Desaprendemos a lidar com as sutilezas? Tem muita gente cujas atitudes eu desaprovo, mas que trouxeram com sua obra grandes contribuições à coletividade.

Se cancelamos tudo o que alguém por um deslize cometido por uma pessoa, não vai sobrar nada nem ninguém.

[1/5]
Claro que há limites para o que eu estou falando. O problema é o sarrafo da perfeição se torna progressivamente mais alto, e é proporcionalmente mais fácil e rápido saber dos podres de alguém. E ninguém é perfeito.

Será que estamos fazendo bom uso dessas ferramentas?

[2/5]
Curiosamente, na era digital, parece que estamos cada vez mais rodando o software original, programado desde o pleistoceno: queremos exterminar tudo aquilo que é diferente da nossa tribo, e as tribos se tornam cada vez mais específicas por meio dos laços virtuais.

[3/5]
Vamos ter que desarmar essa bomba, meus amigos, e me parece que ela não vai se desmontar sozinha enquanto o paradigma para se plasmar as nossas relações e problemas forem os algoritmos: eles aumentam nossos abismos.

[4/5]
Entretanto, aqui estou eu, em uma rede social, arguindo o impacto negativo que a internet tem no diálogo humano.

Isso é evidentemente improdutivo, mas assim eu me desabafo, sinto-me menos mal, e portanto sigo capturado.

Permitam-me, pois, que eu não esteja otimista.

[5/5]
...tudo o que alguém *fez...

(deslize meu)

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2 Aug
Duas notícias desta semana me fizeram escrever esta #aulacordel sobre um dos assuntos que eu compreendo muito bem: a ciência psicodélica da ayahuasca.

O 'chá do Daime' teria propriedades terapêuticas para tratar complicações COVID-19? Segue aí o cordel inteiro para entender.
Para quem não sabe, a ayahuasca é um preparado líquido de origem indígena com propriedades psicodélicas. Ela é feita de duas plantas amazônicas e tem vários nomes (daime, vegetal, uni, nixi pãe, etc.). Seu uso é legalizado no Brasil para fins religiosos e rituais.
No dia 29 de julho último, o artigo do jornalista @MarceloNLeite na @Folha divulgou a pesquisa da equipe de Nicole Galvão-Coelho e Dráulio de Araújo, ambos da UFRN, sobre efeitos anti-inflamatórios da ayahuasca.

www1.folha.uol.com.br/ciencia/2020/0…
Read 30 tweets
29 Jul
Acaba de sair na respeitada revista médica @TheLancetPsych um estudo sobre o uso do canabidiol (CBD) como tratamento para o uso abusivo de maconha.

Os resultados são interessantes, mas será que dá pra dizer que funciona mesmo?

Segue aí a #aulacordel pra entender melhor.
Foi publicado ontem no periódico 'The Lancet Psychiatry' um artigo cuja tradução do título é 'Canabidiol para o tratamento do transtorno do uso de cannabis: um ensaio bayesiano adaptativo de fase 2a duplo-cego, controlado por placebo e aleatorizado'.

thelancet.com/journals/lanps…
Eita que o negócio já complicou logo no título, né? Mas beleza, vou tentar explicar aqui o fundamental.

Pra começo de conversa, e se você não é seguidor habitual do perfil ou conhecedor da ciência da cânabis, o que é o tal canabidiol, ou CBD?

Pois é, o CBD é um canabinoide.
Read 22 tweets
17 Jul
Saiu no @UOL uma notícia que dá a impressão de que o CBD, que é uma molécula oriunda da maconha, pode ser eficiente para tratar covid-19. Isso está correto ou é o 'lobby da maconha' em ação?

Siga a #aulacordel para entender melhor se a maconha será ou não a 'nova cloroquina'.
A matéria do @UOL, como vocês podem ver neste link, tem o seguinte título: 'Estudo em ratos indica que derivado da maconha é eficiente contra covid-19'.

Proponho que comecemos dissecando esse título, parte a parte, para entendermos melhor o estudo.

uol.com.br/vivabem/notici…
Em primeiro lugar, vamos entender que se trata de uma pesquisa realizada em roedores. Isso até pode ser considerado promissor, pois se trata de um estudo em um organismo vivo, e está além, por exemplo, do ensaio com a ivermectina contra a covid-19, que ocorreu em células.
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25 Jun
Tá rolando um meme piadista por aí dizendo que depois de passarem pelo Uruguai, a nuvem de gafanhotos vai vir pra cima do Brasil com a fome monstruosa causada pelo consumo de maconha, conhecida pelo povo maconhista como larica. É 'fake meme'! Siga a #aulacordel e entenda pq.
Em primeiro lugar, as maiores plantações de maconha da América do Sul estão no Paraguai. Há alguns anos o Ministro Alexandre de Moraes pôde demonstrar suas destras habilidades com um facão atacando uma plantação da erva lá pelas terras paraguaias.

Aliás, foi de lá do Paraguai que veio essa praga. Ou seja, se a questão fosse larica, eles já estariam devidamente turbinados com as vastas plantações locais de _Cannabis sativa_ e assim devorando tudo pela sua frente na Argentina e no Uruguai. Mas não. Isso não aconteceu.
Read 10 tweets
10 Jun
Diante de seus olhos, a (discreta) Renascença Psicodélica.

Por que, apesar de todo o fuzuê na mídia, a Ciência Psicodélica e o uso terapêutico dos psicodélicos ainda estão distantes de serem hegemônicos?

Segue a #aulacordel aí. Faz tempo que eu não faço uma, né?
Olhe o gráfico no tuíte anterior. Ele mostra, ao longo do tempo, um contagem do número de certos artigos científicos publicados no PubMed, o principal recurso de busca de artigos biomédicos, que é mantido pela Biblioteca Nacional de Medicina, dos EUA.

ncbi.nlm.nih.gov
Em azul nós temos o número de artigos anuais publicados, entre 1950 e 2019, com a versão em inglês das palavras 'dietilamida do ácido lisérgico' (LSD).

Em amarelo estão os artigos com a palavra 'psilocibina', o princípio ativo dos cogumelos alucinógenos.
Read 17 tweets
17 Apr
Está na hora de prestarmos atenção no que está acontecendo na Bélgica. Até agora, não tem havido muita discussão no Brasil sobre a situação da epidemia de covid-19 por lá.

Siga o #cordel e vamos entender porque os belgas estão em uma situação gravíssima.
Se nós olharmos o número total de mortes, os primeiros colocados não mudam muito: EUA disparado na frente, seguido por Itália e Espanha. Embora com um número grave (acabou de ultrapassar o número de óbitos da China), a Bélgica aparece bem depois da França e do Reino Unido.
Os epidemiologistas, porém, estão acostumados sempre a olhar os dados em relação ao número de habitantes de cada região que está sendo analisada.

Esse não é um hábito do público em geral, a não ser ao se falar de renda per capita (PIB por habitante), mas a lógica é a mesma.
Read 22 tweets

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