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SOBRE CRUELDADE ANIMAL NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O SISTEMA DE ABATEDOURO-FÁBRICA: já recomendei em mais de uma ocasião este livro espetacular que conta em detalhes como se deu a evolução na produção de proteína animal nos EUA. Mas como ninguém vai ler:
A América começou na costa leste onde surgiram as primeiras grandes concentrações urbanas. A criação de animais se dava mais para oeste das cidades onde abundavam grandes planícies de pasto para criação extensiva. Os rebanhos cresciam com as cidades e sua demanda por carne.
Exauriam-se as pastagens e o gado era deslocado para novas pastagens cada vez mais a Oeste. No início, quando as pastagens eram relativamente próximas das cidades, os animais marchavam pro leste e adentravam as ruas em direção aos açougues onde eram abatidos, dentro das cidades.
O boi ou porco eram mortos dentro do açougue, o sangue escorrido para a rua e os restos enterrados. Imagine o problema sanitário criado por uma horda diária de animais chegando pelas ruas, defecando, o sangue dos açougues a cada tantos quarteirões nas ruas.
A demanda por mercados centrais foi do público e por motivos óbvios: era necessária uma estrutura que comportasse o abate dos animais de forma limpa sem criar um problema sanitário para a cidade. A medida que o rebanho crescia junto com as cidades, exauria-se os pastos e
o rebanho de deslocava para cada vez mais longe das cidades, tornando a marcha para os mercados cada vez mais longa e difícil. Comeca aí o transporte de rebanho vivo em ferrovia. Não é difícil imaginar a dificuldade de se realizar essa tarefa com animais vivos. Eis que após
uma série de tentativas, o senhor Gustavus Swift (que Deus o tenha) resolveu a equação e viabilizou os vagões refrigerados. Ao invés de transportar animais vivos em vagões por 1900 kilometros no frio e na chuva (crueldade animal!) eles agora podiam ser abatidos fora das cidades.
Mesmo os mercados centrais já não comportavam a escala do abate das cidades que só cresciam. A verdade é que o mercado consumidor sempre demandou carne boa e barata. A carne sempre teve uma margem de lucro pequena e era subsidiada pelo aproveitamento engenhoso de outras partes da
carcaça. A engenhosidade de homens como Gustavus Swift e seus concorrentes consistia em subsidiar os cortes mais caros com outros produtos. Se eles tivessem permanecido dentro de uma sistema de indústria de manufatura, sem criar o modelo de abatedouro-fabrica, a verdade é que
a grande maioria das pessoas não estaria consumindo a proteína que consome hoje. Já foi feito o cálculo de custo: técnicas de produção como chocadeiras e confinamento são o que garantem proteína de baixo custo. Retiradas essas técnicas, faltaria proteína animal na cesta básica.
E os antibióticos? O mistério a respeito do que seria o elemento mágico que faria um animal ganhar peso (e portanto ser produtivo e viável) era chamado de AFP: animal protein factor e que depois foi descoberto ser a vitamina B12. Por anos procuraram-se maneiras de produzir B12
de forma barata para suplementar a alimentação dos animais. E a forma encontrada estava ali no refugo da produção de antibióticos: os tanques eram drenados de antibióticos produzidos por bactérias e o restante era rico em b12 e de quebra uma parte em antibióticos. E pq não?
O rebanho vivia doente e a introdução do antibiótico só tendia a melhoras o problema com as doenças. Vejam como tudo no final converge para a questão do custo porque o que o mercado quer carne barata. No momento em que o mercado passou a demandar carne orgânica, surgiram os
produtores dessa carne. Mas, isso tem um custo e ele é enorme. É fácil criticar uma indústria pelo que você não gosta que ela faça. Difícil é apresentar uma solução melhor e que não faça o preço ir nas alturas. Quando você olha em retrospecto o processo como um todo, percebe que
na realidade o que eles apresentaram foram soluções para nossas demandas como consumidores. Retire as tecnologias que lhe desagradam do processo e veja sua carne sumir do prato.
Onde eu escrevi AFP, seria APF para animal protein factor.
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