Como piada, as frases acima são ótimas. Mas como contra-argumento, são sempre vazias. 👇👇

As previsões dos austríacos nos últimos 120 anos são de uma qualidade e precisão invejáveis. Grandes acontecimentos históricos foram previstos com uma riqueza de detalhes e argumentos que até hoje os viciados em modelos econométricos são incapazes de entender.

Por ser objetiva, lógica e argumentativa,a análise austríaca é erroneamente vista como superficial pelo mainstream.

Por rejeitarem veementemente previsões do tipo numéricas com exatidão, são taxados de não científicos.
Enquanto alguns economistas se debruçam sobre seus modelos

sofisticados, com uma infinidade de premissas e variáveis (todas altamente insuficientes), os austríacos se atentam ao que realmente importa.

Crash 1929, Grande Depressão, colapso de Bretton Woods, disparada no preço do ouro, impossibilidade do socialismo

(e a eventual derrocada da União Soviética), grande inflação dos anos 70, bolha da Nasdaq, bolhas imobiliárias ao redor do globo nos anos 2000 e o estouro da grande crise financeira de 2008, bem como todas as ações dos bancos centrais nos últimos anos.

Todos esses eventos, alguns com datas específicas, outros nem tanto, se desenrolam ao longo de anos. É um processo dinâmico que envolve sistemas complexos.

Identificar a fonte dos desequilíbrios, distorções e fragilidades, necessariamente deve ocorrer bem antes

do resultado final se materializar. Então é óbvio que sempre "avisaremos" dos problemas bem antes da "crise chegar".

Essa é outra distinção dos austríacos: os problemas são plantados durante a fase do boom, da alegria, do bull market, quando tudo vai bem,

a chegada da crise é meramente o desfecho derradeiro dos excessos cometidos anteriormente.

O mainstream encara a crise como o problema. Não, a causa é anterior, a crise é apenas a revelação inevitável dos excessos.

Agora, apontar os problemas não significa que a economia não siga crescendo e prosperando apesar das intervenções de governos e bancos centrais.

Não significa tampouco que mercados financeiros não podem seguir subindo de valor por muitos anos (inclusive aqui cabe uma crítica minha a alguns austríacos, que perdem oportunidades na bolsa, por exemplo, por acreditarem que uma correção ou queda é sempre iminente).

Enfim, termino com uma breve história.

Em nov/2008, num evento na London School of Economics, a rainha da Inglaterra perguntou indignada "Por que ninguém viu a crise chegar? Se era um evento tão grande assim, como passou despercebido por todos?"
express.co.uk/news/uk/69678/…

Alguns meses depois vários economistas se desculparam. nbcnews.com/id/32156155/ns…

Outros se justificaram, mas seguiram sem explicar.
worldfinance.com/banking/why-we…

As maiores sumidades do planeta, os principais banqueiros centrais,

e os economistas mais ilustres e renomados, todos, quase sem exceção, não viram o maior evento econômico deste século.

São estes que ainda permanecem no poder, no comando de bancos centrais, assessorando chefes de estado.

Não souberam antever, não souberam explicar, mas eles dizem saber resolver.

Pois bem, muitos austríacos anteciparam exatamente o que estava para acontecer.

Hoje, quase 12 anos depois, estamos novamente diante de uma crise cuja dimensão ainda não sabemos.

Dirão que é tudo culpa do coronavírus.

Mas não é.

A fragilidade da economia mundial - em grande parte causada pelo remédio administrado pelos BCs mundo afora para curar a crise de 2008 - está sendo testada por um grande cisne negro.

Até o presente momento, o estrago está sendo grande.

Em alguns meses teremos o veredito final.

{fim}