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Liberalismo clássico.

Um dos termos mais mal tratados no Brasil, inclusive na boca de alguns liberais.

Precisamos recuperar seu sentido.

‘Clássico’, afinal, não quer dizer ‘atrasado’.

Quer dizer ‘pioneiro’.

👇🏽👇🏽
Nos últimos dias, vi tentativas de associar “liberalismo clássico” a um menosprezo pela preocupação com mobilidade social e educação pública.

Seriam questões social-democratas, alheias a ideias de liberdade.

Não sei se é ignorância histórica.

Também pode ser só elitismo mesmo.
Não há como dissociar o liberalismo clássico dos burgueses ascendentes lutando contra a nobreza e a monarquia.

Isso. Aqueles que dissolveram a rigidez da hierarquia de classes para substituí-la por…

mobilidade social.
Reinava, antes, a tradição. Não como referência e contexto, mas como corrente pesada.

Corrente que condenava. O sobrenome predestinando a profissão. O lugar na sociedade definido não por escolhas e aptidões, mas por nascimento.

O sangue acima do mérito.
Não há como dissociar o liberalismo clássico dos protestos contra o monopólio da leitura.

Quando a igreja exercia grande poder, ler era habilidade praticamente restrita a padres.

A prensa de Gutemberg não mudou isso sozinha, mas imprimindo e espalhando ideias de liberdade.
O olhar antigo, irrigado por sangue real, era habituado a um glaucoma.

O Rei simbolizava a ordem, herança divina.

A nós, o povo, só cabia aceitar e cumprir nosso papel.
Mas o fogo da liberdade derreteu o gelo da velha ordem. Operamos o glaucoma.

Poder dessacralizado, laicidade estabelecida.

O valor levado à razão, o questionamento ao alcance de todos os cérebros.

"Saber é poder, quem se educa é livre" - esse foi o lema.
O criador foi Wilhelm von Humboldt, liberal clássico alemão.

Concebeu e implementou a grande reforma da educação pública da Alemanha.

Saiu a religião, entrou o liberalismo.

Educação como instrumento de libertação através do auto-cultivo de potencialidades do ser humano.
Humboldt pensou os limites da ação do Estado e produziu uma vasta obra, que adentra as artes e a linguagem.

Como centro de tudo, sempre, a valorização da individualidade humana.

Influenciou escritores como Goethe e Schiller. Foi a maior referência para John Stuart Mill.
Se o conhecessem, alguns “liberais” de hoje talvez chamassem Humboldt de ‘social-democrata’.

Logo ele, um dos pioneiros do liberalismo.

O problema é que têm restringido as ideias liberais a um receituário simplificado do século XX.
Mercado livre, menos Estado, respeito à propriedade privada.

Tudo isso é fundamental mesmo. Só que não substitui as bases substanciais que criaram esse receituário.

Todo indivíduo deve ter oportunidade de florescer seu potencial. Ser livre!!

Isso precisa ser resgatado.
Mesmo sem proibições à leitura, não há liberdade para ler se o indivíduo for analfabeto.

Liberdade econômica é fundamental, mas insuficiente para libertar individualidades.

Liberdade só será completa quando cada ser humano for senhor do seu destino, com suas próprias escolhas.
Ser livre é um desafio eterno de responsabilidade, com múltiplas faces e dimensões.

Qual a origem das nossas decisões?

Como gerimos as influências externas?

Como neutralizamos impulsos e limitações da nossa própria natureza?
Questões clássicas sobre liberdade.

Retirar do liberalismo esse espírito fundamental para se restringir a um receituário econômico é como carregar uma carcaça sem vida.

Empobrece a própria natureza humana.

Recuperemos os clássicos. Não os atrasados, mas os pioneiros.
Indivíduo. Liberdade.

Dois belos conceitos modernos que mudaram o mundo para sempre.

Antes de trazer meia dúzia de propostas econômicas e falar sobre liberalismo clássico, separe um tempo e recupere a reflexão sobre essas duas palavras.

Indivíduo! Liberdade!
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