Profile picture
Marlos Ápyus @apyus
, 23 tweets, 7 min read Read on Twitter
Era outubro de 2014.

O Brasil concluía a eleição mais suja de todos os tempos quando um raro veículo de imprensa não alinhado com o governo trouxe na capa que a presidente da República e seu antecessor tinham ciência de um esquema de corrupção na estatal do petróleo.
Mas a informação chegou por demais tarde, sem força suficiente para impedir a reeleição de Dilma Rousseff, ou o quarto mandato consecutivo do Partido dos Trabalhadores.
No dia seguinte, para deleite de uma imprensa majoritariamente governista, apenas vinte brasileiros se reuniram numa praça em São Paulo exigindo o impeachment da sucessora de Lula.
Cinco dias depois, por volta de 5 mil pessoas se reuniram na principal avenida de São Paulo pedindo, além de impeachment para Dilma Rousseff, algo que surgiu destacado em várias fotos: imprensa livre.
Mas aquela imprensa, que estava longe de ser livre, preferiu dar destaque aos poucos cartazes que falavam em intervenção militar.
Mesmo em bom número, aqueles manifestantes estavam isolados. Não só a imprensa negava-lhes o devido apoio, mas também políticos, empresários, lideranças religiosas, movimento estudantil, classe artística, sindicatos... Nenhum grupo de pressão colaborava.
Contudo, aqueles manifestantes ainda tinham liberdade de expressão. E, por intermédio das redes socais, convocavam atos e compartilhavam informações publicadas em seus blogs e canais.

Quatro meses depois, levaram 2,4 milhões de brasileiros às ruas.
Nos meses seguintes, a imprensa tradicional tentaria a qualquer custo desmerecer as manifestações, destacando as versões mentirosas dos corruptos investigados e, por vezes, sorrindo para selfies com o principal alvo dos protestos.
É verdade que, por ossos do ofício, tal imprensa noticiava o escândalo desbarato pela operação Lava Jato na Petrobras.

Mas logo se convertia em assessoria para amenizar o estrago de tanta notícia ruim para a esquerda brasileira.
Após um ano de protestos e prisões de empresários que delatavam políticos corruptos, a crise política se intensificou de tal forma que Dilma Rousseff caiu por um processo de impeachment em agosto de 2016.
O destino de Lula exigiria mais tempo. Para tanto, usava o próprio carisma e uma imprensa a ele simpática para vender a mentirosa versão de que seria inocente dos crimes a ele imputados.
Nada menos do que 20 juízes se debruçaram sobre o caso em 4 instâncias. E quinze deles não tiveram dúvida de que o ex-presidente enfrentara um processo justo, garantindo-lhe a prisão somente em abril de 2018.
Neste meio tempo, a operação Lava Jato conseguiu condenar 132 investigados que mantinham relações espúrias com mais de uma centena de parlamentares numa soma de propinas que, até maio de 2018, chegava a R$ 6,4 bilhões.

Bilhões.
Também nesse meio tempo, Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, vitória essa atribuída pela imprensa americana à propagação de notícias falsas — argumento que segue carecendo de um estudo sério que o comprove.
Mas a imprensa brasileira, aquela do selfie com corruptos, enxergou no argumento falacioso uma brecha para pressionar o Facebook a criar uma mecanismo que a ajudasse a censurar os grupos que convocaram os atos pelo impeachment de Dilma Rousseff, aquela da selfie com jornalistas.
Entre idas e vindas, a plataforma ficou pronta. E foi entregue a três agências de fact-checking compostas de jornalistas simpáticos ao governo que caiu após o maior escândalo de corrupção da história.

Tudo isso a 5 meses da próxima eleição presidencial.
Foi a liberdade de expressão na internet que permitiu ao povo brasileiro convocar atos e se livrar do governo mais corrupto de sua história.
Agora, o Facebook colocou 36 censores simpáticos àquele governo corrupto entre a informação e os mais de 100 milhões de brasileiros que usarão a rede social para se informar nessa eleição.
Acusado de criar uma departamento de censura, algo que inexiste no Brasil desde que deixou de ser uma ditadura nos anos 1980, o Facebook se colocou na defesa dos censores, sempre com a desculpa de que combate “fake news”.
Entre os milhões de brasileiros que lutaram contra um governo corrupto, e uma imprensa que tirava selfie com aqueles corruptos, a rede social de Mark Zuckerberg preferiu ficar do lado que censura o cidadão brasileiro.
Então, pessoas, é essa a situação.

O Brasil viverá a eleição mais importante de sua história.

E, graças ao Facebook, uma imprensa toxicamente aparelhada por uma esquerda conivente com a corrupção terá poderes para calar veículos independentes na maior rede social do mundo.
Portanto, quando o Facebook fizer uma peça de propaganda alegando trabalhar por um mundo melhor, lembre-se que, no Brasil, ele toma parte do lado que, por 13 anos, comandou o maior escândalo de corrupção da história.
Um ajuste na thread: apesar de haver três agências almejando esta censura nas redes sociais e sistema de busca, apenas duas participam dessa iniciativa no Facebook, o que reduz o total de censores a 12 jornalistas.
Missing some Tweet in this thread?
You can try to force a refresh.

Like this thread? Get email updates or save it to PDF!

Subscribe to Marlos Ápyus
Profile picture

Get real-time email alerts when new unrolls are available from this author!

This content may be removed anytime!

Twitter may remove this content at anytime, convert it as a PDF, save and print for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video

1) Follow Thread Reader App on Twitter so you can easily mention us!

2) Go to a Twitter thread (series of Tweets by the same owner) and mention us with a keyword "unroll" @threadreaderapp unroll

You can practice here first or read more on our help page!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just three indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member and get exclusive features!

Premium member ($3.00/month or $30.00/year)

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!