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THREAD sobre o São Paulo: vocês já leram por aqui análises muito boas sobre a queda na Libertadores. Atendendo a pedidos, vamos falar um pouco sobre o assunto, dividindo a eliminação em dois aspectos: como consequência de um clube mal gerido (1) e de um trabalho malfeito (2).
(1) O São Paulo de 2019 é um projeto mal concebido, como a maioria de suas últimas versões. Ao definir que André Jardine seria o técnico, Raí e cia deveriam ter montado um grupo de jogadores com características que pudessem atender aos melhores momentos de Jardine na base.
Que características eram essas? Transições velozes (defesa-ataque e ataque-defesa), jogo de apoio (aproximação para troca rápida de passes) e velocidade. Os protagonistas do elenco profissional não oferecem nada disso: Jucilei, Hudson, Nenê, Diego Souza, etc.
Quando falo em “protagonistas”, me refiro à experiência, responsabilidade, currículo. Ou seja, capacidade de mobilização que pode ajudar muito um técnico novato ou também intimidá-lo. Depende da postura, como cada um usa esse perfil, e da liberdade dada pela diretoria ao técnico.
Era preciso adicionar jogadores a esse elenco, mais velozes, com mais energia, e em posições estratégicas, especialmente o meio-campo, 1º e 2º volantes. Jogadores que, como diz Tite, tivessem rodinhas nos pés, para aproximar setores e acelerar as transições. A diretoria ignorou.
Os dois melhores nessa função são jovens. Luan começaria o ano na seleção sub-20 e Liziero tem questões físicas que ainda não o permitem ter bom futebol por 90 minutos em jogos seguidos. Jardine começou o ano longe de ter um elenco dentro do que parece ser sua ideia de futebol.
Chegamos ao (2). Jardine poderia ter feito bem melhor com o que tinha. Era uma questão de adaptação às peças, difícil pra um novato, mas ele pareceu indeciso entre se abraçar ao perfil ofensivo, moderno, ideia vendida na efetivação, ou ao pragmatismo que elenco e situação pediam.
Jardine começou o ano com Jucilei e Hudson, na Flórida, Everton e Helinho dos lados. Havia a ideia de inserir Liziero aos poucos, para tê-lo na Libertadores. Essa transição foi malfeita, demorada. Liziero se lesionou a uma semana do jogo principal. E há a “questão Hernanes”.
O Profeta disputou 90 minutos em 48 horas na Flórida. Então, descobriu-se que não poderia atuar nos primeiros 315 min. do Paulistão. O que houve? Seu desempenho deixa claro: longe do auge físico. Ainda assim, Jardine o escalou contra a Ponte Preta, entre os jogos da Libertadores.
Hernanes foi meia no 1º jogo contra o Talleres. Precisaria de homens rápidos dos lados, mas Jardine fez concessões às suas ideias e escalou Nenê. Hernanes foi 2º volante no 2º jogo. Precisaria de um meia para encurtar sua área de ação. Aí, Nenê não jogou. Dois erros.
Helinho foi o melhor do São Paulo na última 4ª feira. Saiu para a entrada de Nenê. O jovem não ter tido sequência desde a Flórida, sempre saindo para tentativas com os “protagonistas” Nenê e Diego Souza, é um equívoco individual (tirou sua confiança) e coletivo (piorou o time).
Afora decisões erradas, o futebol apresentado pelo São Paulo em 2019 não indica qualquer ideia, qualquer treinamento bem-sucedido, qualquer rumo. Nada. Não é possível enxergar um traço autoral. É cedo? Sim. Mas o São Paulo regrediu em relação a 2018.
Não foi por falta de aviso. Não havia compatibilidade entre o plano de efetivar um novato para criar uma identidade de jogo e o cenário real de moer técnicos e acumular anos sem títulos. O São Paulo mergulhou, como tem feito, num conto de fadas. Despertou rápido e assustado.
Para finalizar, um alerta: há bons jogadores no São Paulo que podem servir a qualquer modelo de jogo (atualmente não há nenhum). Um deles é Pablo, que entra em cada partida desorientado e vai descobrindo o que deve fazer ao longo do jogo. E entende. Talento e visão coletiva.
