“Vieses cognitivos são os maiores inimigos do séquito, especialmente para convencê-los a abandonarem a seita em que estão e todos encontram ligação com a abordagem de alhures. Três deles valem a abordagem: o Efeito Backfire, o Investimento Emocional e a Falácia do Concorde”.
“O efeito backfire consiste em, diante de evidências claras contrárias às crenças estabelecidas, tender a não reconsiderar nossa opinião e, na realidade, acreditar ainda mais firmemente nela. O motivo? Ninguém quer ser exposto com o idiota do debate, o equivocado, o desinformado”
“Vira debate não de ideias, mas de orgulho. Ninguém quer se visto como sem personalidade, convicções, fraco. Quando a informação é basilar para suas convicções ideológicas, pior. Vê toda sua estruturação de pensamentos demolida, não se vendo mais como alguém capaz de raciocinar”.
“Seria muito trabalhoso para quem já tem convicções firmadas em sua mente. Um verdadeiro esforço hercúleo, devendo inclusive superar as respostas imediatas de nosso cérebro a surpresas, novidades ou estresses, sem ser com respostas automáticas já sedimentadas no subconsciente”.
“Dan Ariely, autor que se dedica ao estudo da economia comportamental, traz luz ao assunto, afirmando que mesmo expostos a um argumento razoável em um amplo contexto, o cérebro humano tem fortes tendências em tomar decisões baseado em emoção irracional. A culpada? Nossa amígdala”
“O sistema límbico é responsável por funções de alerta do cérebro, mandando mensagens de ansiedade e medo p/ contornarmos perigos iminentes de forma célere e eficaz. Hoje, sem predadores ou outras formas de ataque rotineiro, nossa amígdala tende a focar em causas mais abstratas”.
“Estresse, contradições, surpresa ou notícias negativas. Tendentes, portanto, de forma intuitiva e com respostas emocionais, a generalizações, estereótipos, repulsa ao estranho e ao q já estávamos tendentes a discordar. Aliado à maldição do mente descontínua, a oficina dos gurus”
“O resultado é um viés humano ao investimento emocional, quando nos “apaixonamos” por crenças. Quando mais se investiu numa crença, mais difícil é de abandoná-la. Na verdade, mais fácil mantê-la como resposta óbvia, imediata a qualquer nova informação que nosso cérebro processa”.
“Uma falácia típica de cultos é tão perceptível ao ponto dos líderes usarem e abusarem da mesma para obter maior entrega dos seguidores: a Falácia do Concorde. Ao ter conhecimento sobre uma seita, é comum observador externo não conseguir compreender como os membros não abandonam”
“Isso apesar do cometimento de abusos inacreditáveis contra eles, além de ações indefensáveis, imperdoáveis e nítidas do guru. Como é possível?
A decisão é tomada pelo que já se investiu, não pelo que pode vir a acontecer. Não é coincidência que bolsonaristas continuam adeptos”.
“Isso a despeito do inquestionavelmente repudiável trato com a pandemia ou toda a intervenção em PF e MPF, buscando controlar investigações que afetam diretamente seus filhos e aliados. Ou que ditos “olavetes” defendem seu guru, apesar dos frequentes flertes com o terraplanismo”.
“É difícil cortar amarras após abrir mão de muito pela seita. Romperam amizades, brigaram feio com familiares, indispuseram-se no trabalho… Comprometeram sua vida pessoal, familiar e profissional por culto à personalidade. Comprometeram a própria liberdade de pensar para isso”.
“Venderam alma ao passar pano pra ameaça de fechar Congresso/STF, tortura, homofobia, atos de total ignorância e falta de empatia. Tiveram que defender um descaso completo com a saúde pública, ao ponto de chamar de covarde quem pratica distanciamento social pensando no bem comum”
“Após tamanha dedicação, verdadeiro processo de desumanização a troco de nada, só para manter-se agarrado às suas novas convicções absorvidas por processo drástico, intenso e de desprogramação de personalidade como a de seita, não é fácil assim deixar tudo pra trás e abandonar”.
“O termo Falácia do Concorde é usado na Economia e vem do investimento contínuo e vultuoso britânico e francês a fundo que desenvolveria o avião supersônico Concorde, mesmo após ficar clara a inviabilidade. Desistir foi tratado politicamente como admitir fracasso e perder ‘tudo’”
“Há o paralelo entre movimentos terraplanista e bolsonarista. Desdenhados intelectualmente (tanto no âmbito intelectual, científico ou político), buscaram a tão sonhada aceitação, feita por seita que dá o que quer: sensação de pertencimento e ridicularização de quem o desprezava”
“Uniram-se e bateram de frente com quem desdenhava, dando autoestima e sensação de pertencimento.
Virou muito mais uma questão de identidade emocional que de convicção racional. A defesa de um político ou de uma ideia anticientífica virou secundário”.
“A seita representa hoje seu amor próprio, ego, identidade. É muito mais complexo. Sair da seita é abrir mão de verdadeiras frações de sua nova identidade, construída a ferro e fogo”.

