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Thiago Krause @ThiagoKrause2
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Eu tava trabalhando até agora (a vida atrapalha o tuiteiro), mas estou desde ontem revoltado com o Moro no Ministério da Justiça, e já que mais essa desgraça se confirmou vou tentar organizar os pensamentos pra entender o motivo do meu ódio.
Em termos políticos, é uma jogada genial para o Bolsonaro, como apontou o @zerotoledo : ele consegue como fiador o símbolo do combate à corrupção e terceiriza seu governo em mais esse setor, isentando-se de culpa por eventuais problemas que na economia.
piaui.folha.uol.com.br/super-moro-202…
O quanto isso pode ser um problema pra eventuais membros e esquemas do próprio governo depende muito do novo Procurador-Geral da República, cujo processo de escolha será uma incógnita, mas deve ser alguém alinhado ao bolsomorismo (não será difícil).
O problema é que o Moro é “indemissível”. Guedes pode sair: vai atrapalhar muito o governo? Vai, mas acha-se outro fiador, não é insubstituível. O Moro é. Como tem um ego do tamanho do mundo, pode criar problemas, dependendo do seu objetivo.
Mas, no curto prazo (que é até onde esse governo pensa - e aí discordo do @zerotoledo ) o público vai bater palma. Só quem se incomoda é a bolha liberal preocupada com avanços institucionais e a esquerda que já não gostava do Moro (ou seja, minha TL inteira).
E aqui a gente entra no porquê isso é um absurdo em tantos níveis que eu ficaria o resto do dia tuitando pra listar. Eu acho o combate à corrupção essencial pro avanço do país pra combater o rent-seeking que potencializa a desigualdade e prejudica a produtividade.
Quebrei o pau com um intelectual petista por isso e fui xingado de “jovem incauto (...) que fala insanidades” por defender o possível papel salutar da Lava-Jato pra diminuir o papel das nossas instituições na reprodução da desigualdade.
m.folha.uol.com.br/ilustrissima/2…
Eu sabia que isso era um resultado potencial, não certo, que havia abusos e que só a política resolveria, não prender todo mundo, porque o que importa são as instituições. Mas estava disposto a relevar muitos abusos, considerando o pessoal da LJ em geral bem intencionado.
Havia obviamente vieses - o pessoal claramente era menos petista que, por exemplo, o @joaquimboficial - mas isso era inevitável, e eu considerava que o PT inevitavelmente ia tomar mais porrada pelos 13 anos no poder e pela falta de foro.
Certos atos - principalmente a divulgação às pressas dos áudios da escuta sem qualquer tipo de seleção - eram evidentemente absurdos e politicamente motivados. Ele queria prender o Lula e não queria arriscar que tivesse foro. Mas ainda assim eu queria dar o benefício da dúvida.
Mas, como Hobsbawm já dizia e a @bruna_soalheiro destacou aqui, a retrovisão é um elemento central do trabalho do historiador. Como terminam os processos influencia como a gente analisa seu desenrolar.
Inevitavelmente, tudo que o Moro fez vai ser vista sob o prisma do aceite do convite de um presidente que disse querer que o Lula apodreça na cadeia, que a cúpula do PT seja presa, além das ameaças gerais contra os vermelhos. Como não achar que foi perseguição?
Isso é duplamente péssimo: vai fazer a esquerda enlouquecer nas teorias de conspiração e Lula Livre, que são um jeito certo de perder as eleições. Por outro lado, torna ainda mais a luta contra a corrupção (que é central pros eleitores) um tema de direita.
Isso vai blindar o governo de acusações de corrupção (e obviamente vai haver corrupção, ou Magno Malta e Ônix Lorenzoni são ilibados, além da série de oportunistas que vão ganhar espaço?) e pode jogar no lixo todo o legado da Lava-Jato quando (se?) o bolsomorismo entrar em crise.
No caso especificamente do Moro, me parece claro que a condenação do Lula foi por causa do calendário eleitoral, que os desembargadores combinaram, mas o pior vem depois. As ações contra o Richa e a delação bombinha-e-não-fim-do-mundo do Palocci foram pra favorecer o Bolsonaro.
Mas o pior não é isso. O Bolsonaro tem um apoio fortíssimo entre entre os militares, uma bancada conservadora grande (ainda que por enquanto desorganizada), meios de comunicação pra chamar de seus, apoio significativo de diversos setores sociais e lobbies econômicos...
O bolsonarismo pode perseguir quem quiser da classe política com acusações de corrupção, com legitimidade frente à população. Como a corrupção tá amplamente disseminada, é só seguir o dito “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Mesmo que não o faça, os políticos devem sentir medo
Muito vai depender do que o Moro vai fazer. Eu tenho certeza que ele tá cogitando concorrer à presidência, porque senão era só esperar a vaga no STF. Mas Bolsonaro vai tentar a reeleição (apesar de dizer que não) e Mourão quer ser o sucessor. Tem muito tempo pra dar confusão.
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