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Carapanã @carapanarana
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Um pouco sobre a guerra do Trump com o ex-Chefe Estrategista da Casas Branca, Steve Bannon. Começo explicando quem é o Bannon, como ele pensa, como fez sua carreira na política. Depois algo da disputa dele com o Trump a partir das informações do novo livro do Michael Woff.
Steve Bannon é graduado em planejamento urbano, tem um MBA pela Harvard Business School. Começou sua vida profissional como um oficial da Marinha e depois do serviço militar trabalhou na Goldman Sachs, multinacional do setor financeiro.
Um dos trabalhos de Bannon na GS foi ajudar expandir os negócios para o setor do entretenimento (motivo pelo qual detém parte dos direitos do seriado Seinfeld), Também esteve envolvido com o projeto Biosfera 2 e mudou-se para Hollywood, onde produziu filmes e documentários.
Esses documentários são peças para a agenda conservadora nos EUA (tipo Border War: The Battle Over Illegal Immigration), ataques à esquerda (Occupy Unmasked) ou ao partido Democrata (Clinton Cash). Um deles (Generation Zero) é uma apresentação ao que pensa o próprio Bannon.
Bannon foi um dos fundadores do site Bretibart News, do qual assumiu a liderança depois da morte de Andrew Breitbart em 2012. Ele também foi o vice-presidente da Cambridge Analytica, empresa do bilionário Robert Mercer (que também é dono da Breitbart).
Bannon ganhou imenso destaque em 2015-16 quando se tornou o Chefe de Campanha de Donald Trump, depois que alguns escândalos de Paul Manafort vieram à tona. Ele é considerado um dos principais mentores intelectuais do neonativismo que se tornou central para o Partido Republicano.
Financiado por muitos, Bannon fez uma fortuna como propagandista.
nytimes.com/2017/03/31/bus…
Sob sua tutela, Breitbart News deu alguns passos largos em direção à direita. Bannon foi várias vezes acusado de dar plataforma a supremacistas e neonazistas. Também foi o principal responsável pelo estrelato de Milo Yiannopoulos (e tudo era verdade).
buzzfeed.com/josephbernstei…
Nessa a semana a @NYMag publicou um trecho de um livro que o jornalista Michael Wolff escreveu sobre o primeiro ano do governo Trump. É uma bomba: Trump é retratado como um imbecil e a Casa Branca do 1o ano como o epicentro de uma disputa de três facções.
nymag.com/daily/intellig…
O livro também revela que, bizarramente, Trump e seus oficiais de campanha não esperavam vencer as eleições mas, com razão, consideravam a própria campanha uma vitória para todos. Segundo Wolff, era real o choque que Trump aparentava durante a primeira aparição depois da vítória.
A partir daqui eu falo a partir da versão apresentada por Wolff. Trump gostaria que Bannon fosse seu Chief of Staff, e ele queria o cargo. Muitos o aconselharam a não fazer isso pois o Bannon era infame: elos com radicais de direita, desdém para com o estabilishment republicano.
Paul Ryan e Mitch McConnell sugeriram que Trump indicasse Reince Priebus, que era o "chairman" do Partido Republicano durante a campanha de Trump. Ele serviria como uma ponte entre a "ala Trump" e os republicanos mais, digamos, convencionais.
Bannon foi nomeado como o "Chief Strategist" (Estrategista Chefe), um cargo inexistente até então. Chegou a sentar nas reuniões do Conselho de Segurança Nacional, mas foi removido em Abril.
washingtonpost.com/news/post-poli…
Na prática havia três centros de poder na Casa Branca orbitando em torno do Trump: Bannon, Jared & Ivanka (genro e filha do presidente), e Priebus. Jared e Bannon começaram em bons termos mas à medida que Bannon se isolou em seu gabinete desmobiliado a relação se deteriorou.
Bannon tinha três objetivos: fazer com que Trump cumprisse todas as suas promessas de restrições à imigração; tentar usar o nativismo racista e algo de trabalhismo para cristalizar o apoio dos "working class whites" aos Republicanos; combater o crescente protagonismo da China.
