Umberto Eco disse que a internet fez o idiota da aldeia ganhou voz. No Brasil, estamos indo além. Os casos de violência por ódio e preconceito das últimas semanas mostram que o idiota da aldeia ganhou uma arma. E coragem de sair às ruas.
"Ah, é fake news." Olha, um pode ser. Dois ou três, também. Mas todos? Impossível. E o ponto é: se um único deles for verdade, o erro já está acontecendo. Deixou de ser ameaça e virou risco.
Deixa eu falar uma coisa aqui: eu nunca sofri preconceito. Eu sou homem, branco, heterossexual, (oficialmente) católico, nasci em bairro nobre de uma capital do sudeste. Eu não sei o que é sofrer preconceito. E isso me torna privilegiado demais. Eu tenho consciência disso.
Eu sou respeitado quando abro a boca. Eu ando de mãos dadas com a pessoa que amo sem ter medo de apanhar. Eu ando de madrugada sem ter medo da polícia. Qualquer pessoa na minha posição tem OBRIGAÇÃO de entender que isso, no Brasil, é privilégio.
Aliás, se olharmos de forma sarcástica, eu sou uma minoria. Eu faço parte de uma minoria que não sofre preconceito de qualquer tipo. Eu posso existir sendo quem sou, sem sentir medo, sem ser diminuído. Quantas pessoas podem dizer isso no Brasil hoje?
Só que eu não devia ser minoria. Isso que eu experimento no dia a dia devia ser o padrão. Não é? Bom, então devia ser a meta de todos nós. Porque eu não preciso viver com medo para imaginar o quanto isso é horrível.
Por isso que não dá pra compactuar com uma figura pública que desperta ódio nas pessoas, muito menos em quem se aproveita disso para escancarar o próprio preconceito. Pra mim, a questão não é ideológica, econômica, nem política. É uma questão de valores.
"Ah, mas as pessoas de bem não tem o que temer". Eu já ouvi. Agora, quem determina qual é a pessoa de bem e qual não é? Eu não tenho esse poder. Aliás, eu faço questão de não ter esse poder, não gosto dessa ideia. E eu não conheço NINGUÉM que tenha esse poder.
Desculpem o desabafo. É que eu realmente não aguento mais ler notícias de pessoas sendo agredidas por causa de "política" ou simplesmente por ser quem são, e conseguir apenas me perguntar quem será o próximo. E, pior, ver gente achando normal. Não dá.
