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Hoje, em meio ao coronavirus, um jovem me disse que o Brasil, para sair da crise, precisava de mais "empreendedorismo". Tive certeza de que o coronavirus encontraria um ser humano sem cérebro, ali.
Outros momentos eu ficaria calado. Mas não hoje.

(segue o fio)
O empreendedorismo, esta ideologia nefasta que junta no mesmo grupo pastores neopentecostais e motoristas do uber eats se baseia em cinco pontos:
1) O primado do indivíduo sobre o coletivo
2) O primado do trabalho sobre o ócio
3) o primado da acumulação sobre distribuição
4) o primado da escassez sobre abundância
5) o primado do capital sobre o trabalho

Todos os cinco são totalmente falhos para a História, e nem a economia consegue reabilitar estas ideias sem uma tremenda dose de alienação e violência
1) O primado do indivíduo sobre o coletivo se baseia na valoração positiva da ação individual em detrimento dos espaços e circunscrições coletivas. O indivíduo, nessa narrativa, tem todas as virtudes, e a coletividade todas as perversões.
Bastou o dilema da ação individual com efeitos coletivos de uma pandemia para que o mundo refletisse sobre este absurdo. Hoje o mantra dos economistas é "não se cuida da economia sem cuidar das pessoas".
Enfim, parece que o vírus nos coloca frente ao pragmatismo insofismável. Pessoas antes da economia. Parece bom, mas pessoas NESSA LINHA são apenas objetivos secundários para salvar-se o objetivo final: a economia. É um avanço, mas precisamos mais.
2) o primado do trabalho em detrimento do ócio. Segundo esta visão só há mérito no trabalho. Uma mescla de filosofia cristã com "coach" do século XX. Historicamente, contudo, sabe-se a importância do ócio
Tanto para o bem estar, quanto para a criatividade.
Nem todo o trabalho é produtivo e socialmente meritório. Mais importante, a ciência, as artes e a filosofia dependem da capacidade criativa, que, por sua vez, depende de que a vida não seja uma sucessão de rotinas intermináveis, do berço ao caixão.
Viver não é "trabalhar". Especialmente no sentido do trabalho explorado pelo capital. A pandemia mostra a mesquinhez de quem acha a vida humana pode ser reduzida a números e balancetes sócio-economicos.
3) o primado da acumulação sobre a distribuição é aquele que diz que o PIB mede o "sucesso" de um país. A brutal concentração de renda das últimas décadas, cobra, com o coronavirus, um custo muito alto. Segundo Boris Johnson e Jair Bolsonaro, são boas as mortes, desde que baratas
4) o primado da escassez sobre a abundância diz que só tem valor o que é escasso. Solidariedade, empatia e gratidão não têm valor, são dispensáveis. Dignos de valor material é a "genialidade", a "obstinação" e o "sacrifício".
A distorção é tão grande que o primeiro grupo de valores se "paga" com um "muito obrigado" ou um "Deus te pague". O segundo, no débito ou no crédito. Profissões centradas no primeiro grupo são pouco valorizadas, enquanto os CEO's do outro se vendem como únicos na humanidade.
Talvez a pandemia nos abra os olhos para os italianos cantando aos vizinhos de suas sacadas, os chineses construindo hospitais em dez dias e comparem com Paulo Guedes mandando as pessoas "irem trabalhar" se não "a economia quebra".
5) o primado do capital sobre o trabalho se esfacela aos pés da pandemia. Se é o capital que produz, o mundo estaria salvo. Nenhuma moeda pega doença e nenhuma máquina precisará ficar internada em hospitais.
A maior mentira do século XX e XXI se ajoelha pedindo ao proletário que produza. Toda a sociedade treme ante uma quarentena de 30 dias.

Que os trabalhadores se perguntrm: se eles temem a falta de produção por trinta dias, imagine uma greve?
É preciso que se diga: o capital, infectado ou curado do vírus, nada produz. Quem move o mundo, sustenta, e mantém a roda girando são aqueles que hoje estão em risco de serem mortos. E como os reais parasitas temem que compreendamos isto. Eles certamente nos prefeririam mortos...
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