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Mestre @Claudiozaidan11 Prof. @ElvoFerreira

Jânio estava embriagado?

A conduta do ex-presidente durante as solenidades do dia do soldado e a altivez e postura com que passou em revista as tropas, zeram essa absurda possibilidade.
Também sua firmeza irredutível em optar pela renúncia e a retidão gramatical da carta são incompatíveis com uma mente tomada pelo álcool.
"Há quem diga que eu estava embriagado (quando renunciou). Eu passei sete meses em Brasília tomando ocasionalmente cerveja e vinho nacional no almoço."
Por que Jânio tinha a mania de renunciar de cargos, ou de ameaçar fazê-lo, isto fez com que brotasse a ideia de que ele era sujeito a surtos esquizóides ou crises temperamentais ?
A meu ver, o que o “homem da vassoura” fazia, não passava de um jogo de cena planejado, visando obter algum tipo de lucro político. Suas renúncias ou ameaças de renúncias anteriores nunca foram para valer.
Em relação ao que se passou no dia 25 de agosto, há que se ter em mente que, conquanto Jânio tivesse se mostrado irredutível quanto a renunciar, ele debateu essa questão com seus ministros e assessores, com total equilíbrio e lucidez.
Se foi, de certa forma, vago, ao se referir genericamente as “forças terríveis”, o contexto das palavras que proferiu e o texto da missiva endereçada ao congresso, mostram, claramente, que a decisão resultou de uma longa reflexão e de um bem amadurecido pensamento.
Impulsos temperamentais não ocorrem dessa maneira. Há também que se levar em conta que, ainda de madrugada, ele declarou sua intenção ao chefe da casa civil.
Destemperamentos e surtos de natureza psiquiátrica não se sustentam por tanto tempo, nem permitem que a pessoa aja como Jânio agiu, durante as solenidades militares daquela manhã.
Afastadas, assim, as hipóteses absurdas, fiquemos com aquela que indica que Jânio Quadros planejou a renúncia, visando algo que pretendia alcançar, mas que não foi por ele admitido ou confessado.
Palácio do Planalto
[sexta-feira], 25 de agosto de 1961
O presidente Jânio Quadros foi acordado, como todos os dias, às 5h45, pelo seu mordomo, João Hermínio da Silva, que o acompanhava desde os tempos de governador de São Paulo.
Ele lhe entregou um exemplar do Correio Braziliense, e o presidente leu alguma coisa que o irritou. Amassou o jornal com raiva, atirando-o violentamente na cesta de lixo.
Enquanto se barbeava, pediu quase aos gritos que telefonasse para o ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, e para o Chefe da Casa Civil Francisco de Paula Quintanilha Ribeiro.
Jânio falou bravo com Horta, reclamando que não haviam tomado a menor providência. Depois falou com Quintanilha, também em tom áspero. Ao desligar o telefone, ordenou ao mordomo que mandasse encostar o carro urgentemente.
Deixou o Palácio da Alvorada apressadamente e foi para o Palácio do Planalto, aonde chegou, como de costume, às 6h30, a bordo de um Chevrolet sedan, série Two-Ten, preto, ano 1957, automóvel que era utilizado por sua determinação no dia a dia desde que havia assumido o ...
...governo, dispensado a luxuosa limusine Cadillac Fleetwood 1958, adquirida na gestão do seu antecessor, Juscelino Kubistchek.
Após despachar rapidamente com o Chefe da Casa Militar, o general de brigada Pedro Geraldo de Almeida, conversou mais uma vez por telefone com Quintanilha Ribeiro.
O principal compromisso do presidente naquela manhã era a comemoração do Dia do Soldado, que seria realizado na Esplanada dos Ministérios, junto à sede do Ministério da Guerra.
Jânio chegou ao local por volta das 8h em uma limusine Cadillac 1959, não menos luxuosa, pertencente ao Ministério das Relações Exteriores, mas comumente utilizada pela presidência da República em solenidades oficiais.
Ao descer do veículo foi recebido com honras militares pelo titular ministro da Guerra, marechal Odylio Denys, acompanhado pelos ministros da Marinha, almirante Silvio Heck, e da Aeronáutica, brigadeiro Gabriel Grün Moss.
Passou em revista as tropas do Batalhão da Guarda Presidencial que estavam perfiladas, depois condecorou com a Ordem do Mérito Militar as bandeiras de vários regimentos de Infantaria e de Cavalaria do Exército brasileiro, e assistiu à solenidade de entrega de medalhas a ...
...diversas autoridades civis e militares, entre elas o seu chefe da Casa Civil, Quintanilha Ribeiro, o ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, o arcebispo de Brasília, dom José Newton, e o prefeito de Brasília, deputado Paulo de Tarso Santos.
