Vamos continuar na missão de falar de anc*p?

Hoje vamos ver o que são, do que se alimentam, onde vivem, o que pensam e, a pergunta que irrita todos os anarquistas desse site, eles são mesmo anarquistas? Image
Primeiro vamos ver o que eles dizem sobre sua ideologia.

Anc*ps se definem enquanto uma "filosofia política", não ideologia, porque o anc*p não seria algo prescritivo, ou seja, não dita como o mundo deve ser.
Para eles, o anc*p analisa as coisas que já existem e impõe um “limite ético” à interferência nas liberdades individuais. Isso porque afirmam que o anarcocapitalismo é possível e que já existe expressões deles na sociedade, a partir do capitalismo.
Essa posição, porém, parece um pouco ambígua. Ao mesmo tempo que dizem já existir expressões do anacocapitalismo por já existirem "trocas voluntárias" (a definição deles de capitalismo), também dizem que o sistema atual não é capitalista, mas sim corporativista.
O corporativismo seria uma versão deturpada do capitalismo onde não existe competição perfeita (exclusivo do capitalismo real) porque existe um conluio entre empresas e Estado que impedem a competição perfeita de existir. Por isso o Estado precisaria ser eliminado.
O debate sobre oligopólio, monopólio, trustes, cartéis e holdings (que afetaria a concorrência perfeita) gira em torno do papel do Estado na construção dessas figuras e não no papel das empresas. O comprometimento da instituição privada com a livre concorrência não é questionada.
Como outros aspectos do anc*p, elementos são apenas tidos como certos, com poucos debates aprofundados. Como o PN-A, ou pacto de não agressão, que limita a ação do indivíduo a partir de uma ética de não violência, mas pouco se ocupa de definir o que seria uma agressão em si.
Até debates clássicos da sociologia, como do que é constituída a sociedade, se é a mera soma de indivíduos ou se tem algo além no tecido social, é passado por cima.

Para eles, é auto-evidente que a sociedade é constituída apenas de indivíduos e por isso eles são mais importantes
Poderíamos citar muitos exemplos da naturalização de conceitos, como o direito a propriedade privada como sendo um direito natural do individuo, onde autores oferecem explicações economicistas e não análises aprofundadas sobre conceitos, mas o fio se tornaria um pouco chato
Então vamos para pergunta de 1 milhão de reais e que tem deixado os anarquistas do twitter agitados: seriam esses anc*ps anarquistas, se analisarmos o anarquismo a partir de suas proposições clássicas do socialismo libertário?

Não.

Vamos ver o porquê.
Vamos começar por pontos básicos do anarquismo; o antiautoritarismo.

Para eles, a forma mais ética de reger o social seria o livre mercado, pois segue regras “naturais de competição”. Com isso, a “concorrência” estabelece uma “autoridade legítima".
Dessa forma, podemos entender q não são antiautoritários, mas sim a favor da substituição da autoridade do Estado por outra autoridade, q consideram legítima, a autoridade do livre mercado.

A legitimação de uma autoridade dá margem para abandono de outras bandeiras anarquistas
Como a vertente "anarcomonarquista", que abandona a bandeira do anti-estatismo por compreender q monarquia é uma forma de governo melhor que a democracia porque o rei é “proprietário” da terra". A naturalização de conceitos de propriedade privada também colaboram para essa ideia
Até a bandeira do anticlericalismo, muito presente nos anarquistas clássicos, são abandonadas. Eles acreditam que a autoridade da Igreja Católica vem de uma ideia do PN-A, pois seus ensinamentos incluem "não matar", legitimando mais uma autoridade.
Dessa forma, é comum ver anc*ps que validam essa autoridade como uma hierarquia social válida por respeitar o PNA, como é o caso desse grande influencer anc*p.

Alguns defendem também que é possível tirar lições econômicas da Bíblia, sem citar quais Image
Mas, como diz Stephan Kinsella (teórico dessa filosofia), para ser anc*p não é necessário acreditar na viabilidade do anarquismo e nem mesmo segui-lo como ideal utópico.