Segundo Wolff, Bannon chegou a dizer que a China seria "a próxima Alemanha nazista". Nas palavras dele "os chineses são como os alemães, racionais demais até o momento que se tornam irracionais." Entre outras, digamos, excentricidades perigosas.
Bannon também enfatizou a mudança da embaixada dos EUA para Israel. E chegou a sugerir que negociassem o Egito como ocupante da Faixa de Gaza e a Jordânia como ocupante da Cisjordânia.
A relação conflituosa entre Bannon e Jared Kushner, aliada à sua relação de "mentor" para com os setores da direita americana que marcharam em Charlottesville, culminaram em sua demissão no dia 19 de Agosto de 2017.
edition.cnn.com/2017/08/18/pol…
Fora da Casa Branca, Bannon voltou ao seu antigo cargo da Breitbart News e passou a atuar pesadamente em duas eleições de 2017: para o governo e legislativo do estado da Virgínia, para o senado pelo estado do Alabama, para a cadeira do Procurador-Geral Jeff Sessions.
As duas eleições fizeram campanhas centradas em questões como imigração e conservadorismo extremo. Nas primárias do Alabama Bannon apoiou o ex-procurador Roy Moore em favor do candidato do estabilishment Luther Strange. E Moore se provou uma completa bomba...
... além de declarações absurdas (condenando os Direitos Civis, voto feminino, a simples existência da homossexualidade e até a abolição da escravidão!)surgiu uma história corroborada por muitos de que Moore era um predador sexual que perseguia meninas.
theguardian.com/us-news/2017/d…
Os Republicanos perderam as eleições na Virgínia e, para o choque geral, também no Alabama. Os republicanos culparam Steve Bannon pela escolha de Roy Moore.
businessinsider.com/republicans-bl…
Depois das derrotas, uma calmaria, até Michael Wolff circular seu livro para algumas redações. Em certo trecho, Bannon afirma que o encontro de Trump Jr. com oficiais do governo russo durante a campanha teria sido "anti-patriótico" "traiçoeiro".
theguardian.com/us-news/2018/j…
Por que Bannon falaria isso? Sua luta não era contra o estabilishment republicano? Trump não personifica essa luta? Mais ou menos. Bannon e os Mercer (que são seus mecenas e de boa parte da extrema-direita dos EUA) apoiavam Ted Cruz durante as primárias.
publico.pt/2017/08/27/mun…
Ted Cruz era considerado o "candidato" do Tea Party: estilo Sarah Palin sem a parte despreparada e estúpida. Trump na política era criatura de outro operativo republicano controverso (para não dizer criminoso): Roger Stone.
brasil.elpais.com/brasil/2017/07…
Mas por que tudo isso aconteceu agora? O trecho do livro de Wolff na @NYMag e a biografia do próprio jornalista deixam algumas pistas. Bannon vivia tentando diminuir a influência de Rupert Murdoch, o bilionário dono do conglomerado Fox, na Casa Branca de Trump.
Wolff foi biógrafo de Murdoch e chegou e defendê-lo durante o escândalo envolvendo o hacking de telefones celulares pelo tabloide ingles News of the World.
archives.cjr.org/the_audit/mich…
Além disso Wolff também é acusado de florear detalhes e, em pelo menos 10 ocasiões, inventar falas em algumas de suas colunas: reprodução de rumores como fatos.
newrepublic.com/article/67746/…
A despeito das controvérsias, que nos recomendam cautela na leitura dos eventos narrados por Wolff, ele afirma ter várias das declarações mais polêmicas gravadas: incluindo as de Steve Bannon.
axios.com/how-michael-wo…
Em pré-venda o livro já está em 1o lugar na Amazon.
newsweek.com/how-and-where-…
Antes que mais alguém fale algo, circulou um trecho paródia sobre uma suposta obsessão do Trump com um "Gorilla Channel", foi uma piada da conta @pixelatedboat, não um trecho real do livro do Wolff.
Como ele mesmo disse...
Entre a posição de Wolff como insider, ele estava presente em vários dos eventos que narra, e alguma infâmia no seu modo de fazer jornalismo fica uma certeza: a guerra civil dos gabinetes do Trumpismo explodiu para além da presidência. Vamos aguardar os próximos capítulos.
Minha única previsão são muitos e muitos memes envolvendo o Wolff : )
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