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Um plano de socorro econômico para sobrevivermos ao #coronavirus (covid19), limitando o contágio no Brasil. Um plano como proponho, se bem feito, consegue segurar a economia SEM mudar a trajetória da dívida pública. Mas traz riscos. Eu me importo com operacionalização. (1/n)
Afinal, não canso de ouvir que é hora de gastar em infraestrutura. Todavia, o que isso significa na prática? Mandar mais dinheiro pros acionistas de empresas corruptas? Nada disso. O coronavirus é uma crise única, portanto requer saídas criativas. (2/n)
A ordem desse fio é a seguinte: primeiro as hipóteses e condições por traz do desenho da solução, a descrição do plano em si e, por último, os riscos. Afinal, se alguém tentar te vender que existe uma solução óbvia, sem qqer risco, fuja! É enganação. (3/n)
Hipóteses: esse é um problema que afeta mais as pessoas no setor informal, cuja renda já é flutuante, e pequenas empresas (bares, lanchonetes, etc). Soluções do tipo “investir em infraestrutura” são inúteis pro dono de botequim sem clientes. (4/n)
Assumo tb que a política pública mais salutar nesse momento é incentivar o distanciamento social: nada de aulas, eventos etc. Isso só não causa caos econômico se houver forma de segurar quem fica sem fluxo de caixa. A ordem é achatar a curva de disseminação! (5/n)
Qqer política vai ter risco moral e seleção adversa (precisamos aprender com a China, onde as grandes empresas correram pra tentar pegar os fundos emergenciais do governo). Risco moral = incentivar o comportamento “errado”. (6/n)
Seleção adversa: atrair para o plano de socorro quem MENOS precisa. Nenhum plano de socorro econômico vai ter zero de risco moral e seleção adversa. Mas temos que ter mecanismos para diminuir esse tipo de comportamento. (7/n)
Pra limitar risco moral e seleção adversa, não pode ser uma ajuda automática, que todo mundo veja na sua conta (ou saque na loteria). Tem que ter alguma barreira, mesmo que seja preencher formulários online, pra que quem não precise tenha custo de tempo pra acessar a ajuda.(8/n)
E obviamente, tem que ser uma ajuda que contemple os desbancarizados. As formas tradicionais de políticas monetária e fiscal normalmente ignoram os que estão fora do sistema. Discute-se pobreza em cursos de desenvolvimento econômico mas não macroeconomia! Nada disso! (9/n)
Infelizmente, qqer solução ideal só poderia ser implementada se tivéssemos um cadastro único, com forma de contatar cada um dos brasileiros em idade economicamente ativa. Não existe esse cadastro. Então a solução factível passa por um misto de telefonia, bancos e lotéricas.(10/n)
Tem q ser valor mensal. Não pode ser uma grande quantia imediata. Por duas razões: incentivaria as pessoas a gastar rapidamente, aumentando o contato social, e não daria segurança sobre o futuro, que é o mais importante numa crise como essa. (11/n)
Última condição pra uma solução: essa proposta só faz sentido se é pra termos distanciamento social! Pra desincentivar aglomerações. Pra lidar com pessoas que não devem ir ao trabalho. Pra segurar quem está no trabalho informal sem forma de gerar renda. (12/n)
Assim, aqui vai a solução: linhas de crédito de R$500 reais por mês por brasileiro com mais de 18 anos e não aposentado, sem juros. E que só pode acessar o crédito se receber o sinal verde de um app que recebe um ping, duas vezes por dia, num intervalo pré-determinado. (13/n)
Haveria algumas condições pra acessar o dinheiro: a pessoa não poderia estar indo pro trabalho, por exemplo, e não poderia acessar se tiver bens acima de R$100.000 ou algum outro valor. Dá pra pensar em mais (não consigo pensar em tudo sozinho!) (14/n)
O problema logístico de tal proposta é imenso, por isso acho que a melhor infra é das telefônicas. Muito brasileiro não tem conta em banco, mas quase todos têm celular (140 milhões em 2019). Pra que espertos não cadastrem números de pessoas que não tem celular, (15/n)
