Primeiro dia de trabalho do ano, vamos começar 2021 com energia lá em cima e fazer um fio temático da machosfera.
Vamos conversar sobre a "Red Pill Philosophy" ou a Filosofia Red Pill (pílula vermelha).
Bora lá?
Como já abordado em outros fios sobre a machosfera, a Filosofia Red Pill é um ponto comum de diversas facções dessa machosfera, de PUA (pick up artists/artisttas da cantada) a Incels (involuntary celibates/ celibatários involuntários), todos passam pela Filosofia da Red Pill
Essa filosofia faz referência ao momento no filme Matrix onde Neo deve escolher entre viver o seu mundo como sempre conheceu ou deixar a "matrix", o mundo simulado por máquinas. É uma cena bem conhecida e muito emblemática do filme.
Os membros da machosfera consideram que a escolha de Neo pela pílula vermelha, a que o tiraria da simulação, é uma alusão a uma "tomada de consciência" para descobrir a "verdade oculta". Para eles, entrar na machosfera é tomar a pílula vermelha e a verdade oculta seria +
Descobrir que, na verdade, o mundo é dominado por uma "ordem ginocentrica" onde homens são oprimidos. Isso geraria uma revolta nos homens, o que chamam de "red pill rage" (raiva pela pílula vermelha) porque entendem que mentiram para eles sua vida toda.
O teor dessa "mentira" é variado, vai desde que a "feministas aparelharam o judiciário e o legislativo" até que "nos contaram que teríamos direito de acesso a mulheres, mas isso é mentira". A desumanização e o carácter de commodity conferido a mulheres são frequentes.
A tomada da Red Pill também serve como um "rito de passagem" para membros da machosfera. Diferencia os homens "iniciados" (redpillados) dos homens não iniciados (gado/blue pill).
Além disso, a tomada da Red Pill é feita em estágios.
Primeiro a fase da negação (negam que foram mentidos), depois a raiva (redpill rage, onde podem acontecer desde assédios online a mulheres a atentados violentos), então depressão (alguns chamam esse estágio de black pill), seguido de afastamento de antigos círculos sociais
(esse afastamento é dado porque outros se recusam a ver a verdade que esse membro da machosfera estaria vendo) e, por último, a construção de redes de apoio dentro da machosfera e estabelecimento de nova filosofia de vida que não obedeça a tal "ordem ginocentrica"
Essa é a grande dificuldade de se estabelecer contato e conversa com membros muito internos da machosfera, a maior parte de seu convívio social é feito nesse ambiente onde compartilham essas ideias.
É evidente que essa filosofia é cheia de contradições facilmente apontadas, bem como ideias falsas e baseadas apenas em misoginia. Mas isso é um assunto que abordamos com frequência aqui.
Hoje vamos analisar especificamente a simbologia da Red Pill
Já explicamos o que quer dizer a Red Pill para esses homens, mas o que será que a Red Pill significa para as diretoras e roteiristas da franquia, as irmãs Lily e Lana Wachowski?
Lily e Lana são mulheres trans
Para elas, Matrix seria uma alegoria sobre aceitação da própria identidade. A comunidade trans aponta a anos essa alegoria (o "novo nome" de Neo, os agentes se recusarem a chama-lo por seu nome seria uma alusão a transfobia, entre outros)
Para Lily, a alegoria da red pill é sobre "desejo de transformação a partir de um ponto de vista de alguém no armário" e que não foi mais clara anteriormente porque o mundo corporativo não estaria pronto para uma narrativa trans.
Vejam aqui
Esse vídeo é bem interessante, como ela explica como a ficção científica permitiu ela e sua irmã a explorarem suas identidades. E como esse ambiente foi importante para construção de sua identidade trans.
A Red Pill para as diretoras e roteiristas, então, não é sobre uma "verdade oculta", como falam os homens da machosfera, mas sim uma narrativa trans sobre desejo de transformação e construção de identidade.
Mas, para entender essa narrativa no filme que dizem ser tão fundante na filosofia desses homens, eles precisariam estar dispostos a ouvir pessoas trans e não apenas buscando confirmar suas ideias misóginas.
Talvez a compreensão da narrativa trans desse filme fosse interessante até para evitar os estágios de depressão, afastamento social e agressividade que essa filosofia misógina os levou.
Esse foi o fio de hoje, amanhã voltaremos a falar sobre facções da machosfera.
Que nossa posição em 2021 seja uma posição de ouvir e apoiar a comunidade trans. Feliz ano novo!
Então é a hora de falar da célula do KKK brasileira, aquela que apareceu colocando propagandas em Niterói em 2015
O primeiro indício de células da KKK no Brasil nos anos 2000 ocorreu em 2003, quando o dono do site “Imperial Klans do Brasil” foi detido. O site foi fechado e grande quantidade de material supremacista branco foi apreendido na casa do dono do site.
Ele alegava representar o Klan no Brasil, junto com outras três pessoas. Além disso, também contava com membros e apoiadores em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/f…
Bora falar então dos seguidores de Evola contemporâneos e acabar com essa bad trip que é o Tradicionalismo
Os evolitas brasileiros contemporâneos pesquisados geralmente se aproximaram do pensamento do autor a partir de interesses no que chamam de “ocultismo”, com interesses que variam entre budismo, hinduísmo, maçonaria e outros “conhecimento milenares”, como chamam.
Eles compartilham da ideia do autor de que a “nossa era é uma era de decadência” e os pontos positivos de Evola, para eles, seria a retomada positiva de uma ortodoxia do budismo.
Então vamos continuar falando sobre o Evola e seu pensamento. Vamos explorar a questão dos yugas e das castas do pensamento antiliberal, anticomunista e fascista do autor italiano
Evola advoga pela existência de um "mundo metafísico superior", isso junto com uma grande valorização de hierarquias e cultura hindu, levou Evola a apoiar sistemas de castas. Inclusive uma concepção do tempo como dividida em castas, ou Yugas
O primeiro Yuga é a Era de Ouro, Satya Yuga, governada pela "casta superior" de sacerdotes. A partir da “degenerações”, como chama Evola, a Era de Ouro dá lugar a outras Yugas.
Então hoje vamos falar de um dos principais autores que a galera próxima do tradicionalismo gosta de ler: Julius Evola
Evola já apareceu aqui outras vezes, ele é bastante lido por diversos grupos de extrema direita, de integralistas a neonazistas revisionistas.
Julius Evola foi um autor e filósofo esotérico italiano do século XX, grande admirador de Mussolini e, ao mesmo tempo, crítico do regime fascista por este “não ser de direita o suficiente”
Bora falar então dos três porquinhos do Tradicionalismo: Bannon, Dugin e Olavo de Carvalho.
Vamos ver da onde surgiu as ideias desse guru do Bolsonaro e seus colegas
Bannon, ex-estrategista de campanha de Donald Trump, concedeu entrevistas a Teitelbaum. Nelas, ao abordar o Tradicionalismo, Bannon contou como descobriu o Tradicionalismo numa viagem para o Oriente e demonstrou bastante conhecimento sobre pensamentos de Guénon e Evola.
Apesar de não podermos chamar Bannon de tradicionalista, pelas ideias conflitantes entre Tradicionalismo e políticas populistas de extrema direita, é notório que essas ideias influenciaram o estrategista