Queria falar um pouco sobre algumas coisas que eu tenho visto nas ruas e nas redes sociais nos últimos meses, sobre a grande falha que (para mim) a esquerda vem cometendo e se transformou em números hoje.
Faz tempo que a esquerda perdeu seu maior diferencial: a capacidade de dialogar. Como seu discurso é, por definição, mais “humano”, ela age como se tivesse o monopólio das virtudes e fosse isenta de qualquer pecado. Não tem e não é.
E veja bem: ela não perdeu a capacidade de dialogar com o adversário, mas com a população. E, na minha opinião, tem muito de redes sociais na causa disso. Hoje, lacrar dá mais status que tentar dialogar e achar um meio termo.
Muita gente próxima de mim votou em candidatos da direita. E a maior parte deles – não todos – votou no Lula em 02 e 06. Vários na Dilma em 2010. Menos, mas ainda assim alguns, também em 2014.
Quando alguém abre o voto, eu sempre pergunto o motivo. Mais de uma vez, ouvi que: “peguei bronca, porque sempre que eu discordo da esquerda, em qualquer assunto, eu sou chamado de manipulado ou pintado como um monstro”.
Pra mim, o resultado de hoje é bem sintomático disso. E não estou falando de Bolsonaro, mas de deputados e senadores. O país deu uma enorme guinada à direita (na verdade, isso vem acontecendo com o mundo, porque essas viradas para direita e esquerda são algo cíclico).
E claro que não estou falando que a direita se deu bem nessas eleições apenas “por culpa da esquerda”. Seria simplório demais falar isso. Tem diversos outros fatores, de insatisfação popular à estupidez partidária, de serviços públicos grotescos à corrupção.
E, pra mim, entre todos esses motivos, o comportamento da esquerda não pode ser deixado de lado. Ela diz lutar contra a discriminação ao mesmo tempo em que discrimina; ela reclama de falta de diálogo e não dialoga.
(Eu, que não estou longe de ser de direita, já fui xingado (mais de uma vez) na internet simplesmente por criticar pautas, partidos ou políticos de esquerda. Boa parte da esquerda se tornou intolerante com qualquer ideia diferente das dela e não consegue enxergar isso.)
Eu acho que é hora de dar um passo para trás e começar a repensar estratégias, conversas, ideias. É hora de pensar de forma mais séria, e além dos “[INSIRA AQUI O INIMIGO DA SEMANA] não passarão”.
(Mesmo porque tudo o que essa lacração faz é pregar para convertidos. A internet tem um poder enorme, e a maior parte da esquerda está se achando o máximo a cada postagem, sem perceber que está falando falando apenas com ela mesma).
Está na hora da esquerda voltar a dar mais importância para propostas que para lacrações. Está na hora de dar mais valor para ideias que fanfics. Está na hora de pensar nas causas dos problemas, e não bater boca com os sintomas pra ganhar RTs.
E isso vai ser absurdamente necessário daqui em diante. Não como estratégia nos próximos dias, mas como projeto para os próximos anos. Porque eu não quero defender ou atacar uma ideologia aqui. Tô sem bandeira alguma, falando como cidadão. E como pai de família.
A gente criou um barril de pólvora que precisa ser desfeito. A direita não vai fazer isso, porque ela ganhou a eleição e não precisa disso. E os (grandes) partidos de esquerda também não vão fazer isso porque eles ganham com esse clima de guerra.
Todos perdem com isso, porque o país precisa desse equilíbrio de ideias. Como eu disse, é hora de dar um passo para trás e ver se a intolerância não se tornou igual ao que ela enxerga no “outro lado”.
(desculpem se tem algum tweet confuso, eu me preocupei mais em postar isso ou não com o clima de ódio que vejo na TL, e não revisei como deveria). e desculpem pelo flood.