O que nos leva a outra vertente, os Minarquistas, que deixaram de buscar o fim do Estado
E apenas defendem um tipo de "Estado Mínimo", que seria um Estado com nenhum investimento em Bem Estar Social, saúde, cultura ou educação. Restringindo a um Estado securitário. A Minarquia pode ser também um caminho para o anc*p, já que eles não defendem revoluções.
O cientista político Luis Felipe Miguel também diz que o anarcocapitalismo não deseja ser implementado, funcionando apenas como um reforço ideológico ultraliberal para equação mercado = liberdade.
Ao fim de um fio bem longo, podemos fazer a Turma do Scooby Doo e dizer:

Não são anarquistas se entendidos a partir de conceitos clássicos anarquistas
NOTA:

O texto de Kinsella não será referenciado para evitar disseminação de ideias de extrema direita. Vamos referenciar um texto de um historiador que se propôs a analisar o texto de Kinsella.
Referenciados no fio:
Dal Pai, Raphael Almeida. "A teoria “anarco” capitalista pelos artigos pulicados no site do Instituto Ludw*g von Mis*s Brasil (IM-B) e a noção “libertári*” de anarquismo." (disponível em: periodicos.ufmg.br/index.php/temp…)
Miguel, Luis Felipe. "Utopias do pós-socialismo: esboços e projetos de reorganização radical da sociedade." Revista Brasileira de Ciências Sociais 21.61 (2006): 91-114. (disponível em:scielo.br/scielo.php?pid…)
Recomendamos:
PAULO KOG*S LEVADO A SÉRIO - Meteoro Brasil
Agradecimentos: @anarchanthropos pela ideia de bandeirinha

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Mapa do Ódio

Mapa do Ódio Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @MapaDoOdio

17 Aug
Então é a hora de falar da célula do KKK brasileira, aquela que apareceu colocando propagandas em Niterói em 2015 Cartazes da Imperial Klan of America Brasil. Um desenho de u
O primeiro indício de células da KKK no Brasil nos anos 2000 ocorreu em 2003, quando o dono do site “Imperial Klans do Brasil” foi detido. O site foi fechado e grande quantidade de material supremacista branco foi apreendido na casa do dono do site.
Ele alegava representar o Klan no Brasil, junto com outras três pessoas. Além disso, também contava com membros e apoiadores em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/f…
Read 10 tweets
6 Aug
Vale a Pena Ler De Novo dos Tradicionalistas!
Começamos a ver o que era Tradicionalismo

Falamos das principais figuras contemporâneas dessa corrente de pensamento
Read 7 tweets
3 Aug
Bora falar então dos seguidores de Evola contemporâneos e acabar com essa bad trip que é o Tradicionalismo
Os evolitas brasileiros contemporâneos pesquisados geralmente se aproximaram do pensamento do autor a partir de interesses no que chamam de “ocultismo”, com interesses que variam entre budismo, hinduísmo, maçonaria e outros “conhecimento milenares”, como chamam.
Eles compartilham da ideia do autor de que a “nossa era é uma era de decadência” e os pontos positivos de Evola, para eles, seria a retomada positiva de uma ortodoxia do budismo.
Read 13 tweets
29 Jul
Então vamos continuar falando sobre o Evola e seu pensamento. Vamos explorar a questão dos yugas e das castas do pensamento antiliberal, anticomunista e fascista do autor italiano foto de Evola preto e branc...
Evola advoga pela existência de um "mundo metafísico superior", isso junto com uma grande valorização de hierarquias e cultura hindu, levou Evola a apoiar sistemas de castas. Inclusive uma concepção do tempo como dividida em castas, ou Yugas
O primeiro Yuga é a Era de Ouro, Satya Yuga, governada pela "casta superior" de sacerdotes. A partir da “degenerações”, como chama Evola, a Era de Ouro dá lugar a outras Yugas.
Read 23 tweets
27 Jul
Então hoje vamos falar de um dos principais autores que a galera próxima do tradicionalismo gosta de ler: Julius Evola Foto em preto e branco de E...
Evola já apareceu aqui outras vezes, ele é bastante lido por diversos grupos de extrema direita, de integralistas a neonazistas revisionistas.
Julius Evola foi um autor e filósofo esotérico italiano do século XX, grande admirador de Mussolini e, ao mesmo tempo, crítico do regime fascista por este “não ser de direita o suficiente” Foto em preto e branco onde...
Read 9 tweets
22 Jul
Bora falar então dos três porquinhos do Tradicionalismo: Bannon, Dugin e Olavo de Carvalho.

Vamos ver da onde surgiu as ideias desse guru do Bolsonaro e seus colegas
Bannon, ex-estrategista de campanha de Donald Trump, concedeu entrevistas a Teitelbaum. Nelas, ao abordar o Tradicionalismo, Bannon contou como descobriu o Tradicionalismo numa viagem para o Oriente e demonstrou bastante conhecimento sobre pensamentos de Guénon e Evola.
Apesar de não podermos chamar Bannon de tradicionalista, pelas ideias conflitantes entre Tradicionalismo e políticas populistas de extrema direita, é notório que essas ideias influenciaram o estrategista Foto de Trump abraçando Ban...
Read 22 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!

:(