Depois do desfile do contingente militar e sobrevoo de aeronaves da Força Aérea Brasileira, encerrando o evento, o presidente, sorrindo, entrou no veículo oficial e retornou ao Palácio do Planalto.
Jânio Quadros tinha uma aversão profunda pela classe política e, embora em desvantagem no Congresso, sobretudo na Câmara Federal, nada fez para melhorar sua base de apoio.
CIA: Não faz chantagem quem diz aos Estados Unidos: "ajudem-nos ou não poderemos resistir ao comunismo". Pode parecer frase de chantagista, mas trata-se do desesperado apelo de um aliado, que é o que a América Latina nunca deixou de ser em relação aos Estados Unidos.
JÂNIO QUADROS:- "Houve ainda um erro maior, tão sério e tão grave que me levou a considerar a hipótese de não tomar posse. O povo elegera como vice-presidente o Sr. João Goulart, com quem eu não tinha relações de nenhuma espécie".
Nelson - Os Estados Unidos, na época, manifestaram algum desagrado em relação à sua política?
JÂNIO QUADROS:- "Sim. Não nos esqueçamos da aventura da Baia dos Porcos.
Quando o embaixador americano me visitou em Brasília a fim de perguntar se o Brasil iria participar ou não com força armada da invasão de Cuba. Ao que lhe respondi:
"Embaixador, não vai e não aprova Se eu me envolvesse pessoalmente nessa aventura até as pedras das ruas se levantariam contra mim.
Diga ao Presidente Kennedy que vou ser dos primeiros a protestar porque toda nossa política externa - pela voz do Ministro Afonso Arinos - está fundada na autodeterminação dos povos".
Nelson - Quem era esse embaixador?
JÂNIO QUADROS: - Acreditam que eu não lembro?
Nelson - Era o Cabot Lodge.
JÂNIO QUADROS:- "Ele ficou embaraçado de tal maneira que ao invés de apanhar a porta da rua entrou no banheiro, (risos vingativos).
Kennedy ficou amolado de tal maneira - sobretudo depois do desastre - que mandou Adlai Stevenson para cá, só para acertar a vinda de outro embaixador, era Stevenson um americano de outra estirpe".
Nelson - O senhor acredita na autoridade
JÂNIO QUADROS:- "Ninguém nunca atribuiu a mim, diretamente, qualquer veleidade ditatorial. O sr. Carlos Lacerda fez acusações de madrugada, na calada da noite, enquanto eu dormia tranquilamente no Palácio".
Nelson - O senhor não ouviu o pronunciamento dele?
JÂNIO QUADROS:- "Eu o li no dia seguinte nos jornais de Brasília. Tratava-se de uma vasta conspiração que me passara inteiramente ignorada.
O Congresso transformou-se em Comissão Geral de Inquérito, figura inexistente no Direito Constitucional".
Nelson - Isso foi na manhã do dia?
JÂNIO QUADROS:- "Foi na madrugada do dia 25 de agosto. Então havia o propósito nítido de me pôr de joelhos. Nítido! Reuni Oscar e os Ministros militares para lhes dizer: "Que me sugerem?"
Eram oito e meia da manhã e eu ainda ia à cerimónia do Dia do Soldado. Fui, condecorei bandeiras, ouvi o hino, já estando de decisão tomada e declarada a todos eles".
Nelson - Quais foram as sugestões que eles deram?
JÂNIO QUADROS:- "Houve várias sugestões e não desejo individualizar. A dominante era fechar o Congresso".
Nelson - O senhor tinha poderes para isso.
JÂNIO QUADROS:- "Força eu tinha, poderes não".
Nelson - Naquela época não podia declarar estado de sítio, né?
JÂNIO QUADROS:- "O estado de sítio é votado pelo Congresso. O presidente declara mas o Congresso é que vota".
Nelson- Isso antes? O senhor gostou da sugestão de fechar o Congresso?
JÂNIO QUADROS:- "É claro que senti tentação pois aquele Congresso não me merecia o mínimo respeito.
Mas havia algumas particularidades que me fizeram pôr a ideia de lado sumariamente, não chegando nem a exumá-la. isto é, não aprovei essa sugestão".
Nelson - O senhor teria o apoio de seus ministros militares?
JÂNIO QUADROS: - "Sim, teria sim. Aqui, ali e acolá tenho ouvido que nem sempre procederam comigo com a elegância desejável depois da renúncia. Se não todos alguns, mas até aquele momento foram absolutamente perfeitos, não podendo fazer nenhum reparo".
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