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Há dois projetos de combate ao vírus no mundo. As brigas entre Doria e Bolsonaro escondem mais do que apenas interesses eleitorais.

(segue o fio)
O primeiro projeto é o de Bolsonaro, do primeiro ministro inglês, de Trump e de todo fdp cientificista e economicista no mundo. A ideia é que o vírus não tem forma de combate e que é melhor o maior número de pessoas pegarem ao mesmo tempo.
O termo é "herd immunity" e afirma que a imensa maioria da população terá o vírus e não terá sintomas. "Alguns vão morrer", mas a espécie não corre perigo. Nem a economia. A ideia é que após as mortes, em 60 dias tudo se normaliza já que não há interesse no indivíduo mas no grupo
Esta percepção é tecnicista, economicista e não humana. As mortes são consideradas "danos incontornáveis" e quanto mais rápido acontecerem "mais rápido a economia se reorganiza". Do ponto de vista da economia o vírus pode fazer "desaparecer" um "peso morto": aposentados.
Ela funciona. É indiscutível que a espécie humana não está ameaçada. É indiscutível que a "herd immunity" é a forma "mais barata" e "mais rápida" de fazer passarna pandemia. É o sentido de Bolsonaro e Trump falarem em "alarmismo" e que "vai passar rápido".
Nos EUA, Trump tenta impor esta visão não humanizada de solução e encontra oposição. Na Inglaterra, Boris Johnson está sendo pressionado a mudar o plano, e no Brasil, Bolsonaro segue cometendo este crime sem que ninguém o chame à responsabilidade.
Esta visão tem um erro. Além da desumanidade, ela desconsidera os efeitos do pânico. Admite que as pessoas vão aceitar as mortes de forma pacífica e que o "dano" será pequeno e curto no tempo. Desconsidera o pânico psicológico do contágio e os efeitos sobre áreas urbanas.
Esta primeira forma fecha em tudo com o neoliberalismo imperante. Assume a economia como principal ponto a ser defendido. Admite que pessoas e trabalhadores são dispensáveis e paradoxalmente inverte a premissa do individualismo do neoliberalismo. Agora vale o grupo.
O outro projeto de combate ao vírus é o projeto mais humano. Aquele que afirma que as vidas importam, mesmo aquelas já não produtivas economicamente (velhos). Elas pedem o "social distancing" como forma de minorar o contágio e tentar conter o impacto nos sistemas de saúde.
Para isto ele se baseia na mesma ideia do anterior: que a humanidade toda vai pegar, mas que precisamos salvar vidas. Ela se baseia no uso da violência do estado para restringir direitos e minorar o contágio. Mobilização de recursos de forma emergencial e temporária para a saúde.
Tudo será feito "ad hoc". Incluindo aumento de gastos do governo para conter a revolta social que deve se instaurar em pouco tempo. Admite que a economia pode se recuperar mais lentamente e que se deve evitar o choque social.
Nenhuma das duas formas é benéfica à sociedade ou aos trabalhadores. A de Bolsonaro defende a "economia" e se lixa para o resto. A de Doria defende os grupos sociais ricos, velhos e urbanos e pretende que os trabalhadores arquem com o custo (com férias antecipadas e etc.)
Ou os trabalhadores se organizam e exigem medidas de melhoria perene da capacidade de segurança do Eatado (saúde e educação) e que o custo da crise seja distribuído pela sociedade, ou sairemos deste momento ainda mais ebfraquecidos e mortos.
É necessária a instauração da renda mínima, a volta do ministério do trabalho, o controle das margens de lucros de bancos, supressão de pegamento de luz, água e impostos enquanto durar a quarentena. Garantia de salário e emprego e uso de recursos públicos para garantir demanda.
Só diz para o pobre "ficar em casa" e passa decreto permitindo cortar salários quem nunca morou numa casa de um cômodo com 4 filhos passando fome e necessidade. Só defende isto que quer dar um golpe com o exército "para manter a ordem".
A continuar as imbecilidades do governo Bolsonaro teremos em 30 dias revoltas populares. A serem bem sucedidas as medidas do Doria e os ricos "darão os anéis para salvar os dedos". Em nenhum caso os trabalhadores terão qualquer benefício ou mesmo melhoria. Só a morte nos espera.
É explicativo que a resposta da China tenha sido construir dois hospitais. De cimento e pedra ao invés das tendas que os governos neoliberais estão fazendo. Uma resposta é perene e fortalece o poder de organização do estado. A outra é passageira e apenas espera a próxima crise.
A esquerda brasileira precisa colocar o seu projeto. Especialmente nos estados em que governa. É o momento de marcar a diferença entre o fascismo de Bolsonaro e o neoliberalismo "com mão humana" de Doria.
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