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Os elogios de Bolsonaro e Doria à execução de bandidos em confronto com a polícia estimula - ainda que indiretamente - a execução de bandidos rendidos e, no limite, grupos de extermínio formados por policiais.
´É evidente que policiais podem e devem atirar para matar qd bandidos estão tentando matá-los. Aqui com na Suécia, é o que ocorre e deve ocorrer. Só que morte de bandidos em confronto com a polícia deve ser vista sobriamente, como algo ruim, porém inevitável em certas situações.
O objetivo básico da polícia, que deve ser comemorado, é o de de prender bandidos e entregá-los à polícia. Mortes em confronto, quando de fato em legítima defesa, são acidentes de percurso. Aqueles bandidos não foram condenados à morte pela Justiça.
Mas o que ocorre qd, num país como o Brasil, o presidente e o governador do Estado + poderoso aplaudem matança de bandidos em confronto com a polícia? Vamos partir do nosso contexto: um país em que a polícia executa bandidos rendidos e há grupos de extermínio ligados a policiais.
Justificar a execução de bandidos em confronto com a polícia em legítima defesa é uma coisa. É defender a polícia e traçar bem a linha divisória entre o legal e o ilegal. Comemorar a morte dos bandidos é dar a ideia de que isso é uma coisa boa em si.
Se é bom executar bandidos, o próximo passo é que às vezes dá para fazer também à margem da lei, isto é, sem ser por legítima defesa. Afinal, quem não quer ganhar aplausos do presidente e do governador?
A polícia tem um trabalho delicado. Por ter o monopólio da violência e estar habituada ao enfrentamento de criminosos perigosos, o policial domina também as "técnicas" necessárias ao crime.
Um policial sabe como se rouba, os canais para ganhar dinheiro com uma mercadoria roubada, sabe matar, sabe como se oculta um cadáver, sabe enfrentar oposição violenta, etc.
No momento que presidente e governador estimulam policial a por um pé além da linha que demarca legal do ilegal - se é tão bom matar bandido em confronto, por q não matar também um que restou e se rendeu? -, eles basicamente estão empurrando o policial a atravessar de vez a linha
E esse sujeito que está sendo estimulado a pular a linha do legal/ilegal é equipado para ser um criminoso violento de uma forma como o cidadão comum não é. Como miliciano ou polícia mineira, ele vai ganhar muito mais do que como policial.
É por aí que vai a linha que liga o apoio e a apologia da violência pelo Estado ao crime organizado. É sabido, p ex. que parte da turma dos porões que punha a mão na massa na guerra suja da ditadura depois entrou pro bicho, que envolve mto mais crime do que apenas um jogo ilegal.
Resumindo, além de bárbara e imoral, a celebração da morte de bandidos em confronto com a polícia alimenta o próprio crime que a nova direita tupiniquim tanto diz querer combater.
Para encerrar, repito a ressalva: a polícia tem todo de direito de atirar para matar (desde que não ponha em risco a vida de transeuntes inocentes) em bandidos que reagem à bala à ação policial. Mas não em bandido rendido ou que não represente ameaça à vida do policial.