a lista seria criada com o cadastro dos usuários (limpando-se repetições) de 31 de dezembro. As pessoas se cadastrariam num app, teriam acesso ao dinheiro de alguma forma (transferência pra sua conta ou pegar numa lotérica), e pagariam depois de 2 anos. (16/n)
Opa, temos um problema. Pegar numa lotérica? A ideia não é a pessoa não sair muito de casa? Bem, não sei como fazer isso totalmente virtual se tem muito brasileiro sem computador e sem conta em banco. Seria papel do governo preparar as lotéricas pra isso. (17/n)
Pq pagar depois de dois anos? Pq é um empréstimo sem juros e depois que a vida voltar ao normal, paga-se, limitando o impacto no deficit público. Além disso, teríamos que ter um app com monitoramento, onde as pessoas, 2 vezes por dia, validariam sua posição. (18/n)
Tal app é uma grande invasão de privacidade, mas não tem jeito. É a única forma de exigir a contrapartida de distanciamento social. Apps assim existem na China, onde vc recebe sinal vermelho, amarelo ou verde, como em Shanghai. (19/n)
nytimes.com/2020/03/01/bus…
E é voluntário. Não quer os 500 reais por mês? Ignore. O valor mensal permite ao governo calibrar a resposta, anunciando isso por 6 meses e podendo estender pra um ano. O impacto orçamentário máximo, assumindo calote de 100% (impossível) e durando um ano: (20/n)
10% do PIB (600 bilhões). Mas não é aumento de trajetória da dívida. É um one-off! Com as pessoas pagando, diminui-se o impacto. É uma proposta ambiciosa, sem dúvidas, mas é factível (muitos países já fizeram estímulos de 10% do PIB). Criar crédito é melhor que gasto. (21/n)
Lembro que esse plano é pro caso do governo realmente querer parar a epidemia com medidas de distanciamento social sem afundar a economia. Se quiser ficar em contenção meia-boca, não faz sentido usar nada do gênero. Recursos podem vir de diminuir compulsório. (22/n)
E de lançar dívida pública. Lembrando que é empréstimo mas deve sim ser contabilizado inicialmente como dívida pública: nada de pedalada fiscal! Agora, vamos aos riscos. (23/n)
Esse plano pode gerar inflação e virar algo permanente, em vez de especial, além de risco moral e seleção adversa. No caso da inflação, se a crise for curta mas o governo continuar injetando dinheiro na economia, isso pode acontecer. (24/n)
Mas meu maior medo é o governo pegar algo que seria uma bala de prata e querer sair atirando sempre que tiver uma crise. É o que os economistas chamam de inconsistência temporal: os governos prometem uma coisa e depois mudam o rumo. (25/n)
Devemos nos resguardar disso. E tb aproveitar o cadastro único, mas destruir o app e as informações sobre movimentações de pessoas qd acabar a crise. E, por último: Mas Rodrigo, vc não odeia esse governo? Odeio, mas odeio ver o sofrimento dos afetados pela crise. (26/n)
É isso. Tá aí a proposta. É “cara” e não resolve tudo (tem que ter linha de crédito pra pequenas e médias empresas, mas eu sou um só). E pode ser que não seja necessária – vai que atingimos o pico logo e depois caia? Mas é uma proposta que ataca o problema. (27/n)
Afinal, essa não é uma crise normal. Afeta PRIMEIRO pequenas empresas, como bares e restaurantes, e trabalhadores do setor informal. Por isso, a resposta deve se concentrar em segurar quem não pode ficar sem ir ao trabalho pra sobreviver. (28/n)
Compartilhem, comentem, discutam. E se gostaram, podem seguir que vou continuar postando conteúdo de qualidade. Fiz essa proposta pq aprendi muito escrevendo Economis of Global Business. Não é algo que criei de sopetão. Fin. rzeidan.com/economics-of-g…
@veramagalhaes, @julianarosa_ , @renataloprete, aqui uma proposta pra limitar os danos à economia se o objetivo do governo for promover distanciamento social.
@_pinheira, @rosana, @silviolual, uma proposta pra segurarmos a crise.
@goescarlos e @pfnery, aqui um plano PIB neutro pra lidarmos com o #covid19.
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