Segue tal análise da mente bolsonarista e a fidelidade apesar de tudo:
codexexilium.wordpress.com/2020/08/05/a-c…

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Matheus G. 😷

Matheus G. 😷 Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @MatheusDVG

25 Jul 19
Contribuição sensacional de (@madeiradez): no séc. XVII, auge da Santa Inquisição, a bruxaria era o grande fantasma, a maior preocupação da sociedade europeia - os inquisidores mais abusivos eram direcionados para “combatê-la”, com métodos ainda mais agressivos e arbitrários.
Nesse sentido, a primeira pessoa a trazer racionalidade ao assunto foi um filósofo e padre jesuíta, Friedrich Spee. Um livro com seus textos, Cautio Criminalis ("Precaução para promotores"), de 1631, argumentava que a "verdade" obtida por método inquisitorial penoso era falha.
Focava sua atenção justamente no pior dos crimes, o da bruxaria! Os “Promotores”/inquisidores não só deveriam “agir de forma mais arbitrária e negligente”, mas “prestar mais atenção e cuidado do que em qualquer outro crime capital, a fim de evitar um julgamento ilegal e confuso”!
Read 9 tweets
9 Jun 19
As conversas vazadas (foi confirmado pelo MPF) deixam incontestáveis a parcialidade de Moro e sua suspeição na condução dos processos da Lava-Jato, fora inúmeras infrações disciplinares, éticas e ilegalidades na atuação jurisdicional. Chocante! #VazaJato

theintercept.com/series/mensage…
1- Moro se intrometeu diretamente no planejamento do MPF: “Olá Diante dos últimos desdobramentos talvez fosse o caso de inverter a ordem da duas planejadas”.
Sugestões às fases seguintes da Lava-Jato - "aconselhar uma das partes acerca do objeto da causa" gera suspeição pelo CPC.
2- Moro consultou Dallagnol sobre como reagir a notas do PT: "O que acha dessas notas malucas do diretorio nacional do PT? Deveriamos rebater oficialmente? Ou pela ajufe?”.
A demonstração de parcialidade é novamente clara, agindo em conjunto com MPF para decidir melhor estratégia
Read 35 tweets
9 Mar 19
Lendo sobre História negra feminina no Brasil, uma descoberta me emocionou. Deparei-me com uma das histórias de vida mais inacreditáveis e impressionantes que já ouvi, a de Ná Agontimé, a rainha de 2 mundos, nascida no séc XVIII. O desfecho é no Brasil. Trágico e recentíssimo👇
Agontimé foi rainha do reino de Daomé, atual Benin. A história do reino já dá thread. Sabe Dora Milaje, exército feminino de Wakanda (Pantera Negra)? Inspiradas nas únicas amazonas e exército feminino da história: as “nossas mães” de Daomé! Superavam homens em eficácia e bravura.
Ná era uma das esposas do rei Agonglo, do reino de Daomé (atual Benin) no século XVIII. O rei recebeu de um sacerdote a premonição de que seu primogênito Adanzan, sucessor ao trono, seria um desastre, por ser sanguinário. O filho de Agontimé, Guezo, ainda menino, virou o sucessor
Read 14 tweets
8 Mar 19
No genocídio indígena, a política indigenista oscilou dependendo dos interesses lusitanos. Coroa, colonos, jesuítas. Após bugreiros, escravidão, extermínio e catequização, veio ação governamental inspirada no positivismo dominante da época: a assimilação do índio à sociedade.
Portugueses pautavam-se em falsa concepção nobre, humanista e evolucionista social, pregando aculturação “superior” forçada. Igual Bolsonaro, 4 séc depois. Essa lei pombalina, séc XVII, era “farsa libertária, só representou o direito de ser explorado sem ter para quem apelar”.
Com o Império, o índio foi tratado como entrave ao desenvolvimento, como agora. Deixou de ser um problema de mão de obra, para ser de terras. Exatamente o que Bolsonaro pensa. Mas 2 séculos antes, no Império e não na democracia. “Seriam capazes de superar sua própria natureza”?
Read 20 tweets
4 Feb 19
“Fazemos lei pra ter efeito prático e não para agradar professores de processo penal”, disse Moro sobre o pacote.
O anti-intelectualismo segue à toda. Por que agradar quem dedica a vida ao estuda do assunto, né? Até na ditadura reformas eram antecedidas de comissões de juristas.
A proposta é recheada de inconstitucionalidades e absurdos lógicos e jurídicos. Não à toa, não é pra agradar juristas e ignorou comissão prévia de especialistas - apontariam falhas. De início, regime inicial obrigatório fere o princípio da individualização da pena. STF já decidiu
Moro ignorou o já existente excludente de ilicitude por legítima defesa e estrito cumprimento de dever legal. Quer alcançar também o excesso, inclusive DOLOSO, abrindo margem p/ execuções - possibilita PERDÃO judicial p/ HOMICÍDIO DOLOSO por PM. Ou seja, COM INTENÇÃO de cometê-lo
Read 11 tweets
19 Dec 18
Segue uma análise jurídica da polêmica decisão do Marco Aurélio. Farei fugindo dessa polarização burra que resume a importantíssima questão, que tem reflexos no mundo jurídico como um todo, a “Lula preso” ou “Lula livre”.
De início, é a conta sendo cobrada do casuísmo judicial.
Carmen Lúcia pessoalizou, jogando institucionalmente p/ o público, todo o importante julgamento objetivo da execução provisória da pena em 2ª instância (constitucionalidade do art. 283 do CPP, maior entrave da tese), jogando o HC do Lula à frente dos ADCs, que pacificariam o tema
Assim, conseguiu manter Lula preso, sem comprometer a imagem do STF, ao passo que deixou a polêmica questão em aberto. Preferiu se livrar do caso Lula rapidamente ao invés de resolver o tema para todos. O jurisdicionado continuou refém de quem será o relator sorteado em seu HC.
Read 14 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!

Follow Us on Twitter!

:(