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Sou tão vidrado em reuniões presidenciais que escrevi livros sobre três delas: Médici e Nixon (1971), Lula e Bush (2002) e Alfonsín e Sarney (1985). Se você quer entender como funciona e para que serve a diplomacia, estude como se monta uma operação dessas.
Bem planejadas, essas visitas podem transformar a posição do Brasil no mundo, dar prestígio ao presidente de plantão e redefinir os termos da ordem internacional do dia. Mal concebidas, elas machucam o presidente no curto prazo e afetam interesses brasileiros de longo prazo.
Estou em Washington esta semana para entender o que está em jogo e quais os maiores riscos na visita que Bolsonaro fará a Trump na semana que vem. Ainda tenho dois dias de conversas pela frente, mas já aprendi algumas coisas. Vai aqui uma síntese.
Para Trump, esta visita importa por causa da Venezuela. Ele está preocupado pelo tema porque sente que se a pressão contra o regime amainar nos próximos 60 dias, Guaidó afundará. Trump quer ouvir o que Bolsonaro está fazendo para manter a pressão. É assim que ele medirá êxito.
O gov brasileiro está prestes a cometer erro grosseiro: vincular Bolsonaro a Steve Bannon. Há um ano e meio atrás, isso faria sentido, devido ao papel de Bannon na campanha. Hoje, no entanto, é tiro no pé. Bannon está fora do jogo, exerce influência zero e é tido como traidor.
Colando-se a Bannon, Bolsonaro manda um péssimo sinal para Trump. E deixa perplexos todos aqueles funcionários do governo americano (e são muitos) que querem fazer a relação bilateral deslanchar.
O governo americano está dividido a respeito do possível apoio ao pleito brasileiro na OCDE. Tem ministérios aqui decididos a bloquear a menção às quatro palavras mágicas no comunicado final entre os dois presidentes. Mas tem ministros trabalhando como doidos esta semana a favor.
Apenas Trump poderá dirimir o conflito entre seus ministros nesse quesito. Por isso, para fazer acontecer, Bolsonaro terá de pedir o apoio de Trump de maneira explícita no almoço que vão dividir semana que vem. Sem isso, o tema morrerá.
